Pedro Páramo

Pedro Páramo ★★★★☆

Ano: 1955
Autor:
Juan Rulfo

Juan Nepomuceno Carlos Pérez Rulfo Vizcaíno, mais conhecido como Juan Rulfo foi um escritor, roteirista e fotógrafo mexicano. Seu pai foi assassinado quando ele tinha seis anos de idade e sua mãe morreu poucos anos depois. Com isso, ele foi criado pelos avós, donos de terras e cuja fortuna foi arruinada pela Revolução Mexicana e a Guerra Cristera (1926-1928), uma revolta católica contra o governo do país, que perseguia a religião.

Juan Rulfo
Juan Rulfo

Após os conflitos, ele foi enviado para a escola e completou o 2° grau, mas não conseguiu entrar na faculdade causa de uma greve. Dois anos depois, ele passaria a fazer cursos de literatura na Universidad Nacional Autónoma de México enquanto trabalhava em um escritório de imigração. Juan Rulfo teve apenas três livros publicados.

Chão de chamas

O primeiro, Chão em chamas, é uma coleção de contos realistas que retratam a vida rural do país durante os conflitos que marcaram sua infância. Os mais conhecidos são ¡Diles que no me maten! (Digam a eles que não me matem!), a história de um velho em vias de ser executado pelo filho do homem que assassinou há quarenta anos atrás; e No oyes ladrar los perros (Não ouve latirem os cachorros), sobre um homem que carrega o filho machucado em suas costas à procura de um médico.

Pedro Páramo

O segundo foi Pedro Páramo, que conta a viagem de Juan Preciado até Comala, uma pequena vila rural para onde parte a pedido da sua mãe moribunda com o objetivo de procurar do pai que nunca conheceu. O livro passou por algumas mudanças de nome durante a escrita. Em duas cartas datadas de 1947 e endereçadas à sua noiva, Clara Aparicio, o autor se refere à obra como Una estrella junto a la luna (Uma estrela ao lado da lua). Já na fase final de escrita, o título era Los murmullos (Os murmúrios). Ambos fariam bastante sentido para o enredo, que trata dos sonhos e esperanças das pessoas como fonte da motivação que precisam para serem bem-sucedidas, mas também de fantasmas e da natureza etérea da verdade.

Vilarejo de Comala retratado no filme
Vilarejo de Comala retratado no filme

O título final é o nome de um dos personagens mais importantes da obra. A vida de Pedro Páramo, que seria o pai de Juan Preciado (narrador principal), é a chave para vários acontecimentos que marcam a história do vilarejo. Além disso, seu sobrenome tem um significado relevante, já que pode ser traduzido como “planície estéril”, que é o que Comala se torna como resultado de suas atitudes. Dono da maior parte das terras da região, ele tem vários filhos, estupra mulheres, se torna o responsável pela segurança da cidade, fazendo um acordo com o exército revolucionário (única indicação do tempo em que se passa a narrativa) e toma decisões que afetam toda a população.

Pedro Páramo em cena do filme
Pedro Páramo em cena do filme

O regionalismo misturado com realismo fantástico é narrado em primeira e terceira pessoa, com alternância de personagens. Não há divisão por capítulos, mas sim vários fragmentos desorganizados, sem uma sequência temporal aparentemente lógica, na qual vamos descobrindo aos poucos sobre o caráter e a vida dos moradores de Comala e também o contexto social do país. No começo do texto, Juan Preciado fala claramente que sua mente foi preenchida com sonhos e que ele deu asas à ilusão, criando um mundo em sua mente na esperança de encontrar Pedro Páramo. Em outras passagens, afirma que sua cabeça está cheia de barulhos e vozes, ficando incapaz de distinguir as pessoas vivas das aparições. Alguns leitores interpretam essas informações, bem como a própria estrutura do texto, como uma indicação de que tudo é uma jornada pelas sensações de uma pessoa esquizofrênica. Já outros, acreditam se tratar do contato com os mortos da vila abandonada. Seja como for, é uma história rica e complexa, que precisa ser lida com bastante atenção. O livro foi adaptado para o cinema em 1967, mas ainda não tive oportunidade de assistir ao filme. Fiquei curioso para saber qual seria a abordagem da obra cinematográfica.

Comprar o livro Pedro Páramo, de Juan Rulfo

Inicialmente, o romance foi recebido com certa indiferença pelo público e vendeu apenas duas mil cópias durante os primeiros quatro anos. Somente depois ele se tornou popularmente conhecido, sendo traduzido para mais de trinta línguas. Atualmente, é considerado um dos melhores e mais influentes romances da literatura hispano-americana. O realismo fantástico como se conhece hoje não teria existido sem ele. Foi dessa fonte que bebeu Gabriel García Márquez. Após seus quatro primeiros livros, o autor colombiano disse ter enfrentado um bloqueio criativo que só foi vencido com a descoberta de Pedro Páramo, em 1961. Foi essa a obra que o inspirou a escrever seu mais famoso romance, Cem anos de solidão. Outro autor influenciado por Juan Rulfo foi o peruano Mario Vargas Llosa.

O galo de ouro

Nos anos seguintes ao lançamento de Pedro Páramo, Juan Rulfo trabalhou em uma terceira obra intitulada O galo de ouro, que só seria publicada em 1980, sendo seu último livro. Além disso, a associação que leva o seu nome diz ter posse de textos inacabados do autor.

Além da versão impressa, também é possível ler no Kindle, dispositivo que mudou a minha relação com a leitura ao permitir carregar uma quantidade enorme de livros em um aparelho cuja bateria dura por vários dias, tem uma tela que não cansa os olhos, dá acesso imediato a dicionários de significado e tradução, marca e compila trechos e outras vantagens.

4 comentários

      1. Pedro Páramo
        O que posso dizer, ante o que muitos, e infinitamente acima de mim, já falaram sobre esse valoroso escritor mexicano? Até então conhecia, mas não havia lido Juan Rulfo. Obrigado a você (Viajento), pelo incentivo
        Para mim, é escrita fina, que alinhava uma trama bem elaborada, onde dois mortos (Juan Preciado e Dorotea) conversam, e aí o leitor toma conhecimento do mundo de Pedro Páramo. Para quem conhece a história do sofrimento do povo rural mexicano – e pode comparar ao sofrimento do povo brasileiro ante o poder do coronéis no campo – o livro tem grande valor. Mas não é uma abordagem meramente rural, vai além, pois traz amor, injustiça, vingança e ódio, de uma época imprecisa, embora cite Pancho Villa (1878-1923). Gostei e pretendo reler, agora mais devagar, para entender a construção desse muro (a história), tijolo por tijolo, pois Juan Rulfo é um desses que escreve como se construísse uma coluna retilínea, tijolo por tijolo. Igual a ele há muitos aqui entre nós: Graciliano Ramos, João Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz. Não faço comparação de estilos, mas ressalto a forma como escreveram.

        Curtido por 1 pessoa

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