A fraternidade é vermelha

A fraternidade é vermelha ★★★★★

Título original: Trois Couleurs – Rouge
Ano:
1994
Direção: Krzysztof Kieślowski
Elenco: Irène Jaboc, Jean-Louis Trintignant, Jean-Pierre Lorit e Frederique Feder.

Cada filme dessa trilogia trata de pessoas em situações totalmente diferentes. É possível, inclusive, que muitos dos espectadores sequer consigam perceber o que exatamente as histórias têm em comum para serem vistas como um conjunto. De fato, são poucas e rápidas as cenas em que a vida dos personagens parecem se cruzar. Mas é interessante perceber que os três filmes tratam de reconciliações e a reunificação do continente europeu aparece tanto como como premissa quanto como justificativa para a escolha das ambientações: respectivamente a França (oeste europeu), Polônia (leste europeu) e Suíça (centro europeu).

Modelo no outdoor
Modelo no outdoor

Nesse ultimo, acompanhamos a história de uma modelo que sofre com as constantes e controladoras ligações de seu ciumento namorado inglês. Em um roteiro cheio de coincidências, vemos como ela acaba se envolvendo com um juiz aposentado que tem como hobby, justamente, investigar a vida alheia por meios ilegais. É interessante notar que o filme começa com campanha de marketing feita pela personagem, representada pelo outdoor é colocado na rua, e termina com ele sendo retirado.

Histórico de neutralidade
Histórico de neutralidade

Um dos temas tratado é o isolamento social, reforçado pela escolha do país. Com uma longa história de neutralidade, a Suíça não esteve em estado de guerra internacional desde 1815, além de ser sede de diversas organizações internacionais voltados para a política, economia, desenvolvimento social, saúde, comércio, esportes e outros. Basicamente, o território pode ser visto como uma “ilha” no meio do continente europeu, com destaque para a cidade de Genebra, um dos centros da diplomacia mais importantes do mundo.

Apartamento no centro da cidade
Apartamento no centro da cidade

A produção encontrou o apartamento perfeito para a personagem principal e, durante as filmagens, a proprietária do imóvel concordou em sair da sua moradia desde que lhe fosse custeada a sua hospedagem no luxuoso Hotel des Bergues. Foi uma bela troca, já que trata-se de um hotel cinco estrelas que funciona em um prédio histórico construído em 1834, às margens do lago, com todos os quartos decorados com móveis luxuosos. Embora tenha sido criado o ficcional Cafe Chez Joseph, também é mostrada em uma cena o Café La Clemence, um tradicional bar da cidade velha que fica sempre repleto de turistas.

Église de Saint-Antoine de Padoue
Église de Saint-Antoine de Padoue

Assim como nos demais filmes, não é dado grande destaque a atrativos específicos, mas em vários momentos é possível reconhecer pontos da cidade como a Église de Saint-Antoine de Padoue, uma igreja de estilo neogótico construída no final do século XIX. Também foi mostrado o enorme lago que leva o mesmo nome da cidade, a fachada do Grand Théâtre de Genève e várias ruas da região central.

Opéra de Lausanne
Opéra de Lausanne

Já o interior do teatro que aparece em uma das cenas, na verdade, fica na cidade de Lausanne, a cerca de 65 km dali. A Opéra de Lausanne, que está localizada no coração da cidade e funciona desde 1871, foi totalmente renovada em 2012 com equipamentos de última geração. Recebendo milhares de pessoas por ano, a casa é reconhecida internacionalmente e contribui para a cena cultural com produções próprias, incluindo óperas que vão do barroco ao contemporâneo, concertos e apresentações balé.

Fraternidade entre pessoas com pouco em comum
Fraternidade entre pessoas com pouco em comum

Assim como nos dois filmes anteriores, uma cor prevalece em grande parte dos objetos, móveis, luzes e outros. Nesse caso, o foco é no vermelho da bandeira francesa e no tema fraternidade. Na história, personagens que pouco têm em comum acabam se conectando aos poucos. Para reforçar esse estranhamento inicial, eles são mostrados justapostos, mas sempre em diferentes níveis – um sentado e outro em pé, por exemplo. Também são recorrentes os usos de telefones e vidros quebrados, reforçando a ideia de conexões e fraturas.

Vidros quebrados
Vidros quebrados

Por fim, destacam-se as referências bíblicas, com o homem mais velho sendo retratado como um arquétipo do velho testamento. Morando em uma casa cheia de livros, equipamentos de escuta e vistas para a rua, ele aparece como uma figura divina que tem controle sobre todas as coisas, incluindo o futuro. Mas também é trabalhada a relação entre lei, ética e os comportamentos socialmente aceitáveis. É interessante ver os três filmes da trilogia, já que eles também se complementam, sendo A liberdade é azul uma tragédia, A igualdade é branca uma comédia e esse, um romance – ou o oposto de cada um desses estilos.

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