Ensaio sobre a cegueira

Ensaio sobre a cegueira ★★★★★

Título original: Blindness
Ano:
2008
Direção: Fernando Meirelles
Elenco: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Yusuke Iseya, Yoshino Kimura, Don McKeller, Maury Chaykin, Mitchell Nye, Danny Glover e Gael García Bernal.

Em uma grande cidade, o trânsito é subitamente atrapalhado por um motorista que não se desloca devido à uma repentina cegueira. É o início da epidemia de uma nova doença com potencial de se espalhar rapidamente, gerando um caos que envolve a quarentena forçada das pessoas infectadas. Chamada de “treva branca”, essa condição se diferencia da perda da visão já conhecida por apresentar um forte branco leitoso em vez da tradicional escuridão com a perda de luz.

Ensaio sobre a cegueira

O roteiro do filme se baseia no livro Ensaio sobre a cegueira, romance do escritor português e vencedor do Nobel de Literatura, José Saramago. Publicado em 1995 e traduzido para diversas línguas, a obra foi cobiçada por diferentes estúdios e diretores, mas o autor se recusava a liberar os direitos de adaptação por temer que a degradação social proposta pela história caísse em mãos erradas. De fato, a narrativa traz imagens fortes e grande tensão com momentos de violência física e psicológica que precisaram ser bem trabalhados para, ao mesmo tempo, chocar o público e fazer refletir. No fim das contas, o autor ficou bastante satisfeito com o resultado, que manteve as ideais originais.

Quarentena de infectados
Quarentena de infectados

Foi interessante rever esse filme no atual contexto de uma pandemia mundial, já que é possível associar os acontecimentos mostrados com a realidade. Ali estão o colapso do sistema de saúde em diversas localidades, as divergências políticas, a busca insensata da população por estocar comida, as emoções exacerbadas das pessoas presa em quarentena, a impossibilidade de encontrar uma cura com a rapidez desejada e outros fatores. Obviamente que a cegueira branca da história acaba levando a reações mais extremas, mesmo porque causa imediata incapacitação em todos os infectados, funcionando como uma alegoria à cegueira causada pela irracionalidade.

Alguma metrópole
Alguma metrópole

Uma das exigências do autor é que a história não se passasse em um local específico. Por isso, a produção escolheu como principal locação a cidade de São Paulo, que representa uma grande metrópole contemporânea, mas não é tão reconhecida pelas audiências americanas e europeias. O público brasileiro pode identificar facilmente vários dos pontos mostrados, mas a ideia de um espaço genérico é reforçada pelas placas traduzidas para o inglês, fachadas de lojas e empresas modificadas, táxis amarelos e outros elementos.

Caos nas ruas da cidade
Caos nas ruas da cidade

É possível identificar vários locais como o Viaduto do Chá, o Minhocão, o Vale do Anhangabaú, o Teatro Municipal, o Shopping Light, o Rio Pinheiros, a ponte Estaiada, o bairro Morumbi, a Avenida 9 de Julho, o Memorial da América Latina e outros. Fiquei pensando no trabalho que eles tiveram para filmar em vários pontos de uma cidade tão movimentada transformados pelo abandono e destruição. Além disso, foram feitas imagens adicionais em Osasco, no Brasil; em Guelph, no Canadá; e em Montevidéu, no Uruguai.

Elenco diversificado
Elenco diversificado

Também nesse aspecto de universalidade, percebe-se facilmente a intenção de criar um microcosmo do mundo ao escalar um elenco que representa diferentes culturas, contando com atores de diversos países e raças. Temos ali caucasianos, negros, asiáticos e latinos entre os personagens principais, homens e mulheres, com representantes de diferentes idades e classes sociais.

Desespero pela sobrevivência
Desespero pela sobrevivência

Embora possa ser vista e compreendida de forma literal, a história serve como uma metáfora do lado obscuro da natureza humana, mostrando o preconceito, o egoísmo, a violência e a indiferença com que tratamos uns aos outros. A fragilidade das estruturas sociais é evidenciada com a rapidez com que os personagens se voltam para comportamentos que podem ser comparados com o de animais irracionais em busca de formar grupos, defender territórios, dominar os mais fracos e garantir a sobrevivência a qualquer custo.

Já estamos cegos
Já estamos cegos

No fim das contas, o filme nos deixa uma profunda reflexão sobre o que não podemos ou decidimos não enxergar, já que vivemos em contato com atrocidades diversas que buscamos ignorar para continuar nossas vidas de uma maneira mais confortável, sem pensar no sofrimento do outro. Podemos até mesmo pensar se aquelas pessoas ficaram realmente cegas em um sentido físico de não poder enxergar ou se já eram cegas emocionalmente e racionalmente. Enfim, um filme importante para esses tempos sombrios.

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