Título original: Into thin air
Ano: 1997
Autor: Jon Krakauer
O Monte Everest é o ponto mais alto da Terra, atingindo 8.848 metros acima do nível do mar. Localizado na cadeia montanhosa dos Himalaias, na fronteira entre a China e o Nepal, o terreno não apresenta dificuldades técnicas muito grandes para escaladores experientes, mas a subida é considerada muito perigosa devido ao impacto da altitude no corpo, ao frio intenso, às aberturas de buracos no gelo que precisam ser transpostas com escadas, aos fortes ventos e à possibilidade de ocorrência de avalanches e tempestades. Mais de trezentas pessoas já perderam a vida na tentativa de chegar ao topo e muitos corpos permanecem no local devido à dificuldade de remoção.

Na metade da década de noventa, Jon Krakauer recebeu a demanda da revista Outside para visitar a base da montanha e escrever sobre a crescente comercialização das escaladas. O local é visitado pelos mais experientes alpinistas do mundo, mas também por pessoas que chegam até lá sem nenhum preparo prévio, contado apenas com a ajuda de guias. O valor do pacote chega a custar dezenas de milhares de dólares. Como já havia feito muitas escaladas, o autor resgatou um antigo desejo e pediu à diretoria da publicação um ano para se preparar fisicamente com o objetivo de fazer o trajeto completo.
Em 10 de março de 1996, após semanas de sofrimento com a aclimatação e os esforços físicos e psicológicos, Jon Krakauer chegou ao topo do mundo como parte da expedição chefiada por um conhecido guia neozelandês. Naquele dia, vários alpinistas perderam a vida, com ainda mais casualidades até o fim da temporada. Extremamente abalado pela tragédia e obcecado em rever o evento em todos os detalhes, o autor escreveu o artigo para a revista e, logo depois, o livro No ar rarefeito.

Admitidamente escrito no calor do momento, quando as emoções ainda estavam frescas, o livro é um depoimento sincero não apenas dos acontecimentos, mas também dos sentimentos do autor e das suas percepções particulares sobre o que levou à tragédia, além do que conseguiu apurar em seus trabalhos de pesquisa. Isso não impediu que ele tenha causado muita controvérsia, sendo criticado por alguns dos outros participantes da escalada e de alpinistas renomados. Os principais pontos de conflito incluem as críticas à postura dos guias e diversas inconsistências sobre os acontecimentos. Muitas dessas questões foram endereçadas pelo próprio autor na versão lançada em 1999.

Pode-se dizer que vários problemas contribuíram para que esse ano tenha sido particularmente letal, incluindo uma forte tempestade. Mas aspectos mais previsíveis dão a sensação de que se tratava de uma tragédia anunciada. Para começo de conversa, a quantidade de equipes aumenta a cada ano, uma tendência que continua até os dias atuais. O problema é que a rivalidade entre elas acaba comprometendo o trabalho em conjunto, quando poderiam ajudar na melhoria das estruturas e na segurança dos deslocamentos. Como o período em que é possível subir ao cume é bastante limitado, é comum haver congestionamentos em pontos mais críticos, o que é agravado pela falta de experiência de muitos e gera atrasos em uma zona em que o corpo está literalmente morrendo aos poucos, mesmo com o uso de tubos de oxigênio.

Mas o relato trás bem mais informações que dos motivos da tragédia. Achei interessante conhecer como é feita a preparação ao ataque ao cume, com várias semanas passadas em condições degradantes para aclimatação, com consequências sérias para o corpo humano devido ao ar rarefeito. Também diz como ela vem sendo explorada desde que foi descoberta como o ponto mais alto do planeta, incluindo as conquistas a partir do começo do século XX. Muitos trechos destacam as pessoas que arriscaram as suas vidas em busca de realizar um sonho, as condições de trabalho da população local, a religiosidade ligada a montanha, os danos ao meio ambiente e outros aspectos. São mais de cem anos de história.
Além da versão impressa, é possível ler a obra no Kindle. Já quem prefere acompanhar a história em um filme, pode optar por assistir ao Evereste, que saiu nos cinemas em 2015. Não se trata de uma adaptação do livro e o autor sequer concordou com como os fatos foram retratados – outra controvérsia nesse drama. Mas funciona bem como um complemento da leitura do No ar rarefeito, que traz informações mais precisas, na minha opinião.