Eu andei pelo centro histórico da cidade durante o dia e não queria interromper os passeios para um almoço mais longo. Com isso, preferi voltar mais tarde para comer em um estabelecimentos mais celebrados da região. Trata-se do Restaurante Caxiri, que leva o nome de uma bebida ancestral utilizada em rituais indígenas, permitindo ao pajé o acesso ao mundo sobrenatural.
Ambiente ★★★★☆
O espaço é comandado pela chef Débora Shornik, paulistana que se redescobriu ao visitar a região, se apaixonando pelas sabedorias vindas da terra, da água e dos povos nativos. Essa mistura transparece no ambiente sofisticado, certamente voltado para um público mais endinheirado, seja da população local ou aqueles que visitam Manaus vindo de outros lugares do país e até mesmo do exterior.
Mas ali também estão elementos da tradição local, seja por funcionar em um charmoso casarão ao lado do Teatro Amazonas, seja na parte da decoração que usa elementos naturais para criar um clima agradável. As plantas trazem vida ao local, mas aparecem também nos pratos servidos com flores e outras pancs – plantas alimentícias não convencionais.
Serviço ★★★☆☆
Como eu sabia que o Restaurante Caxiri é bastante procurado, fiz uma reserva e cheguei perto do horário de abertura. Logo depois o salão estava todo ocupado. Ainda assim, o atendimento foi mais ágil, mas achei os funcionários formais e distantes, sem o acolhimento que é característico da região. A sensação que eu tive é que a preocupação é mesmo em oferecer um serviço eficiente, com o diálogo se limitando ao mínimo possível.Ainda com relação ao serviço, vale a pena conferir a página oficial para conhecer previamente os pratos, além de acessar informações importantes como os dias e horários de funcionamento.
Preço ★★★☆☆
Com relação aos valores cobrados, já era de se imaginar que esse não seria um restaurante barato. Mas isso se justifica por diversos fatores, como a qualidade dos produtos, o tamanho da equipe por trás do serviço e o próprio estilo do estabelecimento.
Comida ★★★★★
O cardápio do restaurante traz um glossário com a lista dos ingredientes que os clientes podem desconhecer, resolvendo possíveis dúvidas na hora de fazer o pedido.
É justamente com esses produtos inusitados que o cardápio se torna interessante, respeitando a sazonalidade da floresta para a elaboração dos pratos. Apesar disso, não se trata de uma comida típica. É mesmo uma cozinha autoral, brilhando com versões contemporâneas da gastronomia amazonense.
Eu comecei pedindo um suco de cubiu com acerola. A primeira é uma fruta encontrada em toda a região amazônica, sendo muito usada em bebidas, compotas e cozidos de peixes. Como eu provei ela misturado com a acerola, não sei exatamente qual é a sua aparência e gosto. Pelo que pesquisei, parece um tomate, mas com um sabor que mistura doce e azedo. Além de ser rico em vitaminas e minerais, possui propriedades antixoxidantes e anti-inflamatórias.
De entrada foram seis unidades de pasteizinhos de vatapá com vinagrete de banana e pimenta murupi. Eu adoro um pastel de feira e aqui ele ganha um recheio cremoso de camarão muito gostoso, combinando bem com os acompanhamentos.
Meu prato principal foi a carne de sol chamuscada na churrasqueira, purê de batata e puxuri, chaya refogada, abacaxi grelhado e farofa de uarini. O puxuri é uma semente usada tradicionalmente para tratar problemas estomacais, mas aparece na culinária como um tempero que lembra a noz moscada. A chaya é uma folha que lembra a couve e o espinafre. E o uarini é uma farinha de mandioca mais grossa e crocante, com bolinhas que lembram pequenas ovas de peixe pelo seu formato.
Para a sobremesa, fui de surpresa de tucupi, um sorvete com castanha caramelizada e calda de tucupi negro. O líquido é extraído da mandioca e adquire a cor negra após passar por ter um cozimento mais intenso que a versão amarela, concentrando mais o sabor.
Resumo ★★★★☆
Provar as bebidas e pratos do Restaurante Caxiri foi, do começo ao fim, uma experiência gastronômica cheia de descobertas. Provei vários ingredientes que eu não sabia sequer existirem, literalmente tendo que ler o glossário para entender do que se tratava. Mas, mais importante que isso, com um ótimo resultado para o paladar.
Viajento 