Eu confesso que nunca tinha ouvido falar nesse teleférico da cidade de La Paz até chegar lá, o que é compreensível já que trata-se basicamente de um meio de transporte, sem o viés turístico que tem, por exemplo, o bondinho do Pão de Açúcar no Rio de Janeiro. Além disso, o sistema é bem novo, tendo sido inaugurado em maio de 2014, depois de décadas aparecendo como promessa nas campanhas políticas e nunca saindo do papel. Se você quiser se sentir mais seguro e ter informações completas durante o passeio, uma boa ideia é fazer a reserva do tour privado pelos teleféricos de La Paz, incluindo buscar e levar de volta ao seu local de hospedagem.
A ideia surgiu oficialmente nos anos 1970 e tinha o objetivo de ligar os bairros La Ceja, em El Alto, com La Florida, em La Paz. El Alto é uma cidade mais pobre, na região metropolitana de La Paz, cuja maioria da população é composta por indígenas. El Alto, onde se encontra o aeroporto internacional que atende a região, está a cerca de 400 metros mais alto do que o centro de La Paz. O tráfego entre as duas cidades sempre foi um desafio, limitado a ruas tortuosas e com trânsito intenso.

Com o tempo, a proposta de ligação entre as duas cidades evoluiu para um sistema de linhas interligadas que lembra um metrô, embora tenha estações mais espaçadas. Quando eu fui para La Paz, em 2016, já estavam em funcionamento as linhas vermelha (que vai para El Alto), amarela e verde, com outras em construção. A fase dois inclui oito novas linhas, sendo que a abertura da linha azul estava programada para março de 2017.
É claro que todo o processo gerou algumas polêmicas, como a localização das torres, o custo da passagem, a capacidade limitada de passageiros, o comprometimento do emprego dos motoristas e o impacto na privacidade das casas, que poderiam ser vistas de cima. Como não sou morador local, não sei como foram resolvidas essas questões – se foram resolvidas at all. Mas na minha visão de turista, gostei bastante do projeto e recomendo como um passeio para ter belas vistas da cidade a um preço que não paga meia passagem de ônibus no Brasil. Inclusive invejei não ter essa opção de transporte na minha cidade, uma das maiores capitais do Brasil que é servida apenas por um metrô de linha única e limitada.

Todas as estações possuem um nome em espanhol e um em aymara como uma forma de agraciar as duas culturas. Para fazer o passeio, fui até a estação Libertador/Chuqui Apu, que atende ambas as linhas amarela e verde. Como se pode imaginar, é interessante evitar os horários de pico, já que esse é um transporte utilizado pela população no seu dia a dia. Eu fui a tarde e estava bem vazio, nenhuma fila.
Decidi pegar a linha amarela porque vi uma placa dizendo que ia em direção a um mirador. Depois de passar pela bilheteria e já comprar os tickets de ida e volta, basta seguir as indicações e as cores. Achei a estação bem bonita, moderna e de fácil navegação, não tem erro.
O embarque é muito simples, principalmente para quem já andou nesse tipo de transporte. Basta ficar na fila (se houver), esperar a chegada da gôndola e entrar rápido, já que ela fica parada por poucos segundos. Para se ter uma ideia, a frequência de saída é de cerca de 12 segundos.

Daí é só curtir o passeio. Cada gôndola comporta umas dez pessoas sentadas, mas a minha nem foi cheia. No começo dá um medinho, porque você está pendurado por um cabo a uma altitude mortífera e o vento faz sacudir o carro para lá e para cá, mas na verdade é bem tranquilo. Como as janelas são transparentes, a vista é ótima e dá para você olhar e tirar fotos para todos os lados. Nessa linha amarela, passamos pelas estações Sopocachi/Suphu Kachi e Buenos Aires/Quta Uma antes de chegar ao destino final, que era na Ciudad Satélite/Qhana Pata em El Alto. Nessas estações intermediárias, simplesmente ignore a parada e continue dentro do carro.
O tempo estimado para a viagem entre a primeira e a última estação da linha amarela é de pouco mais que 16 minutos, então é um passeio consideravelmente rápido. Lá em cima, o tal mirante não tinha realmente nada demais, uma vez que a vista pelo trajeto é bem mais interessante. Então só dei uma voltinha nas ruas e já peguei o teleférico de volta.
Também não conferi os outros trajetos, pois achei que poderia ser repetitivo. A linha vermelha fica mais próxima da parte turística, então pode ser uma alternativa boa para quem não quer se deslocar até a estação Libertador/Chuqui Apu. De qualquer maneira, recomendo pelo menos a linha amarela, que foi a que eu experimentei! Informações atualizadas de preço, linhas e estações podem ser acessadas na página oficial.