Como eu ia passar só uma tarde e um dia na cidade de Puno, resolvi deixar os passeios que eu queria fazer já marcados. Para isso, pesquisei na internet e escolhi a agência Titicaca Tour, já que achei as informações na página deles bem claras e inspirou confiança. Imagino que seja possível achar preços melhores ou pechinchar se deixar para reservar pessoalmente, mas eu tenho preguiça desse processo de negociação para obter uma vantagem que nem é tão significativa, já que esses passeios já são baratos. Fiz o contato por e-mail e a reserva dos passeios pelas Islas Flotantes Uros e Sillustani foram confirmadas após pagamento por Paypal. Outra possibilidade é fazer a reserva online já com os preços em reais.

Para esse passeio pelas Ilhas Uros, a empresa tem horários diversos. Escolhemos fazer de manhã, pois a visita a Sillustani seria à tarde. Como havia sido combinado, a van da empresa nos buscou na porta do hotel pouco antes das 9 horas e seguimos com destino ao porto de Puno que fica bem pertinho, uns cinco minutos de carro. O nosso grupo era pequeno e o barco ficou com a maior parte das poltronas vazias. Ali tivemos que preencher um formulário simples indicando nome, idade, passaporte e nacionalidade. É apenas um controle da tripulação do barco e ninguém confere os documentos, obviamente.

Logo partimos e a minha percepção foi que o Lago Titicaca nessa região não é tão bonito quanto a parte que visitamos em Copacabana, na Bolívia. Lá a água era bem azul e limpinha, formando praias em alguns pontos da margem. Já nessa parte próxima a Puno, indo em direção às ilhas Uros, a vegetação é bastante marcante, formando um corredor extenso por onde passa o barco. A água é mais esverdeada e opaca. Tem sua beleza, sem dúvida, mas às vezes dá aquela sensação de água parada e suja.

Essas plantas, chamadas totoras, são utilizadas pelos moradores locais para a construção das suas ilhas, casas e barcos, além de servir como alimento. Acredita-se que os uros foram um dos mais antigos grupos étnicos a povoar a região do altiplano andino, onde sobreviviam da pesca e da caça de aves. Esse grupo preferia se manter afastados das civilizações das terras, vivendo em balsas primitivas feitas de totora. Posteriormente, começaram a construir pequenas ilhas artificiais com o material. Quando foram conquistados pelo Império Inca, passaram a pagar impostos e chegaram a ser escravizados.
Atualmente, as ilhas flutuantes se encontram a cerca de 7km da cidade de puno e chegamos lá uns 30 minutos após deixar o porto. Quase chegando, já podemos ver outros turistas fazendo o passeio nas balsas.

Cada uma das dezenas de ilhas flutuantes é habitada por três a dez famílias, cujos membros (principalmente mulheres), recebem os visitantes. Eles ajudam a atracar o barco à ilha e desembarcamos, com uma sensação um pouco estranha de pisar em um solo fofo, mas extremamente estável. Aliás, não dá mesmo para perceber que se trata de uma ilha artificial e flutuante, já que não há movimentação ou instabilidade.
A construção das ilhas é feita tecendo as totoras para formar grandes blocos que são amarrados uns aos outros. Por cima dessa base, são espalhados pedaços menores que formam o “solo” onde pisamos. Com o tempo, essa base vegetal fica muito encharcada e comprometida. Por isso as ilhas tem um tempo de validade de alguns anos e é preciso sempre renovar as construções.

Assim que desembarcamos, nos sentamos para ouvir sobre a história e os costumes dos moradores. Eles usam uma maquete nas explicações, de maneira didática. Também podemos experimentar o sabor da totora e uns pães assados na hora. Além da pesca e caça, agora eles compram produtos na cidade para complementar a alimentação. Ali ficamos sabendo de detalhes de seu dia-a-dia, como o costume de cozinhar do lado de fora da casa e os cuidados para evitar incêndios. Tudo isso pode ser observado na excursão às ilhas dos Uros, que é feita em grupo e tem preço bastante acessível. Já quem quiser ter uma experiência mais completa, é possível fazer a excursão privada de 2 dias às ilhas dos Uros, que inclui a passar uma noite no local.
Graças a essas famílias que ainda vivem nas ilhas e mantém a tradição, podemos ter uma ideia de como era a vida dos uros antigamente. Mas é claro que, assim como nós, eles se adaptaram e agora têm mais conforto. A subsistência e troca deram lugar ao trabalho com a venda de artesanato para os turistas e as famílias buscam oferecer aos filhos uma educação formal, enviando-os a Puno. A gente chega a desejar que eles fossem mais isolados do mundo, sem essas placas de captação de energia solar, que não condizem com o restante do cenário. Mas é puro egoísmo nosso, já que isso representa uma melhora de vida e conforto para essas famílias. É uma pena que a tendência seja a diminuição e possível desaparecimento dessa sociedade caso as gerações futuras decidam ir morar no continente.

Depois dessa parte, somos convidados a conhecer uma das casas de um cômodo, também construídas com a planta aquática. Eles nos encorajam a experimentar as roupas e acessórios usados por eles e aproveitamos para tirar fotos devidamente caracterizados. Obviamente que o objetivo ali é vender os produtos, que incluem toucas, bolsas e vários souvernirs como chaveiros e coisas do tipo. A maior parte é feio e/ou extravagante demais até para ser comprado por caridade. Nada contra, até tenho amigos que usam. Mas tem umas toalhas e tapetes bordados à mão que realmente são bem bonitos para quem gosta de temas regionais. No entanto, não comprei porque achei muito caro.

A próxima etapa é o passeio em uma dessas balsas tradicionais, feitas do mesmo material que as ilhas e ornamentadas com figuras de animais. Essa parte é opcional e não está inclusa no preço pago à agência. Quem preferir, pode seguir até a outra ilha no mesmo transporte que veio de puno. Como já estávamos lá, resolvemos ter a experiência completa e demos o dinheiro a um dos moradores da ilha – o valor pode variar de acordo com a negociação, mas como era barato, eu nem pedi para baixarem o preço. A gente fica com dó das pessoas vivendo naquelas condições e sabemos que eles dependem do turismo para ter mais conforto, então não acho que vale à pena economizar uma mixaria sem necessidade. Faz mais diferença para eles do que para a gente.
Entramos no barco e as mulheres cantaram uma música para se despedir. Embora seja interessante, essas manifestações soam um pouco forçadas, feitas para agradar o turista. Não sei exatamente qual era o idioma, pois a língua materna dos uros, chamada puquina, já está extinta. Isso é compreensível, já que o povo uro não possuía forma escrita e, consequentemente, não deixaram registros de seu vocabulário. Hoje eles se comunicam, principalmente, em aymara, quechua e espanhol, mas existem outros idiomas com número pequeno de falantes. Acredita-se que uros provém da espressão aymara qhana uru. Qhana quer dizer claro e uru significa dia. Portanto, dia claro.

Algumas das mulheres embarcaram com a gente – uma delas foi remando, o que eu imagino que deva dar muito trabalho) eventualmente ela foi substituída por outro homem, também nativo) enquanto a outra ficou bordando. As crianças insistiram para ir junto e ficaram aprontando no barco, subindo onde não deviam, com suas carinhas cheias de catarro escorrido. Obviamente isso rendeu cenas bem mais espontâneas, com a mãe tentando controlar os capetas os filhos.

A última parada foi em outra ilha flutuante. Essa parecia bem mais comercial, com barraquinhas vendendo produtos e casas maiores. Não sei se era o caso, mas tem algumas das ilhas que possuem hospedagem para quem quer passar a noite. Como eu não estava afim de comprar nada, fiquei andando por ali e tirando fotos das esculturas de totora. Depois de alguns minutos, pegamos o barco de volta para Puno. Na chegada a van não estava por perto, então o guia nos colocou em um taxi (eles devem ter algum tipo e parceria), que nos levou de volta para o hotel já na hora do almoço.