Título original: Period. End of sentence.
Ano: 2018
Direção: Rayka Zehtabchi
Muitas pessoas vêem o Oscar como uma premiação de gosto duvidoso devido à seleção comercial das obras, em sua maioria americanas. Realmente, não dá para encarar o evento como uma referência do que há de melhor no mundo. Mas os filmes são, em grande parte, realmente de boa qualidade. Além disso, é uma oportunidade de descobrir novos talentos e assuntos interessantes, principalmente nas categorias tidas como mais alternativas. Foi o caso desse curta em documentário que saiu vencedor.

Absorvendo o tabu trata da polêmica da menstruação para a população indiana. Em inglês, o título pode ser lido tanto como “ponto final. o fim da frase” quanto como “menstruação. fim da punição”. O nome em português e em inglês são ambos adequados, visto que esse evento natural e constante na vida de todas as mulheres é como um tabu e uma punição, com apenas 10% da população do país tendo acesso a produtos para higiene pessoal. E se engana quem pensa que isso acontece apenas por limitações financeiras. A falta de informação é um dos fatores. Em determinado momento, por exemplo, uma senhora explica as regras simplesmente como um “sangue ruim”, já que não tem acesso a uma explicação científica.

Essa ideia é reforçada pela sociedade, que proíbe que mulheres visitem os templos religiosos nos dias em que estão sangrando. Elas são ensinadas que se trata de um momento de impureza. A falta de acesso a absorventes também gera outros problemas, como crianças tendo que abandonar escolas. Na vida adulta, elas continuam a se esconder em casa durante o período menstrual, já que correm o risco de ter suas roupas manchadas vistas pelas pessoas nas ruas. A vergonha é tanta que as mulheres da comunidade rural de Hapur, que é retratada no filme, precisam sair a noite para enterrar os panos que usam para se limpar. E nem estamos falando de um lugar isolado, já que a cidade fica a apenas 60 km da capital Nova Deli.

Os homens, jovens ou mais velhos, tampouco tem ideia do que que acontece com o corpo das mulheres. Todos sabem que o sangramento acontece, é claro. Mas o fato é visto como uma doença, não sendo explicado e discutido como algo natural. É importante lembrar que são justamente os homens que comandam a sociedade indiana, ainda muito presa a tradições antigas e patriarcais. Abandonando a escola a partir do momento em que começam a menstruar, as mulheres se limitam a servir seus maridos ou se dedicam a subempregos. O ciclo de desinformação se renova.

Aliás, o assunto é um tabu até mesmo entre a maior parte das mulheres. Isso pode ser visto claramente na dificuldade que elas têm de tratar o tema. Era de se imaginar que, nos dias de hoje, com a globalização e a democratização do acesso à internet, isso poderia ser resolvido pelo menos em nível pessoal. Afinal, é esse o nosso recurso quando queremos pesquisar sobre algo que não temos coragem de perguntar a outras pessoas. Claramente, temos uma ideia muito errada sobre a disponibilidade da tecnologia. Até mesmo no Brasil, dados do IBGE apontam que cerca de 60% da população tinham acesso à rede em 2018. Nas famílias e entre amigos, falar sobre a sexualidade também continua sendo complicado. Imagina na Índia, um país bem mais focado em tradições…

É aí que entra o trabalho social realizado por Arunachalam Muruganantham, um indiano que criou máquinas para a fabricação de um absorvente barato e eficiente, embora de aparência bastante rudimentar. A produção, realizada pelas próprias mulheres das comunidades rurais, incentiva o uso e a conscientização, além de permitir que elas deixem trabalhos manuais para se tornarem empreendedoras e conquistarem independência financeira. É uma coisa simples, mas com potencial de trazer mudanças profundas tanto em nível individual quanto para a sociedade como um todo. O filme documentário está disponível no Netflix.
Fiquei bem interessado em assistir. É muito interessante a perspectiva de uma outra cultura diante de um assunto que para nós é tão comum.
Excelente post.
Abraço.
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Vale a pena. É curtinho, não aprofunda muito… mas achei esclarecedor mesmo assim!
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Esse documentário é incrível. Apesar de curto, mostra um panorama desse “contexto” no país e, como você disse, esclarece algumas questões. Nós gostamos bastante.
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Até assustei quando acabou, eu estava super envolvido!
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