Muitas pessoas passam rapidamente por Manaus, usando a cidade apenas como posta de entrada para as hospedagens na selva. A verdade é que a capital do estado também tem atrativos muito interessantes, inclusive navegações a pontos próximos que proporcionam experiências parecidas com as da floresta. Mas também vale a pena dar uma volta pelo centro histórico.

Uma boa dica é fazer o tour pela cidade, que passa pelos lugares mais emblemáticos com explicações que ajudam a entender melhor como a metrópole se desenvolveu e sua ligação direta com os povos indígenas. Ainda é possível incluir um passeio de lancha pelos rios Negro e Amazonas, com visita a uma comunidade ribeirinha.
Quem tem mais tempo livre ou prefere ter total liberdade para criar o roteiro pode fazer o passeio por conta própria. O mapa interativo acima, no qual marquei todos os lugares por onde passei, pode ajudar no seu planejamento. Só acho importante destacar que eu fiz isso em mais de um dia. Além disso, faz um calor intenso o ano inteiro e a caminhada nas ruas acaba sendo cansativa.

Seja com um passeio guiado ou por conta própria, é preciso pesquisar as opções de hospedagem que melhor se adequam às suas necessidades. Eu acabei experimentando dois lugares, já que dormi na cidade antes e depois do passeio na selva amazônica e das cachoeiras. O Hotel Adrianópolis All Suites tem apartamentos espaçosos com cozinha compacta. Já o Blue Tree Premium é um hotel mais tradicional. Ambos oferecem muito conforto e se encontram em um bairro moderno e seguro.

Como me hospedei a cerca de 3,5 km do centro, peguei um Uber até lá para começar a caminhada. O principal ponto de referência é o Teatro Amazonas, inaugurado em 1896 para satisfazer os anseios da elite local por um espaço cultural aos moldes das capitais europeias. A casa continua recebendo espetáculos de música, dança e teatro, entre outros eventos diversos. Vale a pena conferir a programação durante a sua estadia.

Muitas pessoas acabam vendo o prédio somente do lado de fora. Eu recomendo fazer a visita guiada paga, uma ótima oportunidade para conhecer um pouco mais sobre a história do teatro e da cidade como um todo, já que o espaço representa bem como se organizava a sociedade à época. Durante uma hora, passamos pela sala de espetáculos, salão de eventos, exposição de objetos, corredores e escadarias.

O famoso edifício fica no Largo de São Sebastião, construído durante os avanços econômicos do ciclo da borracha. O piso da praça mostra ondas brancas e pretas, uma referência ao encontro do rios Negro e Solimões, cujas águas correm próximas sem se misturarem. Se você achou parecido com o calçadão da praia de Copacabana, saiba que ambos são inspirados em um estilo surgido em terras portuguesas.

O largo leva o nome da Paróquia de São Sebastião, uma das igrejas mais antigas da cidade. Sua história tem início em 1859, quando existia uma capela dedicada ao santo em outro ponto da cidade. Décadas depois, foi erguida a nova estrutura, com inauguração em 1888. Vale a pena dar uma entrada para conferir a decoração interior, com mármores, pinturas, imagens e vitrais ricos em detalhes.

Há diversas opções gastronômicas em volta do largo, mas o que mais se destaca é o Restaurante Caxiri, que traz releituras contemporâneas de pratos e ingredientes regionais. O foco é na culinária indígena e no uso de plantas alimentícias não convencionais. Embora ele abra na hora do almoço, eu preferi não interromper o passeio e deixei para voltar a noite para um jantar.

Atrás do teatro fica o Centro Cultural Palácio da Justiça, que recebe exposições, espetáculos musicais, teatro, dança, cinema e palestras. O edifício foi inaugurado em 1900 como sede do judiciário e possui arquitetura clássica com elementos do estilo renascentista.

Essa área é repleta de construções antigas, muitas delas transformadas em hospedagens. Um exemplo é o Hotel Casa Perpétua, cuja fachada me chamou a atenção quando estava passando pela rua. Mas o mais bem avaliado dessa região é o Hotel Villa Amazônia, que reune arquitetura histórica e sofisticação.

Outra dica para comer ali pertinho é o Angatu Café, que tem uma ambiente super agradável. Obviamente que essa região central também tem muitos prédios e casas antigas que não estão em boas condições. Ainda assim, vale a pena andar pelas ruas com um olhar atento para identificar os pontos mais interessantes. Eu, por exemplo, gostei muito de alguns murais em grafitti que ficam nas fachadas dos prédios mais altos, mas também em paredes aleatórias.

Outro atrativo de destaque próximo é o Museu Casa Eduardo Ribeiro, antiga residência do ex-governador, que conta com uma exposição de móveis de época, objetos pessoais e obras de arte. Nas manhãs de domingo, acontece a Feira de Artesanato da Avenida Eduardo Ribeiro, com várias barracas de artesanato e comida. Eu desci por essa via em direção à Praça XV de Novembro, onde fica a Catedral Nossa Senhora da Conceição.

A Catedral de Manaus, como é mais conhecida, foi inaugurada em 1877, mas remonta a uma capela construída em 1695 pelos missionários carmelitas. Como a cidade é praticamente toda plana, a igreja encontra-se em destaque por estar em uma pequena elevação. O local já recebeu a visita da família imperial brasileira e, décadas depois, do Papa João Paulo II, em 1980.

Em frente à praça fica o Relógio Municipal, uma pequena torre de arquitetura neoclássica que foi instalada no local em meados do século XX como parte do programa de embelezamento do centro. O mecanismo foi importado de uma relojoaria suíça. Em seu contorno há a frase em latim “vulnerant omnes, utlma necat”, que pode ser traduzida para o português como “todas ferem, a última mata”. A ideia é que tudo tem tempo para acabar, até mesmo a vida.

A fachada principal do relógio está voltada para o Marco Zero de Manaus e, atrás dele, o Rio Negro. Ali fica o maior porto flutuante do mundo, que atende às cidades do interior e outros estados da região. Circulam por ali barcos de passageiros e mercadorias, além de grandes navios de cruzeiro de várias partes do mundo. A estrutura foi planejada pelos ingleses e inaugurada em 1907, quando a cidade vivia o auge do ciclo da borracha.

Construído na mesma época, o prédio da Alfândega apresenta tijolo aparente e blocos pré-montados importados de terras inglesas. Ao seu lado, a estrutura destinada ao policiamento fiscal dos portos e a bordo dos navios segue o mesmo estilo. Também há um farol que, à época, funcionava com uma iluminação de arco voltaico de grande intensidade e orientava a navegação.

Dali dá para fazer uma caminhada rápida até a Praça Dom Pedro II, ao redor da qual estão alguns empreendimentos importantes como o Palácio do Rio Branco, onde há uma exposição permanente da era colonial; o Museu da Cidade, com exposições interativas sobre a cultura e história locais; e o Casarão da Inovação Cassina, que mistura a fachada antiga com uma arquitetura contemporânea na parte interna.

Dessa praça parte a Rua Bernardo Ramos, uma das mais antigas e bonitas vias públicas de Manaus. A caminhada curtinha e bastante agradável, já que foi mantido o calçamento de pedra original, árvores frondosas garantem sombra para o calor escaldante da cidade e as construções históricas coloridas que criam um belo cenário. Por ali estão alguns atrativos como o Centro Cultural Óscar Ramos e o Biatüwi – Casa de Comida Indígena, primeiro restaurante com foco na culinária dos povos originários da região.

Para quem gosta de conhecer os produtos locais, também vale a pena visitar o Mercado Municipal Adolpho Lisboa. A estrutura de ferro fundida foi projetada pelo menos engenheiro responsável pela Torre Eiffel. O mercadão, como é conhecido, foi inaugurado em 1883 e é, ainda hoje, um dos mais importantes espaços de comercialização de alimentos e artesanatos amazonenses.

Aproveitei que estava por ali e passei também na Feira Manaus Moderna, onde é possível encontrar vários produtos da culinária amazônica como farinhas de todas as texturas e cores, grande variedade de peixes frescos, tucumã, pupunha, pimentas e outros. Esse mercado não é tão voltado para os turistas, sendo muito frequentado pela população local. Por isso mesmo, é bem autêntico.

Manaus é uma cidade muito grande e seus atrativos ficam espalhados, incluindo praias de água doce, reservas florestais, comunidades nativas, restaurantes de comida típica, museus e outros. Para ir aos pontos mais distantes, recomendo alugar um carro ou pedir motorista de aplicativo. Saindo do centro histórico, visitei alguns outros pontos interessantes.

Ao contrário do que muitos pensam, durante os passeios na floresta amazônica não é possível ver tantos animais. Por isso, resolvi conhecer o Zoológico do CIGS, criado em 1967 como apoio ao curso de formação de guerreiros de selva. O espaço foi aberto ao público dois anos depois e passou por reformas e readequações ao longo dos anos. Atualmente, ocupa uma área com 45.000 m2 e tem boa parte de vegetação preservada, contando com mais de mil animais – além dos que visitam a área livremente.

O Musa – Museu da Amazônia fica a cerca de 20 quilômetros do centro da cidade, mas é um ótimo passeio para quem quer ter um gostinho da selva amazônica sem sair da cidade. O parque possui trilhas em uma grande área de reserva florestal; espaços dedicados a ver e aprender sobre a fauna e flora locais; exposição de fotos dos povos indígenas; e uma torre de observação com 42 metros de altura que ultrapassa a copa das árvores, garantindo uma ótima vista.

Para quem quer tomar um banho de água doce, a Praia da Ponta Negra é uma das mais famosas da capital, podendo ser frequentada durante todo o ano. Quando eu passei por lá, havia muitos moradores e turistas se refrescando do calor. O espaço conta com várias barracas de praia e os preços não são abusivos.

A orla é urbanizada e possui um calçadão, quadras de esporte, mirantes com vista para o Rio Negro, praça com chafariz e espelho d’água, área de lazer, restaurantes e quiosques, entre outras estruturas. Destaca-se a estrutura do Anfiteatro da Ponta Negra, onde são realizadas apresentações musicais, espetáculos teatrais e outras atrações culturais diversas.

Como fiquei poucos dias na cidade, não consegui visitar muitos de seus atrativos e alguns eu só passei na porta. Ainda assim, acredito que consegui ter uma boa visão de Manaus antes de partir para a hospedagem no Dolphin Lodge para fazer uma imersão na floresta, com saída a partir do Porto do Ceasa. Também passei alguns dias em Presidente Figueiredo, conhecida por suas cachoeiras e trilhas.