Título original: Sonic the hedgehog
Ano: 2020
Direção: Jeff Fowler
Elenco: James Marsden, Ben Schwartz, Jim Carey e Tika Sumpter.
Sonic é um dos personagens mais famosos do mundo do videogame. Criado em 1991 e alçado a um sucesso imediato, há muito ele ultrapassou os limites dos jogos para entrar no imaginário popular, já tendo aparecido em diversas animações, histórias em quadrinhos, livros, roupas e acessórios, brinquedos e outros produtos, muitos oficiais e outros criados por fãs. Mas somente em 2020, depois de muitos anos de projetos engavetados, ele ganhou seu próprio filme longa-metragem em live action.

Em 2019, finalmente foi lançado o primeiro trailer do filme previsto para lançamento no fim do mesmo ano. Entretanto, a reação do público ao design do personagem principal foi tão negativa que os responsáveis pela produção a adiaram por três meses para terem tempo hábil de fazer as adequações necessárias. O Sonic já teve, nos jogos, aparências diversas, muitas vezes separadas entre clássica (2d) a e moderna (3d), além das variações em outras plataformas. O problema é que a versão do filme se distanciava demais do que o público está acostumado, além de ser pura e simplesmente feia: com características humanas, ele tinha olhos menores, pernas alongadas, dentes evidenciados e outros problemas. Basicamente, ele era muito real, pouco cartunesco. Com isso, todo mundo desacreditou no projeto e já estava esperando uma bomba.

Felizmente, eles conseguiram dar a volta por cima e o resultado agradou aos espectadores, fazendo com que Sonic: O filme se tornasse a maior estreia de uma adaptação de jogos nos cinemas americanos. Considerando a atual crise causada pela propagação do coronavírus, que fez com que muitas salas de cinema fossem fechadas e o lançamento na China, um dos maiores mercados do mundo, fosse adiada indefinidamente, pode-se dizer que a bilheteria continua a surpreender. Imagino que talvez ele tenha agradado tanto ao público justamente devido às baixas expectativas. Mas, provavelmente, os produtores sabiam que tinham em suas mãos uma boa obra, já que deixaram um gancho para a continuação – não deixe de assistir à cena extra que aparece após os créditos.

Embora tenha a sua própria linguagem e funcione bem de forma independente, o longa metragem faz diversas referências aos jogos e ganha pontos pela nostalgia. Algumas menções são bem óbvias como o design do mundo de onde vem o ouriço, com sua textura quadriculada, vegetação típica, rampas e loops, mas também nas características físicas e nos poderes do personagem. Também são claros os artefatos tecnológicos usados pelo vilão, sempre aparecendo com partes mecânicas e luzes vermelhas. Outras alusões são mais sutis, como o movimento que o Sonic faz quando está correndo entre os carros na cidade, a trilha sonora com sugestões às músicas clássicas, efeitos sonoros, como quando ele recupera um anel, enquadramentos e planos, algumas falas, etc.

No fim das contas, os efeitos especiais se mostraram bem feitos, o que se justifica pelo diretor já ter trabalhado com animação e estar estreando na direção de um longa metragem. É verdade que dá para perceber algumas falhas na interação entre os atores e o personagem digital e em passagens em que foi usado um fundo de tela verde, mas não é algo que chega a incomodar como no infame trailer original. As características do personagem principal foram respeitadas e a nova versão do Sonic ficou ótima, com uma dublagem do ator comediante Ben Schwartz que traduz bem sua inocência e seu humor característicos.

As cenas de ação, a leveza com que o enredo é apresentado, as boas piadas e, principalmente, a construção tanto física quanto da personalidade do Sonic, podem ser considerados acertos. Outro êxito é i trabalho dos veteranos James Marsden, no papel de um policial, e de Jim Carey, perfeito para interpretar o caricato vilão – já não consigo imaginar outra pessoa no lugar dele, que pode voltar às caras e poses exageradas que marcaram o início de sua carreira no cinema com filmes de comédia. O elenco de apoio também é bastante competente.

Não que você deva esperar por uma obra prima cinematográfica, mas é um bom filme família, que diverte sem grandes pretensões de inovar. No enredo, por exemplo, podem ser identificados todos os clichês do gênero. Também não é um filme memorável, mas eu achei bem eficiente como uma introdução aos personagens que, devido ao sucesso, certamente aparecerão nas próximas edições do que deve se transformar em uma franquia. Aqui temos a origem do Sonic, um ouriço-cacheiro (muitos se confundem e acham que é um porco-espinho) que precisa fugir de seu mundo ao ter seus poderes descobertos. Vivendo em isolamento em uma cidade fictícia no estado de Montana, nos Estados Unidos, ele acaba perseguido pelo vilão e finalmente faz amigos, que ajudam a lhe proteger.

A maior parte das gravações da pacata Green Hills (referência à fase clássica do game) foram feitas em Ladysmith, no estado de British Columbia, no Canadá. Com apenas 12 km2 de área, ela é conhecida por suas florestas e montes verdejantes, sendo o cenário ideal do ponto de vista estético. Também foram feitas filmagens em Vancouver, Fanny Bay, Coquitlam e Burnaby, todas na mesma área. A região é bastante usada no cinema por ter uma grande variedade geográfica e pelos incentivos dados pelo governo para produções estrangeiras – por isso muitos filmes que se passam nos Estados Unidos e até mesmo em outros países são, na verdade, produzidos em solo canadense.

Sonic também visita a calorosa São Francisco e vários de seus pontos turísticos aparecem na tela, já que as filmagens foram feitas por lá mesmo, além de rápidas aparições em outros pontos do nosso planeta. Já a maior parte das cenas com o Jim Carey foram gravadas em estúdio em Nova York. Uma das facetas encantadoras do cinema é justamente a capacidade de nos fazer viajar sem sair do lugar e até nos enganar para que as imagens de diferentes cidades sejam mescladas na edição e pareçam estar juntas. E que passeio gostoso foi esse filme!