A ilha misteriosa ★★★☆☆

Ano: 1874
Autor: Jules Verne

Dentre os livros que formam a série Viagens extraordinárias: 20 mil léguas submarinas, A ilha misteriosa, Viagem ao centro da Terra e A volta do mundo em 80 dias, esse é o mais extenso e cansativo. Eu não tenho problema com o número de páginas, mas o desenrolar lento da história e as passagens descritivas muito grandes acabou deixando a leitura morosa para mim. Apesar disso, gostei do conteúdo e considero que seja uma obra interessante para os fãs do gênero.

Jules Verne, considerado por muitos o pai da ficção científica, construía seus enredos com base em conhecimentos e descobertas da época para criar situações fantásticas. Suas aventuras envolvem a exploração de espaços inusitados como o fundo o oceano, culturas exóticas, cavernas e, nesse caso, uma ilha que não consta nos mapas, sempre com o desenvolvimento da relação entre os personagens e mudanças na visão do mundo em que vivemos.

Lançado em 1874, A ilha misteriosa mostra a luta de cinco “náufragos do ar” para sobreviver em um local totalmente sem estrutura após um balão desgovernado e rasgado por um furacão cair em uma região inóspita no sul do Oceano Pacífico. Tendo somente a roupa do corpo, o pequeno grupo precisa percorrer uma longa trajetória que passa pelo domínio do fogo, a cerâmica rudimentar, o advento da agricultura e pecuária, a fabricação de nitroglicerina e o domínio da energia elétrica, representando a evolução da civilização.

Também são tratadas questões sensíveis da época, já que os personagens se encontravam presos durante a guerra civil americana, ocasião em que o norte estava em conflito com o sul do país pela liberação dos escravos, quando resolveram fugir no balão. Embora eu acredite que tenha sido avançado para a época, o texto tem algumas passagens questionáveis quando lidas nos dias atuais. Isso não chegou a me incomodar pois tenho consciência de que a sociedade mudou bastante e também o nosso olhar com relação ao racismo e outras questões. Acho que a obra é bem representativa do final do século XIX e a edição com dezenas de ilustrações originais ajuda a nos posicionar nessa época.

Falando em desenho, eu não sei se é uma limitação exclusivamente minha, mas eu tive certa dificuldade em me localizar no espaço durante algumas passagens da leitura, então recomendo consultar o mapa do cenário para ter uma noção melhor do terreno e das distâncias entre determinados pontos. É possível encontrar alguns com visual bem atrativo e esclarecedor na internet, como o que disponibilizo acima.

Alguns acontecimentos do enredo estão relacionados a outras obras do autor – não vou dizer exatamente qual para não estragar nenhuma surpresa. Apenas recomendo que a leitura seja feita de acordo com a ordem de lançamento: Viagem ao centro da Terra (1864), 20 mil léguas submarinas (1870), A volta do mundo em 80 dias (1872) e A ilha misteriosa (1874). Nesse meio tempo teve também Os filhos do capitão Grant, lançado em 1868 e dividido em três partes – América do Sul, Austrália e Oceano Pacífico, que faz parte do mesmo universo, além de diversas obras de Jules Verne.

Além da versão impressa, também é possível ler no Kindle, dispositivo que mudou a minha relação com a leitura ao permitir carregar uma quantidade enorme de livros em um aparelho cuja bateria dura por vários dias, tem uma tela que não cansa os olhos, dá acesso imediato a dicionários de significado e tradução, marca e compila trechos e outras vantagens.