Evereste

Evereste ★★★☆☆

Título original: Everest
Ano:
2015
Direção: Baltasar Kormákur
Elenco: Jason Clarke, Josh Brolin, John Hawkes, Robin Wright, Emily Watson, Keira Knightley, Sam Worthington e Jake Gyllenhaal.

O Monte Everest foi descoberto como o ponto mais alto do mundo na metade do século XIX, mas levou-se quase cem anos até que os primeiros alpinistas chegassem até o topo. Nas quatro décadas seguintes, só escaladores profissionais tentavam repetir o êxito e, ainda assim, um em cada quatro morriam. As coisas começaram a mudar em 1992, quando o neozelandês Rob Hall passou a trabalhar como guia para levar clientes amadores até o local. Durante quatro anos, dezenove turistas inexperientes alcançaram o cume e não houve nenhuma fatalidade. O sucesso comercial da empreitada atraiu novos guias, incluindo Scott Fischer. Em 1996, vinte expedições subiriam o monte em um período de duas semanas, em clima de competição.

Além de um bom preparo físico, a empreitada exige muito tempo e dinheiro. São cerca de dois meses para chegar ao cume, já que é necessário um período longo de aclimatação devido à baixa concentração de oxigênio em grandes altitudes. Além disso, é preciso desembolsar dezenas de milhares de dólares para pagar as taxas cobradas pelo país, que servem tanto para tentar controlar a quantidade de pessoas quanto para gerar lucro ao governo, e contratar uma agência especializada, que irá fornecer os equipamentos necessários e organizar toda a logística. Já para quem quer viajar apenas até o acampamento base, o valor fica bem mais em conta, já que tudo pode ser feito por conta própria e as permissões são baratas. Em todo caso, o trajeto mais comum é feito pelo Nepal.

Catmandu
Catmandu

Recentemente, li o livro No ar rarefeito, que traz o relato documental de Jon Krakauer sobre a tragédia ocorrida no ano de 1996, que ficou marcado pela morte de várias pessoas, incluindo guias, trabalhadores locais e clientes. Enquanto a obra tem bastante informação sobre a história do Monte Everest desde o século passado, com foco na recente exploração comercial iniciada na década de noventa, o filme é um bom complemento por traduzir em imagens a luta pela sobrevivência. A produção teve autorização para filmar no local por algumas semanas na região, incluindo imagens feitas em Catmandu, capital do país, e em diversos pontos até a base da montanha.

Aeroporto Internacional Tribhuvan
Aeroporto Internacional Tribhuvan

O portal de entrada para o turismo no país é o Aeroporto Internacional Tribhuvan, que é pequeno e simples, estranhamente parecido com uma rodoviária para uma cidade tão grande. Ali foram gravadas justamente as cenas de chegada dos integrantes da expedição. Também foram feitas imagens em outros pontos da metrópole, com população que já ultrapassava os 2,5 milhões de habitantes em 2018. Localizada a 1400 metros de altitude, ela possui diversos templos e palácios, tanto budistas quanto hindus, mas uma boa parte dos prédios históricos foi danificada por terremotos.

Aeroporto Tenzing-Hillary em Lukla
Aeroporto Tenzing-Hillary em Lukla

Dali é preciso seguir em um voo de trinta minutos até o vilarejo de Lukla, ponto com acesso aéreo mais próximo das trilhas, a 2.800 metros de atitude. Considerado um dos mais perigosos de todo o mundo para decolagens e pousos, o Aeroporto Tenzing-Hillary tem uma pista inclinada que fica entre um paredão e um abismo. O nome é uma homenagem ao britânico Edmund Hillary e ao nepalês Tenzing Norgay, as primeiras pessoas a alcançarem o cume da montanha mais alta do mundo. Após desembarcar, você pega seus pertences e já começa a caminhada até sua hospedagem na região.

Sherpas e yaks
Sherpas e yaks

Se o objetivo for ir apenas até o acampamento base, o ideal é levar pouca bagagem e se virar sozinho. Já para quem quer mais conforto, é possível contar com o apoio dos sherpas, os trabalhadores locais que podem ser contratados como guias e/ou para carregar o peso. Como habitantes da região, eles possuem mais resistência ao clima e às condições atmosféricas, sendo responsáveis por levar todo o equipamento das agências e prestar serviços diversos, aparecendo em vários momentos do filme. Também é comum ver alguns yaks, animais de tração típicos da região que possuem pelagem longa e pernas curtas.

Pontes suspensas sobre o rio Dudh Kosi
Pontes suspensas sobre o rio Dudh Kosi

Um dos elementos naturais que marca a região é o Dudh Koshi, considerado o rio mais alto do mundo. Formado pela junção de sete cursos d’água, ele é responsável por drenar a neve e o gelo que derretem do alto das montanhas ao redor. Ao explorar a região, é necessário passar por algumas pontes suspensas que são sustentadas por cabos e balançam bastante, o que pode ser um problema para quem tem vertigem.

Namche Bazaar
Namche Bazaar

O objetivo da maioria dos visitantes, tanto aqueles que estão viajando por conta própria quanto os grupos de expedição que vão seguir para a escalada do monte, é chegar até Namche Bazaar, a 3440 metros em seu ponto mais baixo. O vilarejo fica no encontro de diferentes rotas para a subida dos Himalaias e possui diversas opções de hospedagem, restaurantes e casas de câmbio. Tradicionalmente, serve como local de descanso e primeira parada de aclimatação.

Monastério de Tengboche
Monastério de Tengboche

Em Tengboche, que chega a 3867 metros de altitude, encontra-se o maior mosteiro budista da região. A primeira estrutura, erguida em 1923, foi destruída na década seguinte por um terremoto. Reconstruída, foi devastada por um incêndio em 1989 e reformada com a ajuda financeira do exterior e o trabalho de voluntários locais. Tenzing Norgay nasceu nessa área e foi enviado ao mosteiro para ser um monge. Além do templo, a vila tem vista panorâmica dos picos Tawache, Everest, Nuptse, Lhotse, Ama Dablam e Thamserku.

Memorial Chukpi Lhara
Memorial Chukpi Lhara

Seguindo nas trilhas em direção ao acampamento base, também se passa pelo Memorial Chukpi Lhara, onde estão as tumbas dos sherpas morreram tentando escalar e trabalhando no Monte Everest, além de monumentos construídos em homenagem às pessoas cujos restos mortais ficaram na montanha ou nunca foram encontrados. Os túmulos são criados com amontoados de pedras em formato de torre, geralmente cônicos, e adornados com bandeirinhas coloridas de orações. O lugar também serve como um alerta para os perigos que serão encontrados à frente.

Acampamento base
Acampamento base

O acampamento base, a 5380 metros de altitude, é o último ponto que pode ser visitado pelas pessoas que estiverem fazendo trilhas na área. É ali que as expedições de escalada ao Monte Everest ficam acampadas por cerca de uma semana para uma melhor aclimatação antes da subida, que já exige um maior preparo, equipamentos específicos, pagamento de taxas altas e contratação de a agência por algumas dezenas de milhares de dólares. Enquanto os turistas se acostumam com a escassez de oxigênio, os sherpas vão levando itens para as próximas paradas, organizam os acampamentos, fixam escadas e cordas pelo caminho, entre outras providências.

Equipe de apoio no acampamento base
Equipe de apoio no acampamento base

Já o pessoal de apoio fica ali na base durante todo o período para resolver problemas, verificar as previsões do clima e dar assistência médica, sempre mantendo contato com os guias através de rádios. O espaço foi usado pela produção, mas o cenário também foi reproduzido na área externa do Cinecitta Studios, aproveitando a luz solar para recriar com mais fidelidade o intenso brilho da locação real. O estúdio fica em Roma, na Itália, e foram usados os famosos fundos verdes para compor montanhas no fundo das cenas.

Acampamento de barracas
Acampamento de barracas

Para quem segue com uma expedição, são feitas paradas em pontos cada vez mais altos, o que permite que o corpo se adapte aos poucos. Os acampamentos um (5943 metros), dois (6492 metros), três (7315 metros) e quatro (7924 metros) possuem uma estrutura ainda mais limitada do que as encontradas anteriormente, sendo basicamente barracas dispostas entre camadas de neve e pedras. As pessoas ficam sujas, comem mal, adoecem, perdem peso e ainda precisam enfrentar vários desafios físicos e psicológicos.

Crateras no gelo
Crateras no gelo

Um dos maiores perigos da subida é a travessia de áreas formadas por grandes blocos de gelo que se deslocam de maneira imprevisível e criam crateras gigantes. A regra é básica: se você cair, você está morto. Obviamente, não há condições de se filmar com segurança no local, então as imagens foram feitas no Pinewood Studios, na Inglaterra. Também foram recriados em estúdio as partes finais da escalada. Para deixar tudo mais convincente, a produção utilizou refrigeradores gigantes e baixou os termômetros para temperaturas abaixo de zero graus célsius, até mesmo usando neve real.

Flanco do Lhotse
Flanco do Lhotse

Imagens em montanhas reais foram feitas em lugares diversos. Além do Nepal, as gravações também ocorreram na Itália, Islândia e Estados Unidos, em altitudes bem menos impressionantes que as representadas em tela, temperaturas mais amenas e acesso facilitado. O principal destino foram as Dolamitas, uma cadeia montanhosa dos alpes orientais no norte italiano. Para se ter uma ideia, o seu ponto mais alto chega a 3343 metros. Para azar da equipe e dos atores, foi um dos invernos mais rigorosos no local e foi preciso enfrentar até -20° C em um determinado dia.

Avalanche de neve
Avalanche de neve

Enquanto isso, uma segunda equipe de filmagem continuou no Nepal para fazer imagens adicionais. Nesse período, uma avalanche tirou a vida de dezesseis sherpas que levavam suprimentos para os alpinistas que se preparavam para subir ao cume, se tornando o acidente mais fatal da história local até o momento. Ninguém da produção estava presente, mas isso mostra como as condições por lá são imprevisíveis e perigosas. Em 1996, também ocorreu um deslocamento do tipo, mas sem consequências mais graves – o que casou as mortes foi uma tempestade.

Escalão Hillary
Escalão Hillary

Falando nisso, a parte mais crítica da chegada ao topo do mundo, pelo menos na época retratada no filme, era a subida do Escalão Hillary. Ao lado da parede de pedra, uma queda de pelo menos 2.400 metros de altura fazia com que fosse necessário o uso de cordas para prosseguir, geralmente fixadas pela primeira expedição que chegasse por lá naquela estação. Com o crescente número de visitantes, esse ele se tornou um grande gargalo, já que somente uma pessoa passava de cada vez, subindo ou descendo. Em boas condições para o ataque ao cume, levava-se duas para chegar ao escalão, mais uma ou duas horas para atravessá-lo e, por fim, vinte minutos até o destino final. Aparentemente, um terremoto em 2015 alterou a formação, que se quebrou em pedras menores.

Chegada ao cume do Monte Everest
Chegada ao cume do Monte Everest

Quando as pessoas finalmente chegam ao topo do Monte Everest, geralmente ficam ali por poucos minutos, o suficiente para depositar uma bandeira junto às pedras e tirar uma foto. A falta de oxigênio é crítica nessa que é conhecida como a zona da morte, fazendo com que as pessoas fiquem confusas e tomem decisões erradas. Há relatos, por exemplo, de pessoas que tiram a roupa por acreditarem que estão com calor ou removem a máscara achando que estão sufocando, mas passam a ter menos oxigênio ainda. Por isso, é necessário iniciar, imediatamente, a descida. Em 1996, os guias e clientes foram pegos por uma intensa tempestade que fez com que as temperaturas caíssem ainda mais e prejudicou a visibilidade. Um grande grupo ficou rodando por horas bem próximo ao acampamento quatro, sem conseguir encontrá-lo.

Morte e abandono
Morte e abandono

De fato, é reportado que uma boa parte das mortes acontece justamente na descida, quando se está mais cansado e o oxigênio dos tubos pode ter se esgotado. O mais assustador é que os corpos ficam ali, por décadas, para sempre, muitas vezes no meio do caminho por onde passa a maior parte das pessoas. Enfim… Pelo que pude perceber, os eventos principais mostrados no filme estão de acordo com os relatos do No ar rarefeito, tirando um ou outro ponto controverso. O filme não é baseado na obra e o Jon Krakauer aparece apenas como um personagem secundário, mas vale a pena ler seu livro para entender melhor os acontecimentos.

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