Temporada: 2ª
Episódios: 6
Ano: 2019
Elenco: Phoebe Waller-Bridge, Sian Clifford, Olivia Colman, Bill Paterson, Brett Gelman, Hugh Skinner, Hugh Dennis, Ben Aldridge, Jamie Demetriou, Jenny Rainsford, Andrew Scott, Fiona Shaw, Kristin Scott Thomas e Reay Fearon.
Eu gosto muito da ironia inteligente que costuma ser associadas aos britânicos – principalmente em comparação à comédia mais física e rasa dos americanos. A primeira temporada de Fleabag me conquistou justamente pelo uso do humor negro nos diálogos e acontecimentos, devidamente potencializados pelas ótimas atuações e a direção/edição com um timing perfeito. Além disso, são episódios curtos que se adequam a qualquer pequeno intervalo de folga que tenha no seu dia-a-dia.
A segunda temporada da série continua a saga da mulher de espírito livre e sexualmente ativa, mas com uma personalidade confusa e raivosa que atrapalha seus relacionamentos amorosos, com familiares e de amizade. Eu confesso que desaprovava várias de suas atitudes no começo, mas é impossível não se identificar com sua personalidade imperfeita. Talvez porque a personagem constantemente quebra a chamada quarta parede ao conversar diretamente com o público, o que permite revelar seus pensamentos e percepções, muitas vezes provados errados segundos depois, mas cria uma certa intimidade.
Apesar de bastante engraçada, a série trata de temas pesados como a dependência emocional, conflitos familiares, machismo e outros. São apenas seis episódios de pouco mais que vinte minutos. Isso permite assistir a tudo em uma sentada, mas eu confesso que preferi ir aos poucos para digerir melhor as questões e tentar compreender porque Fleabag age daquela forma que incomoda tanto as pessoas à sua volta, quais são as suas necessidades e limitações. O termo fleabag, cuja tradução literal do inglês é “saco de pulgas”, na verdade é uma gíria negativa que pode ser entendida como espelunca. Na verdade, ela nunca é chamada assim na série, mas também não recebe nenhum nome próprio. De qualquer maneira, sabemos que a palavra é associada a ela.
Assim como nos episódios anteriores, essa temporada teve a maior parte das filmagens externas feitas no bairro Dartmouth Park, que fica em Camden. Embora o interior das moradias tenha sido criado em estúdio, a fachada da casa de Claire, por exemplo, pode ser vista na Laurier Road, onde o preço médio é de £2.800.000,00 – muita riqueza. Eu adoro essa magia do cinema, que nos convence de que imagens feitas em locais totalmente diferentes fazem parte do mesmo espaço pelo simples fato de serem mostradas em sequência. Você vê o lado de fora de uma casa e a cena seguinte se passa em um ambiente interno – pronto, sua mente associou de que se trata do mesmo lugar.
A maioria das cenas nas ruas das duas temporadas foram feitas na redondeza, que oferece diferentes estilos em uma área consideravelmente pequena, mas a cidade é mostrada de um modo geral. Entre os pontos escolhidos estão o Highgate Cemetery; Southampton Road, em Gospel Oak; Croftdown Road e St. Alban’s Road, em Kentish Town; Highgate Road, no Parliament Hill Fields; Lincolns Inn Fields; e Finsbury Square. É possível ver alguns dos elementos clássicos de Londres em várias cenas, como os ônibus de dois andares, os característicos táxis e as cabines vermelhas de telefone.
Obviamente que outras ruas, praças e prédios da cidade também acabam aparecendo, mesmo que rapidamente, o que ajuda a localizar o espectador no local onde a história se desenrola. Um dos exemplos que me lembro é a belíssima St. Paul’s Cathedral, que é mostrada por poucos segundos enquanto a personagem principal passa pela região. Nem preciso dizer da vontade que dá de ir passear na capital da Inglaterra, que já tive oportunidade de visitar e caí imediatamente de amores.
Um dos locais que mais desperta o interesse dos fãs da série é o café com tema de porquinho da índia. Como houve um período de três anos entre as duas temporadas, o espaço original passou por uma reestruturação e foi transformado em um restaurante turco, agora chamado Bold Café & Restaurant. Para as filmagens dos episódios mais recentes, o local teve que ser remodelado temporariamente para voltar a ter a aparência anterior. Ainda é possível visitá-lo, mas na versão nova e totalmente diferente da série mesmo.
Outro espaço gastronômico visitado pelos personagens é o restaurante onde acontece uma reunião familiar que, como se pode imaginar pelo estilo da série, é cheia de drama e conflitos. As filmagens aconteceram no Smith & Wollensky, uma refinada churrascaria em Convent Garden comandada pelo chef Tom Cook. O local é famoso por utilizar o maior número possível de cortes de um mesmo animal, incluindo as partes muitas vezes descartadas ou pouco valorizadas. Você pode ir lá apreciar as iguarias, desde que esteja disposto a desembolsar uma boa grana.
Grande parte da segunda temporada gira em torno de uma igreja que, na vida real, é a St. Andrew’s Church, que fica no noroeste de Londres. O edifício de arquitetura da era vitoriana tem uma história interessante, já que foi originalmente erguida na Oxford Street e consagrada em 1847. Quando a área foi tomada por armazéns no começo do século XX, a igreja foi desmontada tijolo por tijolo e reconstruída a cerca de dezesseis quilômetros dali, em Kingsbury – um intenso trabalho de montagem que se assemelha às peças de um quebra-cabeças. Também foram feitas imagens na Christ Church de Hampstead.
Todos os episódios de Fleabag estão disponíveis no Amazon Prime, serviço que inclui plataformas de streaming de vídeo, jogos e músicas, acervo de centenas de livros, revistas e outros conteúdos digitais, além de entregas grátis e/ou expressas de produtos comprados no site. O Prime Video possui um conteúdo original bastante interessante com séries, filmes, documentários, shows e outros, além de disponibilizar as produções de terceiros, podendo ser comparado ao Netflix. Infelizmente, os responsáveis pela série informaram que não haverão outras temporadas depois da segunda. Fica aqui a torcida para que eles mudem de ideia.
Viajento 