Ano: 2006
Autora: Elizabeth Gilbert
A jornalista e autora de livros Elizabeth Gilbert acredita na importância de explorar o mundo para encontrar inspiração para criar suas histórias, tendo investido seu dinheiro desde cedo em viagens – mesmo quando ainda era garçonete. Além de trabalhar como escritora independente para publicações diversas, ela também se dedicou a escrever livros de contos, romances, biografias e memórias. É justamente nessa última categoria que se enquadra seu maior sucesso.

Comer rezar amar vendeu milhões de cópias e foi traduzido em mais de trinta línguas. O projeto surgiu quando a autora estava com cerca de trinta anos de idade e tinha tudo o que as pessoas, em geral, enxergam como uma vida perfeita: o casamento com alguém que lhe amava, a casa espaçosa, uma carreira de sucesso e o projeto de ter filhos. Apesar de tudo isso, ela não se sentia feliz e realizada. Após passar por um longo processo de divórcio, enfrentar uma depressão debilitante e ter problemas em um outro relacionamento, ela decidiu se desfazer de seus bens materiais, demitir-se do emprego e partir para uma viagem de um ano pelo mundo, sozinha.

Com o dinheiro adiantado por uma editora à qual ela apresentou a ideia, Elizabeth Gilbert partiu de Nova York e passou alguns meses na Itália, principalmente na cidade de Roma, onde teve a oportunidade de treinar a língua que vinha estudando, conheceu pessoas diversas, fez passeios e se entregou ao prazer da farta comida regional. O próximo destino foi a Índia, onde se hospedou no ashram para aprimorar sua espiritualidade, mergulhando mais profundamente em um processo de autoconhecimento. Por fim, chegou a Bali, uma pequena ilha que faz parte da Indonésia e tinha sido indicada por um guru como parte de seu destino. Embora a trajetória tenha sido bastante pessoal, é possível que o leitor se identifique com várias das passagens, que tratam do amor, das perspectivas individuais e coletivas em relação à vida, da crença em uma determinada religião, de sentimentos e das relações de amizade.

Também me interessou bastante a descrição da rica cultura de cada um desses lugares, tão diferentes entre si. São várias passagens descrevendo como aquelas pessoas encaram seu dia a dia, mas também aspectos históricos, arquitetônicos, gastronômicos e sociais. Como são países que eu ainda não visitei, foi a oportunidade de fazer viagens sem sair de casa – algo significativo se levarmos em conta que estamos a mais de um ano passando por uma pandemia que restringe bastante os deslocamentos. Além disso, ela fez um tipo de passeio que eu gosto muito, sem o compromisso de ver tudo rapidamente e já partir para o próximo destino. Assim, é possível aproveitar mais cada lugar e conhecer elementos que passam despercebidos da maioria dos turistas, entrando mesmo no clima da cidade, do país.
Com capítulos curtinhos, temas relevantes e uma escrita interessante, Comer rezar amar me agradou em sua maior parte, embora algumas ideias tenham se mostrado um pouco datadas e o meio do livro seja um tanto arrastado – talvez por eu não me interessar tanto pela parte da reza quanto pelos outros assuntos ou por não ser o tipo de história que te deixa curioso para saber o que vai acontecer a seguir. Também é possível se questionar que, em se tratando de uma viagem já predestinada a virar livro, algumas atitudes não tenham sido tão espontâneas ou realmente descritas como aconteceram. De fato, o texto inclui diversos personagens de identidade protegida através de codinomes, podendo-se imaginar que muitos detalhes mais dramáticos ou delicados tenham sido deixados de lado, com o conteúdo sendo trabalhado para agradar tanto os leitores quanto as pessoas envolvidas. De qualquer maneira, os pontos positivos justificam a leitura. Também é possível assistir ao filme de mesmo nome baseado na obra, uma produção hollywoodiana de sucesso.

Para quem tiver curiosidade de como a história de Elizabeth Gilbert continua, a autora lançou em 2010 o livro Comprometida, que conta alguns detalhes de sua vida pessoal após os acontecimentos relatados em Comer rezar amar. Dessa vez, o foco é em suas pesquisas pelo mundo sobre a instituição do casamento a partir de perspectivas históricas e modernas, incluindo como diferentes culturas encaram o matrimônio, a união de pessoas do mesmo sexo, o relacionamento entre indivíduos de diferentes raças e o medo de assumir um compromisso após tentativas fracassadas.