Título original: Contagion
Ano: 2011
Direção: Steven Soderbergh
Elenco: Marion Cotillard, Matt Damon, Laurence Fishburne, Jude Law, Gwyneth Paltrow, Kate Winslet, Bryan Cranston, Jennifer Ehle, Sanaa Lathan.
Em 2020, com a pandemia e todas as suas consequências diretas e indiretas em escala global, o interesse das pessoas por esse filme aumentou bastante, seja porque o tema está muito em evidência, seja para ver como o roteiro se compara aos acontecimentos recentes. Embora não tenha sido produzido necessariamente como uma previsão da situação atual, é impossível não traçar paralelos entre a ficção e a realidade. E o mais assustador é ver o quanto elas se assemelham em muitos aspectos.

A origem do vírus vem de uma série de atitudes cujo perigo muitos cientistas vêm chamando à atenção ao longo dos anos, como a invasão humana ao habitat natural dos animais, a mutação de vírus em mamíferos, o manejo e consumo da carne sem respeito a medidas sanitárias e outros aspectos que colaboram para a propagação. A investigação para chegar ao paciente zero leva à conclusão de que ele surgiu de um morcego. Para destacar o impacto global da crise, foram feitas filmagens em Hong Kong, Londres, Genebra e as cidades americanas de Chicago, Atlanta e São Francisco.

Desde o começo dos anos dois mil, o número de voos domésticos e internacionais vem aumentando gradativamente, chegando à marca de quase quarenta milhões de voos em 2019. Esse número seria ainda maior em 2020, mas teve uma queda brusca devido aos cancelamentos a partir do primeiro trimestre. São alguns bilhões de passageiros se deslocando para todos os cantos a cada ano, o que o filme mostra como responsável por espalhar rapidamente a doença e dificultar a contenção.

Uma das medidas adotadas pelas autoridades foi fechar as cidades, criando zonas de quarentena, algo que realmente aconteceu em diversos lugares. Desde o início da pandemia, temos visto países fechando o tráfego aéreo e limitando a entrada somente para residentes. Também houveram cidades que ficaram isoladas, mas o mais comum foi a adoção do lockdown, com a diminuição do horário ou completo fechamento do comércio, toques de recolher e outras medidas que, embora sejam pouco populares, se mostraram eficazes em diminuir o avanço do número de casos.

A transmissão se dá pelo ar e pelo contato com objetos contaminados, o que é potencializado pela tosse e espirros comuns aos infectados. A máscara diminui consideravelmente os riscos, tanto de transmitir quanto de pegar a doença. Nesse aspecto, é estranho ver alguns dos profissionais da saúde e políticos não usando representados não usarem a proteção, mas muitas outras pessoas aparecem com o adereço.

Como estamos constantemente pegando em corrimãos, puxadores, interruptores, celulares, bancadas e diversos outros objetos, é importante lavar as mãos e usar álcool gel com frequência. Uma das personagens afirma que é comum que as pessoas toquem o rosto de centenas a milhares de vezes por dia, em grande parte levando os dedos aos olhos, boca e nariz, pontos de entrada preferenciais para vírus e bactérias.

A crise se instala bem mais rapidamente no filme do que aconteceu na vida real, mas aqui também tivemos notícias da falta de produtos em diversos lugares. Embora não tenha havido graves problemas de distribuição, alguns itens como máscaras, luvas e álcool esgotaram rapidamente. Em outros lugares, as prateleiras ficaram sem papel higiênico, comidas enlatadas e outras coisas, já que muitos estocaram o máximo que podiam.

Outro problema mostrado foi a busca por medicamentos que teriam efeito preventivo ou de tratamento, causando até mesmo a destruição de uma farmácia. O problema é que não havia sequer comprovação científica para o uso desses remédios, que estavam sendo propagandeados por fake news. Na história, isso é feito por um indivíduo que visa um enriquecimento fácil. Já aqui, ainda continuamos a ver o presidente da república e outros políticos ou pessoas ligadas a ele propagarem a desinformação, enquanto negam as recomendações dadas por órgãos de maior credibilidade.

Uma das principais delas seria justamente o isolamento social, ou seja, evitar ao máximo o contato com outras pessoas. Muitas pessoas não podem fazer isso, já que precisam sair de casa para trabalhar. Outras ficaram sozinhas ou com contato apenas com os familiares, o que exigiu um grande esforço para superar a vontade de encontrar outras pessoas, como é mostrado nas cenas que focam no núcleo familiar de uma adolescente e seu pai. Infelizmente, também teve muita gente fazendo aglomerações, até mesmo em festas. Um dos reflexos disso ficou bastante evidente depois do fim de ano, quando muitos foram contaminados e encheram os hospitais, batendo os recordes do ápice da pandemia há meses atrás.

O uso da tecnologia é mostrado como uma alternativa para a realização de reuniões de representantes de diferentes países. Em tempos atuais, isso também foi aplicado por muitas empresas, que viram no trabalho remoto uma alternativa para continuar funcionando. Essa é uma tendência que vem ganhando força ao longo dos anos, já que representa uma economia nos gastos com espaço físico, desafoga o trânsito das grandes cidades e apresenta vantagens diversas para os funcionários.

Um hospital de campanha foi criado em uma quadra com o objetivo de atender à grande quantidade de doentes, que não seria comportada na estrutura atual da cidade, mas também na tentativa de isolar os casos e evitar a contaminação de outros pacientes. Na vida real, o mesmo foi feito em vários locais do mundo, mas também foi necessário contornar problemas como a falta de respiradores e de profissionais.

Começamos o ano de 2021 com uma das principais capitais do país em situação crítica, com pessoas morrendo por falta de oxigênio nos hospitais. Essa precariedade também foi apresentada no filme com a disposição de macas muito próximas umas das outras, doentes acumulados em corredores devido à escassez de quartos, enfermarias e leitos para a internação e a falta de itens básicos, como cobertores. Além disso, médicos e enfermeiros se mostraram exaustos com a quantidade excessiva de trabalho.

Muito se fala da quantidade de vidas perdidas durante o ano passado, já ultrapassando a marca de dois milhões. Cenas de enterros em massa como o mostrado no filme, corpos armazenados em caminhões de frigoríferos e outros absurdos puderam ser vistos ao redor do mundo. Atualmente, o Brasil só fica atrás dos Estados Unidos no número de mortos, o que é emblemático se pensarmos que os governantes de ambos os países negaram a gravidade da situação.

Enquanto isso, a comunidade científica trabalha para elaborar, testar e produzir em larga escala as vacinas que seriam uma solução mais definitiva para a crise. Embora tenham sido alcançadas e autorizadas em tempo recorde, ainda vai levar um bom tempo para que o número de pessoas imunizadas seja grande o suficiente para alcançar um patamar de tranquilidade. Assim como é citado por uma das personagens, são meses ou até mesmo anos para vacinar a maior parte da população.

Aí entra outra questão que vem sido bastante discutida atualmente e também aparece no filme. Trata-se da desigualdade de acesso aos tratamentos e à prevenção, principalmente quando comparamos os países mais ricos e os mais pobres. De fato, embora seja uma obra de ficção, muito do que é mostrado é baseado em acontecimentos anteriores, com inspiração direta nas epidemias de SARS 2002-2004 e da pandemia de gripe em 2009. Isso nos mostra como deveríamos estar mais bem preparados para lidar com o COVID-19. Além do roteiro e das atuações, o longa-metragem também foi elogiado pelos cientistas devido à seriedade com que trata o tema.

Enquanto tentamos nos reorganizar como sociedade e diminuir os impactos causados pelo coronavírus. É razoável pensar que vai ser mais comum ver pessoas mais preocupadas com a higiene das mãos e usando máscara, algo que outros países já tinham adotado quando alguém estava doente ou para minimizar as consequências da poluição. O trabalho remoto deve ser considerado por muitas empresas, que se viram obrigadas a adotar o regime e puderam enxergar as suas vantagens. Muitos países já tem exigido o teste negativo para a doença na entrada de estrangeiros e deve se tornar mais comum viajar com o cartão de vacinação. Enfim, muitas mudanças à vista no que muitos tem chamado de o novo normal.