Durante a minha estadia em Diamantina, reservei um dia para conhecer os atrativos dessa reserva natural. São diversas trilhas, cachoeiras, mirantes, poços, pinturas rupestres e uma isolada vila. O Parque Estadual Biribiri fica na parte central da Serra do Espinhaço e possui fauna e flora típicas do cerrado, incluindo espécies consideradas ameaçadas de extinção.

É possível explorar o local percorrendo o Caminho dos Escravos, usada originalmente para o escoamento de diamantes e abastecimento das vilas da região. O calçamento desse trecho da Estrada Real foi feito nos séculos XVIII e XIX e, como o próprio nome indica, utilizou a mão de obra de africanos escravizados que quebravam e carregavam as pedras enquanto estavam acorrentados. Eu fiz uma breve visita à parte recuperada junto à rodovia BR-367, de onde se tem uma bela vista da cidade.

Mas eu não tinha tempo e disposição no dia para percorrer os muitos quilômetros da trilha e preferi explorar o parque motorizado. Eu fui com meu veículo próprio, mas também é possível alugar um carro na cidade. É importante notar que, a partir do momento em que você entra na reserva, toda a estrada é de terra. Em dias de chuva, a lama pode dificultar e até mesmo inviabilizar a passagem, então é bom dar uma conferida antes na previsão do tempo.

O primeiro ponto que visitei foi o Mirante da Cruzinha, pouco mais de 2 km depois da entrada do parque. Parando na estrada, basta andar por menos de 100 metros por uma subida muito tranquila para alcançar um ótimo ponto de observação da paisagem. Assim como os outros atrativos que visitei, ali havia uma placa sinalizando o caminho.

Depois de tirar algumas fotos da vista, peguei novamente o carro e dirigi por uns 650 metros até o começo de outra pequena trilha que leva a um poço que, embora não seja um dos pontos mais interessantes dos passeio, eu resolvi conhecer pela facilidade de acesso. Como o caminho é bem marcado em meio à vegetação, não tem como se perder.

O objetivo é chegar até o Poço do Estudante, que tem uma água bastante escura devido aos componentes das rochas e do solo. Eu não quis entrar na água por ali porque queria conhecer outros pontos e ainda chegar cedo na vila, mas é uma opção interessante por ser mais isolado que as cachoeiras.

Depois de voltar pela mesma trilha e pegar o carro novamente, segui por mais 3 km e poucos até chegar a um estacionamento, facilmente identificável porque tinha bastante gente. Aliás, foi um dos pontos mais movimentados que visitei nesse dia, algo que não costumo gostar muito porque interfere no contato com a natureza.

Ali fica a Cachoeira da Sentinela, que possui diversas quedas. A menos movimentada e que eu achei mais gostosa de ficar foi a parte inferior, que possui um poço raso bem gostoso para o banho. Como era verão, achei a temperatura da água aceitável, mas imagino que seja fria demais para entrar no inverno – a não ser que se vá caminhando e chegue lá doido por um banho.

Mas a maioria das pessoas prefere subir para conferir a vista lá de cima. Não tem um caminho muito claro, mas basta seguir o movimento de pessoas ou o curso d’água. Eu achei a subida tranquila para quem está acostumado com esse tipo de passeio, sendo necessário tomar cuidado para não pisar em pedras soltas. De qualquer maneira, a distância é curta e havia alguns funcionários do parque ali para dar orientações e evitar acidentes.

Enquanto a parte inferior tem como vantagem as quedas d’água, lá de cima dá para tomar banho num poço que funciona como uma piscina infinita, com vista linda do parque. Embora muitos passem pelo local, nem todos animam a se molhar, então estava até tranquilo. Ao voltar para o estacionamento, dá para aproveitar para conhecer um dos pontos com pinturas rupestres da região.

Esse é o destino final para muitas pessoas que visitam o Parque Estadual Biribiri, já que a próxima parada fica a quase 6 km de distância dali. Eu segui com a exploração, sempre prestando atenção à sinalização, pois tem um desvio para a direita depois de 4 km. O estacionamento para a segunda cachoeira é bem menor que o anterior e, quando eu cheguei, haviam poucas vagas disponíveis.

Ali é preciso descer e continuar a pé. Eu aproveitei para dar uma olhada na Ponte Velha, que faz jus ao seu nome, já que está em péssimo estado. Como não é mais usada, a estrutura está desmoronando e a passagem por ela estava proibida, certamente pelo risco das pessoas se machucarem.

Do ponto onde parei o carro, a caminhada foi curta até a próxima queda d’água. A trilha não me pareceu tão bem demarcada, provavelmente porque circulam menos pessoas por ali, mas dava para ir na intuição seguindo o rio por pouco mais de 300 metros.

Por ficar mais distante da entrada do parque, a Cachoeira dos Cristais tinha bem menos gente. O interessante é que ela é bem maior que a anterior, com quedas e poços amplos. Isso permite que as pessoas fiquem mais espalhadas e possam formar grupinhos para curtir o local com mais tranquilidade, o que eu acho imprescindível nesse tipo de passeio pela natureza. Tanto quem vai de carro quanto quem faz a trilha inteira a pé deve levar bebidas e lanches, pois não há nenhuma estrutura de comércio pelo caminho.

A excessão é a vila de Biribiri. O nome vem do tupi-guarani biri, que repetido significa grande buraco. Os índios usavam essa palavra devido ao acidente geológico do local, com o rio passando entre as montanhas. Foi por esse potencial hidráulico que uma fábrica de tecido foi instalada ali em 1876, empregando moças pobres de Diamantina e região. No auge da produção, durante os anos 1950, a Companhia Industrial de Estamparia tinha 1200 funcionários e formava uma pequena vila com açougue, armazém, bar, quadra de esportes, refeitório, consultório médico, dentista, clube social, igreja, pensionato e casas de operários distribuídos em casarões coloniais pintados de azul e branco.

Após a fábrica ser desativada nos anos 1970 por motivos econômicos, a vila ficou praticamente abandonada. Mais recentemente, passou por um processo de revitalização e pode ser visitada pelos turistas mediante o pagamento de entrada. Além de passar o dia, é possível se hospedar na Pousada Vila do Biribiri, o que permite vivenciar melhor a vida no local e explorar com calma os muitos mirantes, trilhas e atrativos do parque.