Ano: 2019
Direção: Jayro Bustamante
Elenco: María Mercedes Coroy, Julio Diaz, Sabrina de la Hoz, Margarita Kenéfic, María Telón, Juan Pablo Olyslager e Ayla-Elea Hurtado.
Se alguém me perguntasse qualquer coisa sobre a história da Guatemala, eu não saberia dizer absolutamente nada. Graças a esse filme, eu acabei descobrindo algumas coisas e também me interessei por pesquisar mais. Por exemplo, trata-se de um local que era dominado pela civilização maia até a chegada dos exploradores espanhóis na América Central. Após a independência da dominação europeia, em 1821, o país passou por períodos de instabilidade política, entre governos democráticos, regimes ditatoriais e uma guerra civil.

Estima-se que esses conflitos, que duraram muitas décadas, causaram a morte de duzentas mil pessoas, a maioria indígena. Em anos recentes, foram identificadas no país mais de seiscentas áreas de massacres: vilas foram bombardeadas, pessoas foram assassinadas, empaladas ou queimadas vivas, incluindo mulheres grávidas e crianças sem condições de se defender.

Entre 1982-83, José Efraín Ríos Montt esteve no poder devido a um golpe de estado. Décadas depois, ele se tornou membro do congresso, ganhando a imunidade que o protegeria dos longos processos que o acusavam de genocídio e crimes contra a humanidade. É justamente essa história de pano de fundo do filme. O personagem principal do filme se baseia nesse político, embora apareça com outro nome, já idoso e passando por um julgamento pelos seus crimes no tempo da ditadura.

Como contraponto, temos La Llorona, uma figura do imaginário latino americano que vaga pelas margens de lagos ou mares chorando por suas crianças, que morreram afogadas. Trata-se de uma lenda com muitas variantes, principalmente nos detalhes, já que se espalhou por muitos países. Os pontos em comum entre as muitas versões são a mulher de vestido branco, as crianças mortas, em algumas narrativas assassinadas por ela mesma em um momento de desespero, as lamentações noturnas e a forte ligação com as águas. A personagem já apareceu em vários filmes, incluindo Coco, a animação da Disney, e A maldição de La Llorona, um terror bem fraquinho.

Mas nesse caso, sua origem é trazida para o massacre ocorrido no país na época do governo ditatorial descrito acima. Com isso, o roteiro foca mais em trazer reflexões sobre o ocorrido. Ali aparecem as diferenças de classes, o domínio de uma raça sobre as outras, os conflitos culturais, protestos diante das injustiças e outros elementos sociais. O problema é que isso pode decepcionar muitos espectadores, já que o filme foi vendido como terror, mas pouco investe em surpresas e sustos. Além disso, a história se desenvolve em um ritmo muito lento, com foco na dinâmica da família e pouco destaque para a vingança sobrenatural.

No fim das contas, eu achei interessante conhecer um pouco da história do país, mas fiquei decepcionado com o resultado final da obra, já que a expectativa era grande. De fato, algumas cenas me pareceram até amadoras em alguns aspectos, incluindo as atuações. Até funciona bem como um filme independente, mas seria melhor com um roteiro mais bem trabalhado. Mas essa é só a minha opinião, pois outras pessoas parecem ter considerado o filme uma obra prima. Portanto, se o tema te interessa, vale a pena assistir e tirar suas próprias conclusões.