Título original: Qu’est-ce qu’on a fait au Bon Dieu?
Ano: 2015
Direção: Philippe de Chauveron
Elenco: Christian Clavier, Chantal Lauby, Émilie Caen, Frédéric Chau e Frédérique Bel.
Procurando por filmes em francês para ajudar a me familiarizar mais com a língua, encontrei essa comédia no Netflix. O longa-metragem conta a história de um casal de burgueses franceses moradores de Chinon, comuna importante como um ponto de defesa na era medieval por se localizar no encontro dos rios Vienne e Loire e que se destaca atualmente pelos seus vinhos, castelos e cidade histórica, atraindo muitos turistas.

Vivendo em uma grande propriedade, eles são conservadores, do tipo que acusam as pessoas de serem comunistas e defendem os valores familiares, seguindo a doutrina católica e os bons costumes, mas repletos de preconceitos, com suas visões sobre outras culturas aparecem em forma de piadas ou comentários maldosos. O problema é que três de suas quatro filhas se casaram com imigrantes de diferentes religiões e origens, que passam longe de serem aprovados pelos mais velhos.

A entrada de um mulçumano, um judeu e um chinês na família gera diversos conflitos culturais, já que os pais não conseguem esconder seu desgosto com as escolhas das filhas. A última esperança deles é que a última solteira encontre um marido católico, branco, trabalhador e rico, chegando a forçar um encontro com um par que acreditam ser ideal. Trabalhando com clichês, racismo e preconceitos tanto para retratar quanto para questionar as atitudes dos personagens, o filme busca o riso no exagero das situações e falas como forma de crítica. Isso pode causar certa estranheza e até mesmo revolta em parte dos espectadores, seja por serem mais sensíveis ao tema, por não entender o estilo do filme como uma crítica ou por achar que não se deve rir do tipo de piadas mostradas em nenhuma situação.

Eu confesso que achei interessante e engraçado porque o roteiro não poupa ninguém, já que as pessoas que poderiam ser tidas como vítimas também têm um comportamento bastante questionável, mesmo entre si. Além disso, são inseridos novos personagens que trazem outras perspectivas, inclusive contra os próprios franceses. Também são feitas piadas com relação ao machismo do pai, que vê as filhas como uma propriedade, à religião católica, na figura de um padre com comportamento no mínimo questionável, e por aí vai. Apesar disso, o filme retrata os temas de forma leve, permitindo que o espectador se divirta, mas que também possa identificar facilmente como tudo isso se aplica à vida real de forma mais séria. Podemos, inclusive, pensar nos nossos próprios preconceitos velados.

Em diversos momentos, o filme mostra a França atual como um local que possui uma população diversificada, mas com grande separação entre as classes, crenças e origens. Essas tensões raciais em uma comédia foram bem recebidas pelo público e pela crítica de um modo geral, garantindo a Que mal eu fiz a Deus? a maior bilheteria do ano no país. Já os Estados Unidos e a Inglaterra, por exemplo, acabaram optando por não lançar o longa-metragem nos cinemas por achar que esse assunto delicado foi tratado de maneira leviana. No fim das contas, vai depender da perspectiva de cada um. De qualquer maneira, não vá esperando nada inovador ou mais rebuscado no sentido artístico. É um filme bem sessão da tarde, divertido e sem maiores pretensões.