Como estou usando os lagos como referência, coloquei o Turtle Pond no título mas, na verdade, ele não é o ponto alto dessa região do Central Park. É melhor pensar nesse local como um polo cultural, já que inclui dois teatros, o Metropolitan Museum of Art e o American Museum of Natural History – os dois últimos muito grandes, então reserve bastante tempo para a visita. Como já fiz uma postagem sobre o American Museum of Natural History, vou traçar o passeio pelo Central Park como se estivéssemos saindo de lá.

O Swedish Cottage foi construído na Suécia e levado para os Estados Unidos, em 1986, como parte de uma exposição na Philadelphia. A estrutura, modelo de uma escola, chamou a atenção de Frederick Law Olmsted, que a levou para o Central Park no ano seguinte. Depois de ser usado como sede para a Defesa Civil, durante a Segunda Guerra Mundial, e servir como casa de ferramentas, biblioteca e laboratório de entomologia do parque, o espaço passou a ser usado como um teatro de marionetes, em 1947. Atualmente denominado Swedish Cottage Marionette Theater, o local recebe crianças e famílias para as apresentações, além de ser alugado para festas infantis. Quando eu fui, ele não estava aberto, mas ainda assim achei interessante a parte externa. A programação, compra de ingressos e reserva do espaço estão disponíveis nesta página.

Exatamente em frente ao Swedish Cottage está o Shakespeare Garden, principalmente interessante para visita na primavera e no verão, quando a natureza está mais exuberante. William Shakespeare, um jardineiro ávido, fazia uso da botânica em seus textos de forma simbólica e com referências históricas. Flowers from Stratford-on-Avon, escrito por Paul Jerrard, em 1852, identifica as referências florais do escritor, um exercício retomado posteriormente por outros autores. No começo do século XX, os Shakespeare Gardens já eram conhecidos. São jardins, presentes principalmente na Inglaterra, que cultivam plantas mencionadas nos trabalhos do autor. No Central Park, o jardim foi reformulado e renomeado como Shakespeare Garden, em 1913. A restauração de 1987 expandiu o espaço, instalou bancos rústicos de madeira e dispôs placas de bronze que trazem citações de suas peças. É um lugar tranquilo, onde se costuma realizar cerimônias de casamentos na primavera.

O Belvedere Castle, em estilos gótico e romântico, foi construído em 1869 em um dos pontos mais elevados do Central Park. O local possui uma privilegiada vista do parque e da cidade de Nova York. Belvedere significa “bela vista” em italiano. A partir de 1919, a construção abrigou o New York Metereological Observatory. Nos anos 1960, quando os serviços meteorológicos foram automatizados e transferidos para o Rockfeller Center, o Belvedere Castle fechou para o público e sofreu muitos vandalismos e deteorizações. A restauração aconteceu em 1983. Hoje o local está aberto para visitação e programas educativos, além de eventos como Spooks at Belvedere, na época do Halloween. A parte interna é bem pequena, mas vale a pena subir as estreitas escadas que dão acesso ao mirante no topo do castelo. A programação e informações sobre o local podem ser encontradas nessa página.

O teatro, o lago e o campo de esportes descritos a seguir não são lugares que você precisa visita, uma vez que já é possível vê-los do Belvedere Castle. Mas eu sempre digo: o que é um peido pra quem já está cagado? Você já está lá do lado, custa nada dar mais umas voltinhas. O Delacorte Theater recebe mais de 100 mil pessoas a cada temporada de espetáculos nas apresentações gratuitas e ao ar livre de verão. Joseph Papp, fundador do Public Theater, começou a produzir peças itinerantes de Shakespeare em 1954, encontrando uma locação permanente anos depois, no Central Park. A primeira peça apresentada no parque foi O Mercador de Veneza, em 1962. Além de vários trabalhos do autor, também foram apresentadas várias peças com atores como Meryl Streep, Denzel Washigton, Natalie Portman, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Anne Hathaway, Al Pacino e outros. Os ingressos são retirados em ordem de chegada, somente no dia da apresentação. As pessoas costumam chegar de manhã e esperar horas até a abertura da bilheteria, mas há também sorteios pela internet. Eu estive no Central Park no verão do ano passado e cheguei a conferir a programação , mas não estava disposto a perder um dia inteiro de passeio na fila esperando por ingresso e depois não sei quantas horas de espetáculo. Aí já é muito mais que um peido, a não ser que você tenha muito tempo sobrando na sua viagem ou seja fã do escritor ou algum dos atores da peça.

O Great Lawn é um grande espaço aberto no meio do Central Park. Originalmente, era ocupado pelo retangular reservatório de água que abastecia a cidade. Insatisfeitos com a incoerência estética que isso traria para o projeto do parque, de formas curvilíneas e naturais, o local foi camuflado com muita vegetação. Em 1931, o reservatório foi drenado e soterrado com o material proveniente da escavação de obras do metrô e do Rockefeller Center. Sugestões para a ocupação passaram por um memorial de guerra, arena de esportes, casa de shows, estacionamentos e outros. A visão original de Frederic Law Olmsted e Calvert Vaux de um espaço natural prevaleceu e construiu-se ali um grande gramado oval, em 1937. Os espaços para a prática de baseball foram adicionados nos anos 1950. Após um longo período de decadência o Great Lawn foi restaurado e reinaugurado em 1997.

Assim como os outros lagos do Central Park, o Turtle Pond é artificial. Originalmente, era parte do reservatório de água potável da cidade que deu lugar ao Great Lawn. A pequena parte restante era retangular, mas foi reconfigurada em 1998 para um formato mais natural, com a parte norte recebendo árvores e vegetação para desenvolvimento da vida selvagem, sem grande interferência dos visitantes no habitat natural. O local, na base do Belvedere Castle, é habitado por cinco espécies de tartarugas, além de aves, peixes, sapos e insetos. Dizem que várias das tartarugas eram animais de estimação que, ao crescerem demais para serem mantidas dentro dos apartamentos, foram soltas por seus donos no parque.

Já do lado leste do parque, está o Obelisk, apelidado de Cleopatra’s Needle – o mais antigo monumento exposto ao ar livre em Nova York. Trata-se de um obelisco do Egito antigo encomendado pelo faraó Thutmose III na ocasião de 30 anos de seu reinado e foi originalmente exposto em Heliopolis, nas margens do rio Nilo, em 1450 A.C. Algumas inscrições foram adicionadas cerca de 300 anos depois por Ramesses II para comemorar suas vitórias militares. Posteriormente, o monumento e seu par foram transferidos para a Alexandria e dispostos no Caesareum, templo construído por Cleopatra em homenagem a Marco Antonio e Júlio César, em 12 A.C. Em 1878, um deles foi para Londres e, dois anos depois, o segundo obelisco foi oferecido pelo Khedive egípcio para os Estados Unidos em troca de fundos para modernizar seu país. São aproximadamente 21 metros e 224 toneladas em granito vermelho. Os hieróglifos, que resistiram por quase 3 mil anos no seco deserto egípcio, se deterioraram bastante em apenas um século sob o clima e a poluição de Nova York. Nos últimos anos, trabalhos de restauração e conservação passaram a ser realizados. Embaixo do monumento está enterrada uma capsula do tempo que inclui o censo de 1870 dos Estados Unidos, a Bíblia, um dicionário em inglês, os trabalhos completos de Shakespeare, um guia do Egito e registros da declaração da independência. Além disso, uma caixa foi depositada pelo homem responsável pela compra e transporte do Obelisk, cujo conteúdo somente ele tem conhecimento. Morro de curiosidade, mas a preguiça de erguer as mais de 200 toneladas de granito só pra saber o que tem em uma caixinha lá embaixo é mais forte.
O Cleopatra’s Needle está disposto atrás do The Metropolitan Museum of Art que, ao contrário do American Museum of Natural History, fica realmente dentro do terreno do Central Park. A poucos quarteirões para o norte de Manhattan estão a Neue Galerie New York e o famoso Solomon R. Guggenheim Museum. Muitos lugares para visitar por ali!