O entorno do The Lake é a parte mais turística do Central Park. Ali estão os atrativos mais famosos do parque, concentrados em um espaço pequeno – o que significa que pode ser visitado mais rapidamente e sem precisar andar muito. Se você tiver apenas um dia para passear pelo Central Park, provavelmente será essa a região que você irá priorizar. Estão ali o memorial Strawberry Fields, a fonte do seriado Friends SQN, o lago onde são feitos os passeios a barco, a grande praça do Bethesda Terrace e outros.

Tem uma estação de metrô na W 72nd St com Central Park West – linhas B e C – bem ao lado do The Dakota, conhecido como Dakota Apartments, onde John Lennon morava com a esposa Yoko Ono e o filho, Sean, e onde foi assassinado aos 40 anos, no dia 8 de dezembro de 1980, por um fã, Mark David Chapman. A fachada do prédio também é conhecida por ter sido utilizada para cenas externas do filme O Bebê de Rosemary (Roman Polanski, 1968).
O memorial Strawberry Fields, no Central Park, é dedicado a John Lennon e foi inaugurado em 1985, quando o cantor e compositor completaria 45 anos de idade. A entrada está próxima ao The Dakota. O local é visitado principalmente nos aniversários de nascimento e morte de John Lennon, bem como nos aniversários de outros integrantes dos Beatles, por fãs que deixam flores e acendem velas no local. Também é comum ver artistas cantando músicas da banda, geralmente para ganhar gorjetas.
Por mais interessante e historicamente importante que seja, o memorial em si não é tão atrativo – talvez sua força esteja justamente na simplicidade, mas eu confesso que não vi muita graça. Trata-se de um mosaico circular onde está escrito apenas o título de uma das suas famosas músicas: Imagine. Lembra um bueiro gigante. Os visitantes ficam se revezando para tirar fotos e selfies no local, em uma fila meio informal que funciona do modo “fulano terminou, corre lá”. É meio constrangedor, na verdade. A maioria das pessoas não estão lá para refletir sobre o que aconteceu, sobre as ideias pacifistas defendidas pelo cantor ou para qualquer coisa além de visitar um lugar que nem sabem porque é tão famoso – desculpa pela sinceridade.

Depois de visitar o Strawberry Fields, recomendo caminhar em direção ao centro do parque com uma bela vista do The Lake até chegar à uma grande praça circular, originalmente projetada para a circulação de carruagens, com uma fonte central para dar água aos cavalos. A Cherry Hill Fountain foi criada por Jacob Wrey Mould em 1860 e possui uma base de granito, escultura em bluestone com azulejos minton e uma coroa com oito lâmpadas de vidro fosco e detalhes dourados. Muitas pessoas que passam no local acreditam ou são informados por guias turísticos que esta seria a fonte mostrada na abertura do seriado Friends. A primeira vez que eu fui no Central Park, eu mesmo achei que era – ainda bem que não tirei foto e postei isso no instagram, teria passado vergonha. Não tem nada a ver: as imagens de Rachel, Monica, Chandler, Joey, Ross e Phoebe foram gravadas em um estúdio da Warner Bros. em Los Angeles.

Uma caminhada rápida pelo Terrace Drive leva até o Bethesda Terrace, considerado o coração do Central Park. O terraço oferece uma pela vista do parque e a parte de baixo possui belos arcos e decoração em azulejos, o que dá ao local uma boa acústica para os instrumentistas e cantores de rua que querem ganhar um trocado. Também já vi por ali algumas apresentações de dança. A grande praça no nível inferior tem como atrativo principal a fonte de mesmo nome, famosa pela escultura feminina de um anjo abençoando a água e lhe dando poderes curativos. Trata-se de uma referência ao evangelho de João e a celebração do sistema de tratamento e distribuição de água da cidade, inaugurado em 1842, que trouxe mais saúde para a população. Em sua mão esquerda está um lírio, símbolo da pureza da água. No verão, plantas aquáticas como lótus e lírios são colocadas na fonte, como na tradição do século XIX. Também no verão eu vi uma cena hilária: um morador de rua entrou na fonte para catar as moedinhas jogadas pelos turistas que não podem ver qualquer acúmulo de água e já querem fazer pedidos – uma mania que eu acho horrível, por sinal. Com a cotação atual do dólar, a gente deveria fazer o mesmo que esse cara, porque o pessoal jogam muita moeda meeeesmo! Já no inverno, quando eu fui, a fonte estava vazia e perdeu metade da sua beleza.

Originalmente um pântano, esse local foi readaptado por Frederick Law Olmsted e Calvert Vaux, no projeto original do Central Park, para a prática de canoagem, no verão, e patinação no gelo, no inverno. A patinação já foi transferida para outros espaços do Central Park, mas ainda é possível alugar canoas para um passeio romântico no The Lake. Os passeios de barco no lago começaram na década de 1860 e, para servir de porto e guardar as embarcações, foi construída no local uma casa de barcos com dois andares, em estilo vitoriano. Em 1924, a estrutura foi substituída por outra, de estilo mais rústico, da qual pouco se tem conhecimento devido à falta de registros.

Somente em 1954, com investimentos do banqueiro e filantropo Carl M. Loeb, se ergueu o The Loeb Boathouse, que hoje abriga o charmoso restaurante de mesmo nome com vista para o lago, um bar para lanches na parte de trás e uma área reservada para tomar café. É possível consultar o cardápio e fazer reservas de mesas pelo site. Tinham me recomendado ir lá comer um cheesecake. Eu até tentei, mas o garçom falou que não serviam somente a sobremesa, eu teria que pedir um menu completo. Como eu já tinha lanchado e não queria gastar muito dinheiro (obviamente não é um restaurante barato), acabei deixando pra lá. Coloquei meu rabo entre as pernas e saí magoadíssimo, tentando me convencer que o tal cheesecake do lugar nem seria tão bom assim.

Na parte de trás do restaurante, depois de dar a volta em boa parte do lago, está o The Ramble – o principal local para observação de aves no Central Park, com cerca de 230 espécies já tendo sido vistas e mais de 40 vivendo permanentemente por ali. Nas palavras de Frederick Law Ormsted, responsável pelo projeto do parque, The Ramble é um “jardim selvagem” com 36 acres de área. E é bem isso mesmo, parece que você foi transportado para uma floresta. Essa foi uma das primeiras áreas do parque a ser construída, sendo quase toda artificial. Algumas árvores presentes ao longo das tortuosas trilhas são de 1859, as primeiras a serem plantadas. Até mesmo o pequeno córrego que corta a densa floresta parte de uma torneira. Tudo fake mesmo, mas não menos interessante por isso. Essa não é uma atração “obrigatória” e, na verdade, é bem fácil se perder no meio do mato porque as trilhas são bem tortuosas e você não tem exatamente uma vista de um ponto de referência para se orientar – eu fui seguindo com meu celular, no qual eu já tinha carregado o mapa do parque no Google Maps antes de sair do hotel. Falando em se perder no mato, desde meados de 1900 o local também foi bastante usado para encontros de homossexuais. Apesar de hoje ser destinado principalmente para caminhadas na natureza e passeios ecológicos, a comunidade gay ainda considera The Ramble como o “marco zero para sexo ao ar livre”. Dizem que ainda tem gente que dá escapadas para dentro da mata, mas eu não vi nada, fiz meu passeio super família sem nenhum imprevisto (eu não estava procurando sexo).