San Antonio – Senta que lá vem história

Embora pouco se ouça falar de brasileiros indo fazer turismo em San Antonio, o fato é que eu descobri se tratar de um destino bastante interessante. Trata-se da sétima cidade mais populosa dos Estados Unidos e a segunda do estado do Texas, com mais de 1,5 milhão de habitantes. Destacada como um espaço que recebe pessoas de todo o mundo, seja pela realização de convenções e eventos de nível mundial, seja para conhecer seus atrativos, o fato é que ela merecia ser mais famosa entre os viajantes. Lá inclusive tem parques de diversão como o Six Flags Fiesta Texas e o SeaWorld. Mas a sua importância maior está ligada à sua história, então vamos focar nisso.

Originalmente, essa área era ocupada por povos indígenas, particularmente a tribo Payaya, que morava perto do vale do rio. Esses nativos americanos chamavam a região de Yanaguana, que significa “águas refrescantes”. O nome atual seria dado em 1691 por um grupo de missionários e exploradores católicos espanhóis, que chegou ao local no 13 de junho, dia da festa de Santo Antônio de Pádua. E assim ficou conhecida a localização e o rio, bem antes de surgir um assentamento. Um bom lugar para conferir a produção artesanal e artística desses diferentes povos é o Briscoe Western Art Museum, um espaço voltado para a preservação e interpretação da arte, história e cultura do oeste americano.

Em 1709, o padre Antonio de Olivares visitou o lugar e teve a ideia de fundar ali uma missão religiosa. A autorização veio do vice-rei anos depois, que também aprovou a construção de um forte, cujo objetivo seria evitar a expansão francesa, que dominava a parte leste, e o comércio ilegal com os nativos. Com a ajuda dos indígenas, Olivares construiu a Misión de San Antonio de Valero (o atual The Alamo), o Presidio San Antonio de Bexar (forte), a ponte que ligava as duas estruturas e o Acequia Madre de Valero (canal de irrigação). A aglomeração de famílias em volta do forte e da missão foi o início da Villa de Béjar. Desse presidio, a única coisa que resta é o Spanish Governor’s Palace, que servia de residência e escritório para o comandante militar e futuro governador do estado.

Em 1719, o Marquês de San Miguel de Aguayo propôs ao rei da Espanha que famílias fossem transportadas das Ilhas Canárias, Galiza ou Havana para povoar a província do Texas. Nessa época, era necessário ter gente no local para evitar o risco de a área ser dominada por outro país colonizador. O plano foi aprovado e 15 famílias, num total de 56 pessoas, chegaram até a vila, agora chamada San Fernando de Béxar. Esses imigrantes formaram o primeiro governo civil organizado do estado e o povoado cresceu ao longo dos anos, tornando-se o maior assentamento espanhol e capital da província espanhola de Tejas. A Plaza de las Islas, atualmente Main Plaza, era o centro da cidade, ficando em frente à principal igreja, a San Fernando Cathedral. Dali irradiavam as ruas que levavam aos prédios governamentais, lojas e casas. Com isso, o local era o principal ponto de passagem e encontro dos moradores, além de abrigar os festivais religiosos, formações militares, paradas civis e eventos políticos.

Nessa época, foi formado um dos primeiros bairros da cidade. Em uma área elevada, a região ficava protegida de inundações e de ataques de tribos indígenas. La Villita, como é conhecida hoje, é uma vizinhança fechada composta por diversas construções que incluem praças, restaurantes, lojas, uma pequena igreja e outros estabelecimentos distribuídos ao longo de ruas internas. A visitação é gratuita e o espaço é liberado apenas para circulação de pedestres, não podendo entrar carros. O local também tem importância histórica por ter sido palco de conflitos da população local com os mexicanos vindos de um país já autônomo a partir de 1810.

The Texas Ranger Museum conta um pouco da história dessa época. Em 1820, Stephen F. Austin pediu e recebeu autorização do governo mexicano para a entrada de 300 famílias no território. Em poucos anos, a necessidade de criar uma força de ordem que oferecesse proteção para esses pioneiros já era evidente. Os trabalhos começaram com dez voluntários para proteger a fronteira, observando a movimentação dos povos indígenas. Não se tratavam de soldados, nem mesmo uma milícia. Eram pessoas comuns que faziam esse serviço não remunerado e, na ausência de qualquer perigo, voltavam para suas famílias e terras.

Nos anos seguintes, o Texas entraria em guerra ao lutar pela sua independência do México. Uma das batalhas mais famosas aconteceu justamente na primeira missão criada pelos espanhóis, agora conhecida como The Alamo e usada para fins militares. Os revolucionários, em menor número, foram massacrados pelos mexicanos. Apesar da derrota, a batalha ficou conhecida como um símbolo de luta e resistência e Remember the Alamo (lembre-se do Alamo) tornou-se um grito de guerra do exército texano, que conquistou a vitória pouco depois.

Na década seguinte, o Texas seria anexado aos Estados Unidos, o que gerou novas brigas com os mexicanos. Embora os americanos tenham vencido, a guerra foi devastadora para San Antonio. No final, a população havia sido reduzida em quase dois terços, ficando entre 800 habitantes. Mas isso iria mudar rapidamente pois, já em 1860, o local contava com 15.000 pessoas, muitos dos quais eram imigrantes vindos de outros países.

A St. Mary’s Catholic Chuch, que é dedicada à Virgem Maria, é a segunda mais antiga da cidade. Sua história tem início após a guerra do Texas pela independência, a partir de quando um grande número de imigrantes, principalmente da Irlanda e Alemanha, além de cidadãos do leste americano, chegou a San Antonio. A necessidade de ministrar missas a esses católicos não-hispânicos fez com que o Bispo John M. Odin estabelecesse uma nova casa. Em 1852, foi comprado o terreno e a construção em estilo gótico teve início três anos depois. A inauguração se deu em 1857 com missas em inglês e alemão. Infelizmente, o prédio foi danificado de forma irreparável em uma enchente ocorrida em 1921, que destruiu grande parte do centro da cidade. Com isso, foi construída uma nova igreja, dessa vez em estilo neo-romântico.

Alguns anos depois, os alemães construiriam a sua própria igreja, a St. Joseph Catholic Church. A construção, em estilo gótico, data de 1871 e serviu por muitos anos a essa crescente comunidade de imigrantes. O campanário foi adicionado em 1898. Friar Henry Pfefferkorn, fundador do coral de homens chamado Liederkranz, foi o responsável pelas pinturas dos murais dos altares laterais. O tradicional coral se apresenta uma vez por mês, sempre no quarto domingo, cantando músicas litúrgicas em latim, alemão e inglês. Em 1902, foram instalados os vitrais importados da Emil Frei Art Glass Factory de Munique, na Alemanha.

Após a Guerra Civil, a cidade prosperou como um centro da indústria de gado e manteve sua característica mistura de diferentes culturas, raças e idiomas. Em 1877, com a construção da primeira ferrovia e a ligação com os principais mercados e cidades portuárias, o desenvolvimento foi acelerado.

No início do século XX, as ruas do centro da cidade foram ampliadas para permitir a passagem de carros mais modernos, o que ocasionou a demolição de muitos edifícios históricos. Dessa época, destaca-se a construção do River Walk, um boulevard que acompanha o rio San Antonio e é um dos seus principais pontos turísticos. A construção inicial abriu mais de 5 km de passagens para pedestres, vinte pontes e extensas plantações de árvores e jardins. Em 1946, foi aberto o Casa Rio, o primeiro restaurante às margens da nova estrutura.

Nas décadas seguintes, a rede foi aprimorada e ampliada. Nessa época, foi aberto o Hilton Palacio del Rio, o primeiro de muitos hotéis da região. A primeira grande expansão do River Walk veio com a construção da Tower of Americas como parte do HemisFair ’68, uma feira mundial que teve como tema a confluência de civilizações na América, do Henry B. González Convention Center e o Lila Cockrell Theatre, que se destaca pelo grande mosaico em sua fachada.

A obra Confluence of civilizations foi criada pelo arquiteto e artista mexicano Juan O’Gorman mostrando a diversidade da humanidade. Ao lado direito são mostradas as civilizações grega, romana e europeia. À esquerda ficam a América do Sul e o México. No centro, San Antonio e outros elementos do estado do Texas como um astronauta e um cowboy. As imagens são formadas com 400.000 pedaços de pedras de doze cores e traduzem bem a multicultural cidade.

Em 1990, o censo relatou que a população de San Antonio era 55,6% de hispânicos ou latinos, 7,0% de negros e 36,2% de brancos não hispânicos. A influência mexicana continua a ser um dos seus elementos mais fortes, o que pode ser confirmado com uma visita ao Historic Market Square, que inclui diversas lojas de produtos artesanais, apresentações musicais e restaurantes como o Mi Tierra Café y Panadería. Também tem o Centro de Artes, onde são realizadas exposições que buscam valorizar a arte local e regional.

Em suma, a cidade é um lugar que vale a pena visitar por sua história, arquitetura, eventos, cultura e gastronomia. Eu fiquei hospedado no centro, no Red Roof Plus Downtown Riverwalk. Eu escolhi esse hotel porque achei que havia um bom custo/benefício e ficava próximo ao centro de convenções, mas há várias outras opções disponíveis como o Hilton Palacio del Rio, o Hyatt Regency San Antonio e o San Antonio Marriot Rivercenter, entre outros.