As aventuras de Paddington ★★★★☆

Título original: Paddington
Ano: 2014
Direção: Paul King
Elenco: Hugh Bonneville, Sally Hawkings, Julie Walters, Jim Broadbent, Peter Capaldi, Nicole Kidman e Bem Whishaw

Há vários elementos da cultura de um país que acabam não sendo conhecidos por pessoas que não moram lá. É muito provável, por exemplo, que a maioria da população mundial nunca tenha ouvido falar da Turma da Mônica que, para nós, é tão presente. Um dos exemplos disso é que eu não tinha noção de quem seria Paddington. Só fiquei conhecendo quando assisti a esse filme.

Paddington Bear é um personagem clássico da literatura inglesa criado por Michael Bond. O primeiro livro foi publicado em 1958 e o último em 2018 – o autor já havia finalizado a obra quando faleceu em junho de 2017, aos 91 anos de idade. Embora cada livro corresponda a um período específico na história do personagem, os capítulos funcionam de maneira independente. Foram vendidas mais de 30 milhões de cópias ao longo das décadas em de 30 línguas, inclusive o português. Eu encontrei alguns deles na Amazon.com brasileira. Imagino que outros sejam lançados em breve.

Um urso chamado Paddington (A bear called Paddington, 1958)
Os segredos de Paddington (More about Paddington, 1959)
Paddington tenta ajudar (Paddington helps out, 1960)
Paddington na França (Paddington abroad, 1961)

Mas vamos ao filme, que é o tema dessa postagem. A produção inglesa traz a trama para os dias atuais sem comprometer em nada a história. O elenco é repleto de atores famosos, o que evidencia a confiança dos realizadores no potencial comercial do filme que, realmente, foi um sucesso de bilheteria e crítica, tanto em seu país de origem, como ao redor do mundo.

Falando em país, a origem do personagem principal está bem próxima de nós, já que ele foi descoberto por um explorador inglês nas florestas do mais profundo e escuro Peru (deepest, darkest Peru). Por isso mesmo, a Embaixada Britânica presenteou o país com uma estátua do urso, que foi colocada em um ponto de destaque no Parque Salazar, no calçadão à beira-mar de Miraflores, que faz parte da cidade de Lima. Trata-se de uma das 50 esculturas de Paddington originalmente espalhadas por Londres feitas a partir de projetos de artistas bastante ecléticos, de Nicole Kidman (que está no filme) a Rihanna, David Beckham a Kate Moss, Andrew Lloyd Webber a Bear Grylls. Esse Paddington que está exposto em Miraflores desde 2015 foi feito pelo comediante britânico Stephen Fry.

Grande parte do sucesso desse filme se deve ao personagem principal. Educado, amoroso e bem-intencionado, ele viaja para Londres em busca de uma família, já que sempre soube que os ingleses são receptivos e acolheriam uma criatura abandonada. Assim que chega ao país, ele descobre que as coisas parecem ter mudado no decorrer das últimas décadas, pois encontra cidadãos apressados e até mesmo grosseiros, preocupados em se deslocar rapidamente para o seu destino e sem a menor intenção de oferecer ajuda.

A animação do personagem é perfeita, garantindo que ele seja visto como uma criatura real e complexa, com sentimentos passados através de gestos, do olhar e do ótimo trabalho de dublagem. Além disso, pequenos toques como o acender da palavra found (encontrado) quando ele conversa com a mulher que lhe ajudaria mostra a preocupação da equipe com os detalhes que fazem toda a diferença.

Como possui um nome em “ursês” impronunciável por humanos, ele acaba sendo chamado de Paddington, nome da estação em que foi encontrado. Aliás, o filme mostra diversos pontos turísticos da cidade e uma das partes divertidas é identificar os lugares que já visitamos ou pretendemos conhecer. Como é a primeira vez do urso em Londres, podemos compartilhar com ele toda a emoção de conhecer a cidade.

Outra coisa legal é que o personagem é extremamente atrapalhado, principalmente na sua adaptação à vida na cidade grande. Ao mesmo tempo, compartilha a curiosidade típica das crianças, o que deve explicar a empatia que gera com os mais novos. Isso não quer dizer que os adultos não possam se divertir vendo o filme, já que o humor inglês é bastante sarcástico e também há referências pontuais a outras obras, como Indiana Jones e James Bond, inseridos de maneira orgânica na narrativa. Além disso, o roteiro encontra formas sutis de fazer críticas diversas como a burocracia dos órgãos governamentais, a indiferença da população da cidade grande aos problemas do próximo, o assédio sexual no ambiente de trabalho e outras tantas questões, sempre de forma bem-humorada.

Todos os personagens são muito bem apresentados e desenvolvidos, com personalidades particulares e importância para a história. Aliás, devo destacar que os atores são ótimos, o que é um resultado difícil de alcançar quando se está trabalhando com crianças. Os efeitos especiais são usados para complementar a narrativa, não de maneira forçada para chamar a atenção dos espectadores.

Enfim, é um filme divertido, com personagens interessantes e que tem potencial de agradar tanto as crianças, quanto os adultos. Tudo isso em um pacote que inclui um humor afiado, atores competentes, efeitos visuais bem aplicados, roteiro inspirado e uma equipe técnica por trás da câmera muito competente. Não tinha como ser não ser maravilhoso! Agora é partir para assistir o segundo filme, As aventuras de Paddington 2.