O pequeno distrito de Trancoso, que pertence ao município de Porto Seguro, tem sua história diretamente ligada ao “descobrimento” do Brasil já que, segundo consta no Serviço de Documentação da Marinha, foi justamente ali, no Rio dos Frades, que teria desembarcado a esquadra de Pedro Álvares Cabral no dia 22 de abril de 1500. Já em 1586, foi estabelecida no local uma aldeia jesuíta chamada São João Batista dos Índios. Mas o fato é que o povoado se manteve desconhecido do grande público até a chegada dos hippies no final dos anos 1970. Nessa época, o local sequer contava com energia elétrica e o acesso era difícil.
Ainda hoje, a população passa pouco dos 11.000 habitantes, segundo o censo de 2010, mas a transformação da região nas últimas décadas pelo potencial turístico pode ser observada pelo crescimento do número de casas, a construção de estradas e do aeroporto, o desenvolvimento do comércio, o grande número de pousadas e hotéis e também o aumento da circulação de carros. Em muitos pontos, por exemplo, é necessário pagar por um espaço para estacionar. Mesmo nas vias públicas é cobrado algum valor pelas vagas, então é importante incluir esse gasto no seu planejamento caso esteja viajando de carro próprio ou opte por alugar um veículo.
Antes desse boom do turismo, essa área era apenas um conjunto de pequenas casas distribuídas em volta de um grande gramado usado como campo de futebol pela população local. Ao fundo, a igreja do povoado e um mirante com vista para o mar. Hoje, o espaço tem o nome oficial de Praça São João Batista e as construções formam o centro histórico da cidade. A maioria das pessoas, entretanto, continua a se referir ao local como Quadrado – ainda que seja, na verdade, um grande retângulo.
As antigas casas feitas em estilo colonial encontram-se muito bem preservadas e chamam a atenção pelo uso de cores intensas, criando um ambiente animado. Em muitas fachadas, é possível encontrar placas que contam a história de seus moradores e da construção, o que ajuda a transportar o visitante ao passado. A maioria delas foi convertida em estabelecimentos comerciais para lucrar com o turismo, hoje a principal atividade econômica de Trancoso. Ali funcionam pousadas, restaurantes, centros culturais, bares e lojas.
O interior das construções é bem mais amplo do que sugerem as suas modestas fachadas e vale a pena entrar em algumas para conhecer melhor. Falando em lojas, além dos produtos de marcas conhecidas, também é possível encontrar muito da produção local, inclusive em barracas montadas pelos populares, que vendem seus artesanatos e também alimentos como o chocolate e tapiocas, principalmente perto da igrejinha.
E o destaque fica mesmo para a Igreja do Quadrado, como é chamada comumente, que tem como padroeiro São João Batista. Segundo historiadores e depoimentos de antigos moradores, sua origem remonta ao trabalho evangelizador dos padres jesuítas na região desde os primórdios da colonização portuguesa no país. A estrutura atual foi erguida com pedras de arrecifes e um material típico da região chamado de reboco Santa Fé, composto de areia e óleo de baleia, entre 1815 e 1817, quando o convento e a biblioteca originais foram demolidos.
Eu recomendo dar uma volta completa na igreja para observar todos os detalhes da construção que, embora seja simples, tem elementos bastante interessantes. Além disso, a visita ao seu interior permite ver altares e imagens originais e uma bela decoração. Dos eventos religiosos, destacam-se as festas de São Sebastião (20 de janeiro), São Brás (03 de fevereiro) e do Divino Espírito Santo (50 dias após o domingo de Páscoa). Também é possível acompanhar as missas e o local é bastante procurado para a realização de casamentos. As informações podem ser obtidas na página oficial.
Outro ponto imperdível fica justamente atrás da igreja. O mirante foi criado naturalmente no topo de uma falésia de terras altas e íngremes à beira mar pela ação da erosão marinha, proporcionando uma vista incrível do mar e da vegetação circundante. À esquerda ficam Arraial d’Ajuda, Porto Seguro, Santa Cruz de Cabrália e Belmote. Já do lado direito encontram-se as praias de Caraíva.
Nesta região, as praias de mar aberto, algumas com ondas fortes, são cortadas por pequenos rios com manguezais. Do mirante, é possível ver a baía do Rio Trancoso, que divide a Praia dos Nativos da Praia dos Coqueiros, ambas protegidas por recifes que formam piscinas naturais de águas em tons azuis e verdes, ótimas para banho e pesca. É possível ter acesso a elas por caminhos que descem do Quadrado. Eu aproveitei para visitar essas praias próximas do centro, que contam com uma ótima estrutura de barracas.
Aliás, essa parte histórica fica bem mais vazia durante o dia, já que a maioria dos turistas está justamente curtindo as praias. Eu aproveitei o clima tranquilo para passear com calma sob a sombra das árvores e tirar fotos nas fachadas das casas, cada uma mais linda que a outra em sua simplicidade. À medida que as pessoas voltam dos passeios pela região, o movimento aumenta bastante e todas as lojas, restaurantes e outras coisas ficam abertas. É durante a noite que os bares são tomados por clientes que aproveitam para beber e ouvir uma música ao vivo.
Dessa vez eu não esperei pelo pôr-do-sol e acabei fazendo somente um almoço tardio no Restaurante Rabanete. As opções gastronômicas ali não costumam ser baratas, o que era de se esperar já que Trancoso é um destino caro de um modo geral. De qualquer maneira, o passeio pelo local é extremamente agradável e não dá para visitar a região sem tirar um tempinho para conhecer esse que é um dos pontos mais famosos da Costa do Descobrimento.
Viajento 