Título original: Crip Camp – A disability revolution
Ano: 2020
Direção: Nicole Newnham e James Lebrecht
Entrevistados: Starring Larry Allison, Judith Heumann, James LeBrecht, Denise Sherer Jacobson e Stephen Hofmann.
Aos pés da Hunter Mountain, cerca de três horas de viagem da cidade de Nova York, uma colônia de férias foi estabelecida em 1951 para receber jovens durante o verão. Nas décadas seguintes, o empreendimento seria fortemente influenciado pela contracultura e os valores hippies. Com isso, o programa de atividades na cadeia montanhosa de Catskills passou a ser menos estruturado que nas experiências anteriores, deixando tanto visitantes quanto monitores mais livres. Embora isso possa dar uma ideia de liberdade excessiva, é justamente o que os frequentadores mais precisavam, já que suas vidas eram marcadas por limitações impostas não somente pelas suas condições físicas, mas também por como eram vistos e tratados pela sociedade.

A maior particularidade do Camp Jened era o seu público alvo, já que recebia pessoas com deficiências diversas, como paralisia cerebral, poliomielite, vítimas de acidentes de trânsito e outros. Por quatro a oito semanas, dezenas de adolescentes da região, mas também alguns vindos do Canadá e de outras partes dos Estados Unidos, se reuniam em um ambiente totalmente diferente do mundo em que viviam, sem a presença dos pais, em meio a seus semelhantes, longe do estigma e do isolamento com que tinham que lidar no dia-a-dia. Ali eles praticavam esportes, tocavam instrumentos e cantavam, descobriam sua sexualidade e alguns chegavam a consumir bebidas alcoólicas e fumar maconha.

O documentário começa retratando um desses verões no início da década de 1970, apresentando a vida das pessoas tanto dentro quanto fora do acampamento. São vários depoimentos enriquecedores que nos ajudam a ter uma noção dos problemas enfrentados por eles no coletivo, mas também a adentrar em questões particulares de cada um deles, passando a enxerga-los como indivíduos com necessidades, medos, desejos e revoltas individuais.

Através do rico material em vídeos e fotografias da época, é possível ver como o local era um campo fértil para discussões profundas entre os participantes, como a frustração de não poder frequentar uma escola, as relações conflituosas com suas famílias superprotetoras, a falta de privacidade decorrente do excesso de cuidado, as dificuldades que encontravam no dia-a-dia com a inadequação dos meios de transporte público e o acesso a prédios, o preconceito e o bullying que sofriam, o tratamento recebido em instituições de saúde e outros temas. Mesmo décadas depois, é interessante como o filme é capaz de nos fazer refletir sobre nossas posturas em dias atuais.

Foram essas experiências que fizeram com que eles se tornassem politicamente ativos, passando a lutar por direitos civis através de processos na justiça, manifestações como passeatas, bloqueio de ruas e até mesmo a ocupação de um prédio público. Para se ter uma ideia, nessa época não havia nenhuma preocupação com a acessibilidade nas ruas, a construção de rampas, banheiros adequados, braile nos botões dos elevadores ou qualquer coisa do tipo. De fato, essa luta continua mesmo anos após o período retratado.

Embora tenha sido fechado devido a dificuldades financeiras, o legado do acampamento ainda pode ser visto nas melhorias alcançadas pela luta daquele grupo de pessoas que buscava quebrar os paradigmas de uma sociedade que recusava a inclusão social. Embora muito tenha mudado ao longo das últimas décadas, ainda há um longo caminho a se percorrer em busca da igualdade. A mensagem que fica é de esperança para o futuro, mas também da necessidade de lutar por melhor adequação dos espaços físicos, oportunidades de trabalho e contra o preconceito.