Título original: Animal farm – A fairy story
Ano: 1945
Autor: George Orwell
George Orwell, pseudônimo do escritor Eric Arthur Blair, nascido em Bengala, na Índia sob domínio britânico, é considerado por muitos como um conservador por sua posição misógina, já que tinha uma escrita voltada para os homens e problemas com mulheres, e homofóbico, o que aparece claramente em alguns textos, segundo o que li. Mas também dizem que ele era um visionário, anarquista e antiamericano. Seja como for, seu destaque está mesmo na produção literária, através da qual combatia sem trégua o nazismo, o fascismo e o imperialismo, defendendo a liberdade e a igualdade. No campo político, definitivamente não era nada conservador, como pode ser observado nas críticas certeiras contidas em sua obra mais conhecida, 1984.

Os textos jornalísticos e livros do escritor, que morreu cedo e ainda pobre, vítima de tuberculose, são assustadoramente atuais na crítica aos sistemas políticos totalitários que dominaram o século XX, além de tratar temas como a linguagem, o uso da mídia, a cultura de massa, a censura, a violência, a preocupação com o meio ambiente e outras questões, muitas delas à frente de seu tempo. Não é à toa que A revolução dos bichos tenha sido rejeitado por vários editores e causado um grande mal-estar na época de seu lançamento, já que foi imediatamente entendido como uma crítica feroz à ditadura comunista de Stalin na Rússia, regime que se posicionava contra o nazifascismo e tinha como aliados os governos ocidentais de direita. Poucos anos depois, entretanto, a situação se inverteu com o acirramento da Guerra Fria, já que passaram a usar o texto como uma propaganda anticomunista, situação incômoda para o próprio autor, que era socialista e de esquerda. Até os dias atuais a obra é proibida em diversos países, já que pode ser entendido de forma abrangente como uma crítica a qualquer regime ditatorial.
A sátira, que se passa na Inglaterra, mostra a revolta de animais cansados de serem explorados pelos humanos, tomando posse de uma fazenda e propondo um sistema cooperativo e igualitário. Ao longo do desenvolvimento da trama, é fácil identificar a referência a figuras como Karl Marx (autor das ideias), Leon Tróski (líder revolucionário) e Josef Stalin (tirano). Como se pode imaginar, não demora muito para que alguns bichos assumam o poder e passem a usufruir de privilégios, restituindo aos poucos um regime de opressão que irá massacrar os dissidentes. Passadas várias décadas desde seu lançamento, A revolução dos bichos há muito transcendeu os marcos históricos da era stalinista e pode ser lida como uma das mais extraordinárias fábulas sobre o poder já produzidas.
De fato, o prefácio (que acabou não sendo publicado) sugerido pelo próprio George Orwell para a primeira edição inglesa pode bem ser aplicado à atual conjuntura política brasileira, cujo governo se posiciona abertamente contra a imprensa livre e às manifestações artísticas. Diz ele:
“…existe hoje uma difundida tendência a argumentar que a democracia só pode ser defendida por métodos totalitários. Se a pessoa tem apego pela democracia, diz o argumento, precisa esmagar seus inimigos lançando mão de qualquer meio. E quem são os inimigos? Sempre se diz que não são só os que a atacam aberta e conscientemente, mas os que “objetivamente” a põem em risco através da difusão de doutrinas equivocadas. Noutras palavras, a defesa da democracia envolve a destruição de qualquer independência de pensamento. (…) Essas pessoas não veem que, quando se endossam métodos totalitários, pode chegar um momento em que deixarão de ser usados a favor para se voltarem contra o indivíduo.”
Além da versão impressa, também é possível ler no Kindle, dispositivo que mudou a minha relação com a leitura ao permitir carregar uma quantidade enorme de livros em um aparelho cuja bateria dura por vários dias, tem uma tela que não cansa os olhos, dá acesso imediato a dicionários de significado e tradução, marca e compila trechos e outras vantagens.