Rio Preguiças

Lençóis Maranhenses – Passeio náutico pelo rio Preguiças

Principal via fluvial da região, o rio Preguiças é um meio de vida e subsistência para o município de Barreirinhas e outros povoados e comunidades ribeirinhas. Segundo os moradores mais antigos, o nome “preguiças” foi dado devido aos animais que habitavam as matas às margens do rio e em referência à lentidão em que correm as suas águas. Com nascente no povoado de Barra da Campineira, o rio Preguiças percorre mais de 120 km até desaguar no Oceano Atlântico, no povoado de Atins. Para os turistas, o passeio de barco no rio é uma boa opção para conhecer a região dos Pequenos Lençóis.

Reserva de passeio ou atração

Para viajar com tudo já planejado e garantir a vaga, o ideal é fazer a reserva online com antecedência do Tour de lancha pelo Rio Preguiças. Como tem duração de quase 8h, o passeio leva o dia inteiro e não pode ser combinado com outros. Para mim, que fiquei hospedado na Pousada Sossego do Cantinho, que fica do outro lado do rio, o passeio começou com o dono da hospedagem nos levando de lancha até o Restaurante Terral, onde já nos esperava um veículo da agência. Rapidinho chegamos no escritório, que possui uma área de espera com jardins nos fundos, onde fica o porto de onde sai a lancha.

Lancha rápida que faz o passeio
Lancha rápida que faz o passeio

Chegamos lá alguns minutos antes do horário de saída, então aproveitei para perguntar ao guia quantas pessoas estavam agendadas para o passeio e qual seria o nosso barco. Não era uma mera curiosidade. O fato é que eu já aproveitei as informações para calcular onde sentar, porque sou desses que fica esperto para ser o primeiro a entrar e escolher o melhor lugar. Percebi que teríamos lotação total. Decidi que não ficaria nas duas primeiras e nem das duas últimas poltronas, que ficam mais expostas ao sol. Além disso, algumas fileiras eram de três pessoas, mais apertadas do que as de duas. Escolhi ir na segunda fila, que estava coberta pelo toldo, permitia uma vista boa da frente do barco e era de duas pessoas – eu e meu namorado, com um corredor de passagem no meio. Ou seja, o melhor lugar. Distribuídos os coletes salva-vidas, já me posicionei estrategicamente para ser o primeiro a entrar, mesmo que para isso tivesse que distribuir voadoras. Digo apenas que tive sucesso nos meus objetivos.

Barreirinhas vista do rio
Barreirinhas vista do rio

O passeio saiu com alguns minutos de atraso, pouco depois das 8h30. A lancha rápida, conhecida como lancha voadeira na região, ainda passou para pegar um casal que se encontrava em um hotel mais à frente com um pier. Essa primeira parte o barco vai mais lentamente e dá para observar a cidade de Barreirinhas de um outro ângulo.

Vegetação às margens do rio Preguiças
Vegetação às margens do rio Preguiças

No primeiro trecho, seguindo o rio Preguiças, observando a bela vegetação de manguezais e igarapés. Entre as palmeiras, há muitos buritis, açaís e palmitos jussara. Algumas curiosidades sobre o buriti: é uma palmeira arborescente que pode atingir até 40 metros de altura, com 13 a 55 diâmetro; o adulto possui de 20 a 30 folhas; existem buritizeiros machos e fêmeas – ambos produzem flores, mas só as fêmeas dão frutos; as palhas são muito utilizadas na região para a fabricação de artesanatos e na construção de casas, cercas e móveis; estima-se que 80% das pessoas de Barreirinhas dependem das frutas, fibra e palha do buriti de alguma maneira.

Atalho aberto para a passagem do rio
Atalho aberto para a passagem do rio

Pegamos um atalho originalmente aberto pelos escravos nos tempos do Brasil colônia. À época, o canal era bem estreito, suficiente para a passagem de canoas. Com a correnteza e a variação do nível das águas, as margens ficaram cada vez mais afastadas, possibilitando a passagem de embarcações maiores.

Macaquinho no povoado de Vassouras
Macaquinho no povoado de Vassouras

Após cerca de 40 minutos de passeio, chegamos à primeira parada: Vassouras. O nome do povoado vem da vegetação rasteira de flor amarela que predominava na região antes do avanço das dunas dos pequenos lençóis. Essa região continua a ser muito frequentada pelos pescadores como ponto de apoio para as suas atividades cotidianas. É essa gente simples que recebe os turistas em cabanas cobertas com palha de buriti. Nós paramos no Barracão da Graça, onde a grande diversão foi observar e interagir os macaquinhos que pareciam crianças endiabradas mexendo em tudo – é preciso tomar cuidado com os objetos soltos, pois eles pegam e levam qualquer coisa que lhes desperte o mínimo de interesse, inclusive abrindo as bolsas. O maior objetivo deles é, entretanto, conseguir seduzir as pessoas a lhes alimentar. Ali não há nenhuma preocupação em não dar comida aos animais selvagens. A barraca até vende pequenas cestinhas com bananas cortadas, o que deixa os pequenos capetinhas enlouquecidos – mas não tanto quanto os turistas, que disparam milhares de fotos.

Geradores de energia eólica
Geradores de energia eólica

Ficamos lá por cerca de meia hora. Depois de interagir um pouco com os bichinhos, subimos por uma duna que fica atrás da barraca, de onde tivemos uma bela vista dos morros de areia, uma lagoa que ainda estava cheia e os grandes aerogeradores do parque eólico de produção de energia ao fundo. Percebi que algumas pessoas do grupo nem chegaram a ver as dunas de areia, o que achei uma oportunidade perdida, pois gastar 30 minutos vendo os macaquinhos me pareceu um tanto exagerado. A barraca tem ainda como destaque uma lojinha de artesanatos e a venda de água de coco bem gelada. Também aproveitei a parada para usar o banheiro, já que nunca se sabe exatamente o que vamos encontrar no resto do dia.

Dali saímos, respeitando os lugares do barco que foram escolhidos no primeiro trecho. Esses passeios turísticos possuem uma regra psicológica de que, uma vez definida as posições no início do passeio, elas serão mantidas até o resto do dia. Por isso é importante lutar bravamente pelas melhores posições logo na largada, risos.

Ilha de Mandacaru
Ilha de Mandacaru

O trecho de Vassouras até a Ilha de Mandacaru é bem curtinho, sendo percorrido em menos de 15 minutos. Essa comunidade de pescadores também teve seu nome dado devido à vegetação presente na região. O mandacaru é um cacto cuja denominação veio do tupi mãdaka’ru ou iamanaka’ru, que significa “espinhos agrupados danosos”. A planta pode atingir até seis metros de altura e as flores, brancas e muito bonitas, desabrocham a noite e murcham ao nascer do sol.

Ainda do rio é possível avistar a atração principal dessa parada: o Farol da Preguiças, que se destaca da paisagem com seus 35 metros de altura – 46 metros em relação ao nível do mar. A caminhada do cais até o farol é bem tranquila, passando por vendinhas de sorvetes, cocadas e artesanatos locais, dos quais se destacam as bio-jóias e tiaras para cabelo.

Lojas da Ilha da Mandacaru
Lojas da Ilha da Mandacaru

O litoral maranhense é conhecido pelo mar traiçoeiro, correntes fortes e relevo submarino irregular. O primeiro farol do local foi construído para orientar as embarcações provenientes de São Luis e Tutóia. Até hoje, o transporte marítimo é o mais barato e importante da região. A estrutura metálica projetada por Mitichell possuía 28 metros de altura e um equipamento de luz incandescente fabricado no Canadá, alimentado por gás acetileno, tendo sido um dos primeiros do Brasil a utilizar um sistema desse tipo. Sua inauguração se deu em 1909 e, meio século depois, a estrutura corria o risco de desabar. Como qualquer reparo serviria apenas para prolongar por alguns anos sua vida útil, decidiu-se por abandonar a velha estrutura e construir uma nova, de concreto.

Farol da Ilha de Mandacaru
Farol da Ilha de Mandacaru

Foi usado como modelo a torre do farol de Mostardas, no Rio Grande do Sul, com sete metros a mais do que a torre anterior. Assim que ficou pronta, a torre herdou o aparelho de luzes do farol antigo, considerado um dos mais perfeitos da costa brasileira àquela época. Para desempenhar seu serviço, o faroleiro precisava subir várias vezes por dia até o topo transportando óleos lubrificantes e materiais de limpeza, realizando lá em cima faxinas, inspeções e vigílias. Para seu conforto, foi construído um elevador manual capaz de içar até duas pessoas, um luxo que não será experimentado pelos turistas, que precisam subir os 160 degraus para ter acesso ao observatório de 360° no topo.

Vista do farol da Ilha de Mandacaru
Vista do farol da Ilha de Mandacaru

O nosso guia disse que a quantidade de pessoas dentro do farol era controlada, mas não vi ninguém na porta. A escada em caracol é espaçosa e com degraus largos, bem mais tranquilo de subir do que muitas torres que já visitei em outros lugares. Eu sempre subo em todas as torres que posso, pois gosto d a vista que proporcionam. Ainda assim, a escalada pode ser um pouco cansativa para as pessoas menos preparadas. Sem problemas, já que é possível fazer paradas nos andares intermediários sem atrapalhar o fluxo de pessoas. Lá de cima, a vista mais bonita é a voltada para o rio, as dunas e o mar ao fundo. Ao todo, a parada na ilha foi de cerca de 35 minutos.

Encontro do rio com o mar na Praia de Caburé
Encontro do rio com o mar na Praia de Caburé

Dali gastamos mais uns dez minutinhos na lancha até a Praia do Caburé, uma península entre o rio Preguiças e o mar. Caburé é uma espécie de coruja que ainda habita a região. O guia perguntou ao grupo se havia alguma preferência entre os cinco restaurantes da praia. Alguém disse que tinha sido recomendado a Cabana do Peixe, então paramos lá para almoçar e passar a maior parte do tempo do passeio.

Assim que chegamos, fomos abordados pelo pessoal que aluga quadriciclos por 30 ou 60 minutos, para uma ou duas pessoas. Eu não quis fazer o passeio, que é pago à parte. De qualquer maneira, a primeira coisa a fazer é consultar o cardápio e escolher o prato do almoço, já que o preparo pode ser demorado. Escolhemos comer a Peixada, que vinha com algumas postas de peixe e camarões. Combinamos com o atendente que iríamos dar uma volta e comer dali a 40 minutos.

Conchinhas da Praia de Caburé
Conchinhas da Praia de Caburé

Nesse tempo, resolvemos fazer uma caminhada na beira do mar. A praia ali é tomada por conchinhas, um verdadeiro paraíso para quem gosta de colecionar. Acabei decidindo não entrar na água, apesar das opções do mar, piscinas naturais formadas na praia e o rio, que é um pouco perigoso por ficar profundo rapidamente e ter a correnteza forte nesse ponto. Depois de dar uma volta para reconhecer o terreno, voltei para o almoço. A peixada estava gostosa e muito farta – dava tranquilamente para três pessoas. Só não gostei de os camarões virem com casca e sem limpar a tripa, o que eu acho bem nojento. Me concentrei em comer o peixe e tomar um suquinho de caju.

Peixada da Cabana do Peixe
Peixada da Cabana do Peixe

Depois do almoço, todo mundo foi relaxar nas redes que ficam ao lado da cabana. Eu li um pouco do livro que levei no celular, mas também acabei cedendo ao sono – depois de comer, com aquele calor, bate mesmo uma lombeira incontrolável. O tempo passou rápido e logo deu a hora de pegar a lancha para fazer o caminho de volta. O retorno é direto e demora cerca de uma hora, nos deixando na agência. De lá, no levariam de carro até a beira do rio, mas é tão pertinho que dispensamos e fomos a pé. Ali, o Mikael, da Pousada Sossego do Cantinho, foi nos buscar de lancha para nos levar até a hospedagem.

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