Instalado em um dos mais reconhecidos pontos turísticos de Salvador, na Bahia, o forte que também abriga o Farol da Barra, está esse museu criado em 1998 com um rico acervo de achados arqueológicos, miniaturas de embarcações e vários outros elementos que dizem respeito à navegação e sinalização náutica, além de uma mostra permanente sobre a geografia, história, antropologia e cultura da região. Os dias de abertura, os horários de funcionamento, os valores dos ingressos, o calendário de eventos e outras informações podem ser acessados na página oficial.

A visita já vale a pena pela arquitetura do Forte de Santo Antônio da Barra, uma das primeiras instalações militares do Brasil. Erguido em meados do século XVI com pedra e cal, acabou sendo reconstruído posteriormente e tem a sua configuração atual datada do final do século XVII, sendo um belo exemplar do da defesa dos litorais desse período. Também nessa época, mais especificamente no ano de 1698, foi instalado ali o Farol da Barra, então com lampiões alimentados com óleo de baleia.

A construção do farol está ligada ao trágico naufrágio do galeão português chamado Santíssimo Sacramento, na noite de 5 de maio de 1668, responsável pela morte de mais de 400 pessoas e a perda de uma valiosa carga. Muitos dos objetos foram resgatados a partir de 1976, três séculos depois, em uma parceria da Marinha do Brasil com o Ministério da Educação e a Petrobras. A primeira pesquisa arqueológica submarina do país trouxe à tona armamentos, instrumentos de navegação, imagens sacras, utensílios de cozinha e muitos artigos pessoais como alianças, dedais e botões. Parte dos achados, que contribuíram para ampliar o conhecido da nossa história, encontra-se em exposição no museu.

Um dos destaques são os vasos de barro, um artigo que teve sua origem na Palestina em meados do segundo milênio a.C. e se popularizou como o principal meio de transporte de líquidos. Produzidas em grande quantidade nas olarias europeias, as jarras demonstram a força do mercado do azeite de oliva e do vinho na península ibérica, sendo feitas especialmente ao sul da Espanha e em cidades como Barcelos, Miranda do Corvo e Viana do Alentejo, em Portugal. Desse naufrágio, foram resgatadas dezenas desses vasilhames.

Falando em embarcações, o tema não poderia faltar nesse museu localizado na entrada da Baía de Todos os Santos, assim batizada em 1501 pelo navegador Américo Vespúcio. Com suas águas calmas, era o local ideal para receber os barcos com mercadorias, passageiros e também escravos, tornando Salvador a cidade mais importante da colônia nos primeiros séculos da ocupação portuguesa. As exposições detalham desde a jangada indígena, a canoa africana e o saveiro, uma genuína invenção baiana, até os barcos maiores, com várias maquetes.

Também visitei a sala das miniaturas com diversos barquinhos expostos dentro de garrafas de vidro. A arte era produzida por antigos marinheiros nos momentos de folga, durante as longas travessias marítimas, e originou um estilo próprio, com ferramentas específicas para sua execução. A coleção dos trabalhos do engenheiro Maneca Brandão é composta por peças criadas com madeira, papel, tecido e metais e retrata em detalhes e com fidelidade histórica os cascos, mastros, velas e canhões dos barcos ao longo dos séculos.

Também são tratados temas do cotidiano, como os trabalhos, a gastronomia e a religiosidade, essa última com um fato bastante inusitado: a carreira militar da imagem de Santo Antônio. O primeiro padroeiro da cidade recebeu a patente de soldado em meados do século XVII, sendo elevado a capitão em 1705. Ele ganhou promoções e vencimentos correspondentes ao cargo por muitos anos, só tendo seu soldo cassado em 1912, quando já detinha o posto de tenente-coronel.

Além de conhecer diversos aspectos da vida marítima e da história local e do nosso país, a visita ao Museu Náutico da Bahia permite subir pelo interior do Farol da Barra em uma escada circular. Dá uma certa canseira porque são muitos degraus, mas se tem como recompensa uma bela vista do mar, das praias e da cidade, além de outras construções históricas como o Forte de Santa Maria e o Forte São Diogo. Certamente um passeio imperdível.
Uma pequena correção: a urbe mais rica do Brasil no século XVI era Olinda, porém a vila foi completamente destruída pelos holandeses em 1631, que escolheram o Recife como a capital da colônia de Nova Holanda. Pernambuco foi a mais próspera capitania do Brasil durante todo o Ciclo do Açúcar, e Recife era seu principal porto. Foi na atual área metropolitana do Recife que o espanhol Vicente Yáñez Pinzón descobriu o Brasil em 26 de janeiro de 1500 — um feito comprovado, amplamente documentado. Foi nos arredores do Recife que se iniciou a exploração do pau-brasil, árvore conhecida em toda a Europa como “pau-de-pernambuco” (a madeira é chamada de “pernambouc” na França, por exemplo). E foi na Ilha de Itamaracá, também nos arredores da capital pernambucana, que se estabeleceu em 1516 o primeiro “Governador das Partes do Brasil”, Pero Capico, que ali construiu o primeiro engenho de açúcar de que se tem notícia na América Portuguesa. O primeiro farol das Américas foi o farol do antigo Palácio de Friburgo no Recife, e não o primitivo farol do Forte da Barra como insiste o Museu Náutico da Bahia.
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Legal. 😀
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