Fyre Festival

FYRE Festival: Fiasco no Caribe ★★★☆☆

Título original: FYRE: The greatest party that never happened
Ano: 2019
Direção: Chris Smith

Imagine um festival de música luxuoso promovido por influenciadores digitais de peso como Kendall Jenner e outras modelos famosas, a maioria delas sem relevar que foram pagas para fazer a divulgação, dando a ideia de que estariam genuinamente empolgadas com a ideia e, inclusive, estariam presentes. Adicione aí um cenário paradisíaco, mais especificamente uma ilha privada nas Bahamas que teria pertencido a ninguém menos que o chefão do tráfico de drogas internacional, Pablo Escobar. Não se esqueça dos preços exorbitantes que tornariam a experiência única, algo que jovens ricos enxergam como a oportunidade de se mostrar publicamente como a nata da sociedade. Receita perfeita para o sucesso, certo? Só que não.

Ilha usada no material promocional
Ilha usada no material promocional

Confesso que eu nunca tinha ouvido falar sobre o FYRE Festival até assistir ao documentário lançamento pelo Netflix, embora o caso tenha tido grande repercussão nos últimos anos. O evento realizado em 2017 foi organizado para promover um aplicativo cuja proposta era conectar possíveis contratantes a artistas no agendamento de shows. Na verdade, é possível dizer que ele foi desorganizado, uma vez que a empreitada envolveu propagandas enganosas, fraudes fiscais, total falta de preparo e tantos outros problemas que só assistindo ao filme para ter uma dimensão.

Barracas vendidas como hospedagem de luxo
Barracas vendidas como hospedagem de luxo

Com ingressos vendidos entre 500 e 1500 dólares, pacotes VIPs no valor de 12.000 dólares que incluiriam passagens aéreas em jatinhos privados, hospedagens luxuosas e refeições criadas por chefs de celebridades, além da necessidade de gastos extras diversos, o festival prometia a performance de mais de 30 atrações musicais. O que se encontrou foi uma estrutura incompleta em péssimas condições, com tendas espalhadas por um estacionamento, falta de estrutura sanitária e comidas de baixa qualidade. Também houve um deslocamento do local, que passou a ser em Exuma em vez da ilha privada prometida. Além disso, as atrações musicais cancelaram suas participações ao perceberem que estavam embarcando em um navio que afundava. Com isso, o FYRE Festival foi cancelado.

Local de realização do evento
Local de realização do evento

Não me entendam mal. Eu ainda não visitei as Bahamas, um país composto por centenas de ilhas no Caribe que parece ser, realmente, um local paradisíaco. Mas não pude deixar de fazer uma reflexão enquanto via as imagens tão bonitas e convidativas dos materiais de divulgação. Muitas vezes a gente visita um local, chega em uma hospedagem, come em um restaurante, vê pessoalmente uma obra de arte e se decepciona porque a realidade é diferente do que víamos nas fotografias ou criou-se tanta expectativa que a possibilidade de frustração é imensa. Obviamente que, nesse caso, o problema foi muito mais grave, já que se agiu de má fé.

Ja Rule e Billy McFarland
Ja Rule e Billy McFarland

Um fato interessante e irônico desse documentário é que a agência de publicidade que fez a campanha de marketing do festival também foi responsável pela coprodução do filme. Se por um lado isso garantiu o acesso a um incrível material, com imagens que mostram todo o planejamento do evento com detalhes, também é possível pensar que teve grande influência em como foi tratado o tema. As responsabilidades do fracasso do festival, por exemplo, recaem todas sobre Billy McFarland, o empreendedor que acabou sendo condenado pela justiça por fraude. A partir de certa parte do longa metragem, Ja Rule, rapper americano que também participava do negócio, simplesmente desaparece. Outras pessoas envolvidas basicamente dizem que estava seguindo ordens e se eximem de qualquer culpa, o que soa um tanto forçado.

Billy McFarland acabou preso
Billy McFarland acabou preso

É interessante notar que o Hulu também fez um documentário sobre o mesmo tema, o Fyre Fraud. Ele também veio cercado de controvérsias, uma vez que foi lançado praticamente junto do outro com o claro objetivo de acirrar a guerra pela audiência. A diferença é a postura mais crítica com relação a alguns dos envolvidos e a entrevista com o próprio Billy McFarland, algo que a Netflix tinha se recusado a fazer porque ele teria cobrado pelo depoimento. Basicamente, a Hulu foi criticada por dar dinheiro a um criminoso que está preso justamente por ter causado prejuízos financeiros a tantas pessoas. Além disso, as falas dele não acrescentam muito, já que são informações vagas, servindo mais como uma curiosidade. Eu, particularmente, gostei mais da produção do Netflix, mas acho interessante assistir aos dois porque eles se complementam.

Modelos na divulgação do evento
Modelos na divulgação do evento

O que ambos discutem e me chamou bastante a atenção foi o uso indiscriminado das redes sociais para a divulgação do evento, a venda de um ideal de vida inalcançável para a maior parte da população, a necessidade de se sentir incluído através de conquistas materiais, os corpos perfeitos das mulheres, a liberdade de bebedeira dos homens, as características dos chamados millennials e outras questões relativas aos tempos atuais. Muitas pessoas chegaram a se endividar para comprar os ingressos e poder mostrar no Instagram e no Twitter que faziam parte do seleto grupo de pessoas que estariam no FYRE Festival.

Postagens em redes sociais marcaram o evento
Postagens em redes sociais marcaram o evento

Obviamente que ver essas pessoas, notadamente influenciadores e jovens ricos, se darem mal foi um dos grandes divertimentos de quem ficou para trás. E é irônico perceber que as mesmas mídias usadas para a divulgação foram as responsáveis por alastrar as notícias do desastre que a experiência se tornou, com vários posts viralizando, incluindo diversos memes. Ou seja, a história é bem mais profunda do que apenas um evento que deu errado. É o retrato de uma geração.

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