Temporada: 1ª
Episódios: 8
Ano: 2021
Elenco: Guðrún Eyfjörð, Íris Tanja Flygenring, Ingvar Sigurðsson, Aliette Opheim, Valter Skarsgård, Aldís Amah Hamilton, Þorsteinn Bachmann, Sólveig Arnarsdóttir, Haraldur Ari Stefánsson, Björn Thors, Birgitta Birgisdóttir, Hlynur Atli Harðarson, Helga Braga Jónsdóttir e Björn Ingi Hilmarsson.
Quando me perguntam os lugares que mais tenho vontade de conhecer, a Islândia sempre aparece na lista. Enquanto a viagem não acontece, uma das formas de acesso à cultura local tem sido através do audiovisual. Dessa vez, assisti à essa série disponibilizada no Netflix e que passou despercebida por muitas pessoas.

Katla se passa um ano após o início da erupção de um vulcão, o que fez com que a maior parte da população de uma pequena cidade abandonasse o local, tomado pelas cinzas. As poucas pessoas que restaram enfrentam dificuldades para sobreviver ali, seja pelas condições extremas impostas pela natureza, por problemas de saúde, pelas limitações no trabalho ou por questões pessoais. Tudo se torna ainda mais complexo após uma estranha mulher sair nua da geleira e se identificar como alguém que havia desaparecido há vinte anos atrás. Os habitantes locais precisam desvendar o mistério, ao mesmo tempo em que são forçados a lidar com assuntos mal resolvidos do passado.

O nome da série é uma referência direta a um vulcão ativo. Embora não tenha tido nenhuma erupção violenta nos últimos cem anos – a mais recente foi em 1918 e durou vinte e seis dias – o Katla apresentou pequena atividade nos anos de 1955, 1999 e 2011. Um dos maiores vulcões da Islândia, ele atinge a altitude de 1.512 metros acima do nível do mar e sua caldeira tem diâmetro de 10 km, atualmente coberta por 200 a 700 metros de gelo. Trata-se de parte do Mýrdalsjökull, que pode ser livremente traduzido como “geleira do vale pantanoso”, o quarto maior glaciar do país, ocupando uma área de centenas de quilômetros.

Katla também é o nome de uma bruxa cruel que faz parte do folclore islandês. As histórias contam que seus poderes especiais estavam ligados às suas calças, que permitiam que ela corresse rápido como o vento. Certa noite, um fazendeiro local roubou a peça de roupa e a feiticeira logo se vingou, o assassinando e depositando seu corpo em uma piscina de água ácida usada para preservar alimentos. Eventualmente, as autoridades descobriram o crime e ela vestiu as calças e correu para as montanhas, se escondendo em uma câmara de magma que se tornou o vulcão. Já na série, é citado o mito da criança trocada – os chamados povos escondidos substituiriam pessoas por cópias mal-intencionadas, a releitura moderna de uma antiga lenda.

A ambientação complementa esse clima de mistério, apresentando uma região totalmente coberta por neve e pelas cinzas do vulcão. A falta de cores acaba refletindo o sentimento das pessoas que continuam na comunidade, cada uma lidando com problemas do passado e do presente. Embora a Islândia tenha paisagens incríveis, muitas das quais foram amplamente utilizadas durante as filmagens, o clima pode atrapalhar bastante o trabalho da produção. Por isso, as imagens externas, que reforçam a amplitude do espaço e reforçam a ideia de abandono e isolamento, exigem um grande esforço de planejamento e atenção.

Já as cenas internas passam a sensação de aprisionamento e foram feitas, principalmente, em cenários criados no RVK Studios, que fica nos arredores de Reykjavík e foi fundado pelo diretor da série, Baltasar Kormákur. Destaca-se a vida simples das pessoas, com o acúmulo de objetos do cotidiano em espaços pequenos, além da readequação de espaços – como a igreja que passou a ser usada como sede das autoridades policiais. Embora a narrativa esteja pautada em fatos ficcionais, muitas imagens foram feitas em locações reais, que podem ser facilmente visitadas pelos turistas.

Localizada na parte central da costa sul, Vík í Myrdal é um popular ponto de partida para passeios na região. Embora seja a maior comunidade em um raio de 70 km, a pequena cidade conta com menos de mil habitantes, chegando a ter dez vezes esse número de turistas. O local também é bastante visitado por geólogos e cientistas. Há várias opções de hospedagem por lá, já que é considerado o ponto mais quente do país, com uma temperatura média de 5°C. Com um clima subpolar oceânico, os invernos não são tão severos e os verões são agradáveis, embora durem pouco tempo. Obviamente, a paisagem real é bem mais convidativa que aquela mostrada na série, já que o vulcão não tem uma erupção significativa desde 1918.

É justamente por estar dormente há tanto tempo que se especula que o Katla pode acordar em um futuro próximo. O rápido aquecimento poderia causar uma inundação capaz de destruir toda a cidade. A igreja, que fica no alto de um morro, poderia ser a única construção a sobreviver no caso de tal tragédia e a população é treinada para correr até o local aos primeiros sinais de uma erupção. Menos dramáticos, os ciclos anuais de derretimento e congelamento criam túneis e cavernas que podem ser visitadas com o acompanhamento de um guia profissional, como no tour pela gruta de gelo do glaciar Kötlujökull.

Outro programa imperdível é visitar as praias, que se destacam pelas areias pretas e as formações rochosas. A dica é alugar um carro e dedicar alguns dias para explorar a região com calma. Além do mar na própria Vík, vale a pena ir até Reynisfjara, uma praia onde se destaca a encosta em basalto com colunas de formatos hexagonais, um efeito natural que ocorre quando a lava é resfriada rapidamente. Embora não apareça como um cenário central na série, também vale a pena mencionar o Reynisdrangar, coleção de pilares de rocha vulcânica que se destacam do oceano e aparecem como pano de fundo em cenas diversas. Diz a lenda que elas eram trolls que se aventuraram mar adentro para afundar um navio ou estavam trazendo suas próprias embarcações para a margem, mas gastaram muito tempo e foram transformados em pedra pelo sol.

Já na desolada área da praia de Sólheimasandur, encontram-se os restos de um avião abandonado há décadas atrás, bem próximo das águas. Trata-se da aeronave pertencente à marinha americana que ficou sem combustível ou teve problemas mecânicos durante um voo em 1973, levando a um pouso emergencial no local. A investigação posterior revelou que, na verdade, o piloto havia mudado manualmente para o tanque errado. Felizmente, todos sobreviveram. Outra forma de visitar esse e outros atrativos rapidamente é fazendo o tour de quadriciclo pela costa sul da Islândia, bom para quem busca aventura.

Já a balsa mostrada tantas vezes durante os episódios, embora seja realmente utilizada no sul do país em expedições turísticas, não é realmente necessária para chegar Vík í Myrdal. A ideia dos roteiristas é que a cidade teria ficado isolada devido ao acúmulo de cinzas, avalanches de material vulcânico ou enchentes decorrentes do desgelo do glaciar. Na verdade, é possível chegar lá de carro usando as estradas convencionais. Saindo de Reykjavík, a viagem deve durar cerca de duas horas e meia, sem contar as paradas para visitar os atrativos que ficam no caminho.

Por fim, outro elemento que achei bastante interessante foi observar um pouco do trabalho dos cientistas que estudam a região – seja explorando as cavernas formadas no vulcão, seja com o uso de equipamentos e análise de amostras no laboratório. Tudo isso é mostrado superficialmente, sem exagero de termos técnicos que deixariam a série chata. Além disso, há uma mistura de fatos reais com elementos de ficção científica, além do trabalho com as lendas e costumes locais.

Para quem gosta de viajar, também é possível aproveitar a estadia no local para observar o espetáculo de luzes da aurora boreal, ver o sol da meia-noite, curtir as mais espetaculares cachoeiras e lagos glaciais, aproveitar a vista do oceano com icebergs e observação da vida marinha, além de visitar outros atrativos no país. Enquanto não faz a viagem, dá para aproveitar a série como uma inspiração do que vai curtir no futuro, ainda que ela apresente uma alternativa um tanto apocalíptica da realidade. Vík í Myrdal é, na verdade, uma comunidade bastante agradável, com ótimas opções de hospedagem e paisagens lindas.