Ano: 1967
Autora: Joan Lindsay
Considerado por muitos críticos literários como um dos melhores e mais importantes romances australianos de todos os tempos, esse livro é uma ficção histórica que se passa no ano 1900. O meu interesse pela obra surgiu após ter visto o filme Picnic na montanha misteriosa, dirigido por Peter Weir e lançado em 1975. A história também foi adaptada várias vezes para o teatro, incluindo alguns musicais. Mais recentemente, foi feita uma minissérie de seis capítulos para o serviço de streaming Amazon Prime.
Publicado pela primeira vez em 1967, Picnic at Hanging Rock logo se tornou um clássico. O enredo gira em torno do desaparecimento de algumas mulheres durante um piquenique promovido por uma escola da alta sociedade. A atmosfera de mistério ainda causa discussões nos dias de hoje, com vários leitores e estudiosos sugerindo soluções que vão desde explicações lógicas até aspectos transcendentais para os acontecimentos. Por muitos anos também se questionou se o livro era baseado em fatos reais, algo que a escritora não fez questão de esclarecer. O breve prefácio afirma: “Se Picnic at Hanging Rock é real ou ficção, meus leitores devem decidir por si mesmos. Como o fatídico piquenique aconteceu no ano mil e novecentos e todos os personagens que aparecem neste livro estão há muito mortos, isso não parece importante”.

Seja como for, a história é contada como sendo real e esse foi um dos motivos que gerou tanto interesse do público e da crítica por seus mistérios. De fato, alguns elementos são, pelo menos, baseados em experiências de vida da autora da obra. Joan Lindsay afirmava que relógios costumavam parar de funcionar quando ela chegava perto, sendo esse um dos elementos intrigantes do enredo. Além disso, ela estudou em uma escola para meninas em Melbourne que, posteriormente, seria transferida para a cidade de Woodend, a cerca de 8 km de distância das montanhas. É possível que alguns dos personagens sejam inspirados em pessoas que ela conheceu nesse período, além de em si própria.

Joan Lindsay diz que o livro, escrito em apenas duas semanas, é baseado em sonhos que teve sobre um piquenique de verão na montanha, que ela conhecia bem de viagens quando era criança. Joan contou a uma das funcionárias de sua casa que o sonho foi tão real que, ao acordar, ela ainda conseguia sentir a brisa quente soprando através das árvores e ouvir as risadas e conversas das pessoas que imaginou, além da alegria e leveza de espírito enquanto partiam para a alegre expedição. Para o título, buscou inspiração na pintura At the Hanging Rock, de William Ford, que ficava pendurada no escritório onde trabalhava o seu marido, Daryl Lindsay, no National Gallery of Victoria.

Hanging Rock é o nome popular do Monte Diógenes, uma distinta formação geológica de origem vulcânica localizada na pequena cidade de Woodend, na Austrália, a 70 km de Melbourne. Surgido há mais de seis milhões de anos, o cenário é largamente explorado na obra e passou a ser bastante procurado por turistas após a publicação do livro e do filme. Um dos costumes é gritar o nome da personagem “Miranda” de cima alguma das rochas. A influência é tão forte e explorada até os dias de hoje que gerou um movimento pela valorização da história real do local, originalmente ocupado por povos nativos. A maioria da população aborígene foi dizimada pela varíola ou assassinada pelos colonizadores ingleses que dominaram a região a partir do século XIX.
De fato, Picnic at Hanging Rock faz o relato de uma Austrália dominada pelos europeus e sua visão particular sobre a geografia, história e cultura locais, atribuindo desconhecimento e algo de aterrorizante à sua paisagem, como se essa parte da terra não tivesse sido povoada e nada de importante tivesse acontecido até que os britânicos chegassem. Esse retrato da época tem semelhanças ao que aconteceu em nosso país, já que estudamos a história do Brasil a partir da chegada dos portugueses. Obviamente que a proposta do livro não é fazer um apanhado científico sobre o espaço e eu não acho que ele perca valor por não ter esse direcionamento.

Aliás, uma das coisas que eu mais gostei foi de conhecer um pouco mais sobre os costumes nas pequenas comunidades australianas do período, tão bem descritos pela autora. O que eu perdi um pouco foi por ter lido em inglês, já que não encontrei nenhuma versão da obra traduzida para o nosso idioma. O texto, embora totalmente compreensível para uma pessoa que domina o inglês, é um pouco denso e possui diversas palavras desconhecidas, o que torna a leitura mais lenta e trabalhosa. Como eu li o livro físico, acabei optando por não interromper a todo momento e entendi muitas das palavras pelo contexto. Mas Picnic at Hanging Rock está disponível também para o Kindle e outros dispositivos móveis, o que facilita a compreensão porque esses aparelhos possuem dicionário integrado. Com um clique você tem acesso à tradução ou descrição do termo, o que ajuda bastante a desenvolver o vocabulário.

Se você não tiver tanta fluência no inglês, recomendo assistir ao filme Picnic na montanha misteriosa. Mantendo-se fiel à obra original, o drama misterioso não apresenta uma solução fácil para o desaparecimento das moças, focando nas consequências do acontecimento na comunidade local. Além da versão impressa, também é possível ler no Kindle, dispositivo que mudou a minha relação com a leitura ao permitir carregar uma quantidade enorme de livros em um aparelho cuja bateria dura por vários dias, tem uma tela que não cansa os olhos, dá acesso imediato a dicionários de significado e tradução, marca e compila trechos e outras vantagens.