Essa charmosa vila foi idealizada e criada por Dom João Antônio dos Santos, bispo de Diamantina, e sua família. Foi uma das primeiras comunidades fabris do estado de Minas Gerais e mantém, até os dias atuais, suas edificações muito bem conservadas. Em 1998, o conjunto arquitetônico foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG.

Para chegar até lá, eu usei meu próprio veículo, mas também é possível alugar um carro na cidade. Digo isso porque não sei se é possível ir até lá de transporte público e, de qualquer maneira, isso seria ruim porque se perderia a oportunidade de ver os atrativos que ficam pelo caminho – notadamente as cachoeiras do Parque Estadual Biribiri. Importante ressaltar que o trajeto é todo feito em estrada de terra e também é possível ir caminhando, mas são doze quilômetros da entrada da reserva até a comunidade.

Embora o parque possa ser visitado sem nenhum custo, é cobrado ingresso para a visitação da vila, pois trata-se de uma propriedade privada. Também existem regras próprias e os visitantes são autorizados a ficar por lá de 7 às 19h. Recomendo acessar a página oficial para ter informações atualizadas, inclusive sobre eventos realizados no local.

A Fábrica de Biribiri, que funcionava no ramo têxtil, foi criada com o objetivo de gerar emprego e renda para as pessoas desamparadas da região. O foco principal era nas mulheres, muitas delas órfãs. O maquinário foi adquirido nos Estados Unidos e transportado de navio para o porto do Rio de Janeiro, desceu de trem até Juiz de Fora, seguiu por jangadas em direção a Conceição do Mato Dentro e fez o último trecho do percurso em carros de boi. As atividades tiveram início em 1877, utilizando como força motriz a queda d’água do Ribeirão das Pedras.

No auge do seu funcionamento, a fábrica contava com seiscentos funcionários e a vila tinha geração de energia própria. Foram construídas ali diversas estruturas que permitiam que muitos deles morassem no local, como casas, armazém, escola, barbearia, igreja, clube e restaurante. Devido à impossibilidade de fazer adaptações físicas necessárias para modernizar a produção, a fábrica fechou em 1973.

Mesmo atualmente, a sensação que se tem é que a vila parou no tempo. Com poucas construções bem inseridas na natureza e um clima de paz, dá até vontade de morar lá. Se isso não é possível, recomendo pelo menos que se reserve um dia para dormir na Pousada Vila do Biribiri, pois assim é possível curtir melhor o local, sem a grande quantidade de turistas que fica por lá durante o dia.

Quando eu cheguei, por exemplo, já estava na hora do almoço e o Restaurante Biribiri tinha todas as mesas ocupadas e fila de espera. Quem se hospeda no local tem mais liberdade de horário, além de poder fazer trilhas para os mirantes e cachoeiras do parque. Eu cheguei a subir em um dos montes próximos para ter uma visão geral da região, mas teria explorado mais se tivesse tempo sobrando. A Cachoeira dos Cristais, por exemplo, fica a pouco mais de três quilômetros dali. Já a Cachoeira do Sentinela é um pouco mais distante, a uns cinco quilômetros de distância.

Ficar na Pousada Vila do Biribiri também te propicia vivenciar melhor a história da comunidade e a vida de seus moradores. No início da década de 1970, só moravam ali dois caseiros, um deles com mulher e filha, além de um vira-lata chamado Mequetrefe. Não à toa, era considerada uma cidade fantasma. Em 2013, devido aos altos custos de manutenção, a antiga fábrica decidiu vender todos os imóveis, mantendo apenas a igreja, a casa do gerente da fábrica e o galpão. O bom é que os novos donos estão empenhados em preservar o local e explorar seu potencial turístico. Foram mantidas as cores originais das construções de paredes brancas, com portas e janelas azuis.

Entre os atrativos, destaca-se a Igreja Sagrado Coração de Jesus. Cercada por palmeiras imperiais, ela foi erguida em 1876 com estilos rococó e eclético. Após ficar cerca de vinte anos fechada devido a riscos de desabamento, passou por reformas a partir de 2015. Entre o cercado que protege o templo e a porta de entrada, fica o único túmulo do vilarejo, pertencente a Joaquim Felício dos Santos, um dos fundadores de Biribiri. Também conhecido como Bambuzinho, o Clube de Biribiri foi construído em 1961 como um espaço de confraternização para os funcionários e moradores, sendo usado para festas, casamentos, batizados e aniversários. Eventos continuaram a ser realizados ali mesmo após o fechamento da fábrica.

Como o restaurante estava lotado, eu acabei indo para o Café Biribiri, que fica do outro lado da praça rodeada por casas e estabelecimentos. Ali são vendidos diversos produtos, incluindo bebidas, comidas e peças de artesanato. Eu sentei em uma das mesinhas na área externa e pedi porções de pão de queijo e fritas com linguiça artesanal, além de um doce de leite como sobremesa. Achei o atendimento muito demorado, mas acredito que seja por conta da quantidade de pessoas no local naquele momento.

O nome da vila vem do tupi-guarani e significa buraco fundo, o que faz sentido por estar localizada entre as montanhas, no leito de um curso d’água. Devido às construções e paisagens, o local tem despertado, ao longo de sua história, a atenção de produtores culturais. Ali foram gravados a novela Irmãos Coragem (1970) e filmes como Xica da Silva (1976), A dança dos bonecos (1986) e A hora da vez (2011). Também inspirou Helena Morley a escrever em seu diário de adolescente que “não teria pressa de ir para o céu se morasse em Biribiri”. Suas lembranças de juventude aparecem no livro Minha vida de menina, um campeão de vendas. Está nos planos que a vila ganhe um hotel, uma loja, uma vinícola e um museu.