Título original: The Terror
Ano: 2007
Autor: Dan Simmons
Ao contrário do que acontece normalmente, dessa vez eu primeiro assisti à série que adapta a história, da qual já fiz uma postagem aqui, para, depois de alguns anos, ler a obra original. Trata-se de um dos muitos livros escritos por Dan Simmons, mas o primeiro a ser lançado no nosso país. O autor americano passeia por gêneros diversos como ficção científica, terror, suspense, aventura, fantasia e documentário, muitas vezes aparecendo juntos e misturados.

O Terror, por exemplo, traz diversos fatos históricos, já que se baseia no verdadeiro drama da viagem empreendida por dois barcos da coroa britânica pelo ártico canadense com o objetivo de encontrar o caminho pelos mares do norte, passando acima do continente norte-americano. O Erebus e o Terror, que dá nome ao livro, acabam presos com a chegada do inverno, antes de chegar ao mar aberto no Oceano Índico. Com isso, os capitães e tripulações passam a lutar pela sobrevivência, enquanto aguardam o desgelo ou a chegada de um possível resgate.
A expedição partiu da Inglaterra em 1845 para procurar o caminho de travessia do oceano Atlântico para o Pacífico. A remota região do Círculo Polar Ártico era pouco conhecida e ainda não havia sido mapeada. Quando olhamos os mapas atuais, podemos entender perfeitamente o motivo da dificuldade, já que são diversas penínsulas e ilhas rodeados de canais e mares que congelam no inverno. Além disso, os desafios incluíam o aquecimento interno, a administração do estoque de comida, o tratamento de doenças, as complicadas relações entre as pessoas presas em uma situação extrema e o terror causado por uma misteriosa criatura – inserindo aí elementos fantásticos.
Eu morei um ano no Canadá durante um intercâmbio de trabalho e peguei temperaturas muito baixas, chegando a uma sensação térmica de -49° Celsius. Pela minha experiência, os piores momentos nem foram nesse dia gelado, mas sim quando ventava ou quando eu não estava usando as roupas mais adequadas. Também adoeci com as mudanças bruscas de temperatura, tive alguns dias de sair de casa e me sentir imediatamente congelado (literalmente), de ter dores reais nas mãos e nos pés, de ficar com a roupa molhada e achar que ia morrer por isso, de ficar com a sensação de queimadura nas vias respiratórias um dia que resolvi correr na rua por algum motivo, entre outras coisas. Nessa época, cheguei a ler notícias de pessoas que morreram presas em algum lugar gelado ou foram atacadas por ursos, tudo isso bem próximo da cidade.

Já os cento e poucos personagens d’O Terror enfrentaram um frio muito mais intenso, estavam em uma região remota e tinham outras diversas dificuldades. Os capítulos do livro foram escritos sob o ponto de vista de diversos dos personagens, em grande parte inspirados em personalidades reais como Sir John Franklin, comandante e capitão do Erebus; Sir John Franklin, capitão do Terror; Dr. Harry D. S. Goodsir, médico cirurgião; e o comandante James Fitzjames. Obviamente, o conteúdo é especulativo, em grande parte, já que pouco se sabe do que realmente pode ter acontecido.

A trama se passa, principalmente, no estado canadense de Nunavut, com destaque para a Ilha do Rei Guilherme que, até então, acreditava-se ser uma península. O local já era ocupado há milhares de anos pelo povo inuít, nome dado a diferentes grupos culturalmente relacionados que possuíam, além do conhecimento necessário para a caça, construção de moradias e deslocamento, algumas características físicas que os torna mais propensos a sobreviver no frio intenso, como cílios maiores que protegiam os olhos do brilho do sol refletido na neve e o corpo mais baixo e robusto, capaz de conservar melhor o calor. Após anos de contato com as culturas europeias, poucos mantiveram seus costumes tradicionais.
Além da versão impressa, é possível ler a obra no Kindle. O dispositivo permite carregar uma quantidade enorme de livros em um aparelho cuja bateria dura por vários dias, tem uma tela que não cansa os olhos, marca e compila trechos e possui modelos à prova d’água. Por exemplo: eu usei, em diversos momentos, os dicionários de significado e tradução embutidos no sistema e pesquisa na internet pelo wi-fi para termos que eu não conhecia, como o HMS que vinha sempre antes do nome dos barcos e quer dizer his/her majesty’s ship. Tantas vantagens acabaram mudando bastante a minha experiência com as leituras.