Volta e meia aparece uma lista de filmes com um tema qualquer e eu fico pensando: será que a pessoa responsável realmente assistiu a todos? Na maioria dos casos, acho que não. Anyways, peguei alguns filmes que, direta ou indiretamente, retratam os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos. Eu já tinha assistido a vários deles, mas revi todos nas últimas semanas e até mudei a minha opinião sobre alguns. Outros eu preferiria nunca ter visto. Por ordem de lançamento:
Spider-man (Sam Raimi, 2002). Esse primeiro filme da trilogia boa do Homem-Aranha não mostra nada do atentado, mas tem um caso curioso. Em setembro de 2001, o filme já estava em fase de pós-produção quando aconteceu o ataque às torres gêmeas, em Nova York.
Um teaser que mostrava um helicóptero com assaltantes armados pendurado entre os dois prédios do World Trade Center em uma grande teia de aranha havia sido lançado para divulgação do filme. Após os ataques terroristas que derrubaram os prédios, o vídeo foi retirado da internet e as imagens não foram usadas no filme.
11’09’’01 – September 11 (Alejandro González Iñárritu, Amos Gitai, Claude Lelouch, Danis Tanovic, Idrissa Ouedraogo, Ken Loach, Mira Nair, Samira Makhmalbaf, Sean Penn, Shohei Imamura e Youssef Chahine, 2002). Essa coletânea de curtas metragens estreou exatamente um ano após os ataques ao World Trade Center, em Nova York. O filme inclui 11 segmentos: Irã, França, Egito, Bósnia-Herzegovina, Burkina-Faso, Inglaterra, México, Israel, Índia, Estados Unidos e Japão. Apesar das ideias interessantes e das diferentes visões, geralmente bem críticas com relação aos atentados, acho o resultado final bem irregular. Mas tem alguns curtas que eu gostei bastante. No segmento iraniano, dirigido por Samira Makhmalbaf, uma professora tenta explicar os ataques a um grupo de crianças.
Fahrenheit 11 de Setembro ★★★★☆
Fahrenheit 9/11 (Michael Moore, 2004). O documentário trata dos interesses econômicos de George W. Bush, de empresas (americanas e internacionais) e do governo dos Estados Unidos na invasão ao Iraque, justificada como uma guerra contra o terrorismo depois dos atentados às Torres Gêmeas e ao Pentágono. Michael Morre questiona as relações comerciais do então presidente com a família Bin Laden do Afeganistão, que acabou por lucrar com os ataques. O documentário adota uma postura panfletária contra Bush, que concorreria na época do lançamento à reeleição, mas não perde o seu valor histórico e narrativo, nos fazendo questionar as decisões do governo.
Team América – Detonando o Mundo ★★★★☆
Team America: World Police (Trey Parker e Matt Stone, 2004). Escrito e dirigido pelos responsáveis pelo desenho South Park, esse filme, feito com animações de fantoches, é extremamente crítico com a política do medo empregada pelos Estados Unidos, suas tentativas de “salvar” o mundo (causando destruição por onde quer que passe) e até mesmo com as pessoas que defendem a paz – principalmente os atores de Hollywood. Tem muito humor negro, violência gratuita, palavrões, cenas de sexo e sátiras de filmes ação.
National Geographic: Inside 9/11 (2005). Este documentário da National Geographic, exibido em forma de mini-série para televisão, é o mais completo que eu vi sobre o assunto. Chega a ser chato. São três episódios de quase duas horas: War On America conta a história desde 1980, quando muçulmanos rebeldes – incluindo Osama Bin Laden, então com vinte e poucos anos – lutavam contra a ocupação soviética nos seus territórios com a ajuda da CIA e o perfil de todos os envolvidos no planejamento e execução dos ataques de 2001; Zero Hour narra os acontecimentos do dia do ataque: o embarque dos terroristas, o sequestro dos aviões, as comunicações entre equipes de vôos com torres de monitoramento, o impacto nas torres gêmeas, o processo de regaste de vítimas, passageiros que conseguiram ligar para familiares, a queda do avião no Pentágono, o quarto avião sequestrado, etc; The War Continues só foi lançado em 2011 e mostra as consequências dos eventos de 11 de setembro, incluindo outros ataques terroristas relacionados ao Al Qaeda, até o assassinato de Osama Bin Laden. Esse último eu não assisti. Pelos dois primeiros, não achei o material muito crítico e senti falta da coragem e da ironia do Michael Moore.
United 93 (Paul Greengrass, 2006). Retratando, em estilo documental, a história do único vôo sequestrado que não chegou ao seu destino, o filme narra o desenrolar dos acontecimentos sob a perspectiva dos centros de controle de vôo – civis e militares – e das pessoas presentes no avião. Apesar de mostrar o despreparo das autoridades para lidar com a situação, o desencontro de informações sobre os aviões sequestrados e a dificuldade em contatar o presidente do país, o filme consegue se afastar de uma posição de julgamento, tanto com relação aos terroristas quanto ao governo dos Estados Unidos. Além disso, o diretor busca não apelar para sentimentalismos além do que a situação exige: não há um protagonista, heróis, atores famosos ou despedidas embaladas por uma trilha sonora tocante (pelo menos não exageradamente). É um retrato cru do que aconteceu e de como o conjunto de pessoas envolvidas reagiu à essa situação extrema (inclusive com algumas pessoas que realmente viveram a situação interpretando a si mesmas), resultando em um angustiante filme de ação.
World Trade Center (Oliver Stone, 2006). Basicamente um filme que mostra policiais que ficaram presos nos escombros quando as torres gêmeas desabaram. Mas minha gente… Meu povo… Em determinado momento alguém solta: “É como se Deus tivesse feito uma cortina de fumaça para evitar que víssemos o que não estamos prontos pra ver”. Quedizê… Olha… Peraí?! Isso é Jesus caminhando contra uma intensa luz pra levar os personagens pro paraíso??? Não, Jesus estava só trazendo água… Hm… É horrível esse filme? Sim. Mas tem coisas piores. Adam Sandler. Cof Cof. Enfim, não é bom.
Reign Over Me (Mike Binder, 2007). Não. Hm… não. O filme tenta ser engraçado, mas não tem graça. Tenta ser dramático, mas não consegue. Realmente não entendo porque é bem avaliado por tanta gente. Ou entendo: a maioria dos comentários destacam a atuação maravilhosa daquele que não deve ser nomeado do Adam Sandler. “A melhor dele”. Bom, não deve ter sido difícil ser melhor que ele mesmo, queria ver ser melhor que qualquer outro ator. Bom. Coragem! Vai lá e vê, talvez você ache bom. Eu achei uma grande merda.
The Hurt Locker (Kathryn Bigelow, 2008). O filme mostra um esquadrão antibomba no Iraque após os atentados de onze de setembro. Apesar de não ser claramente um discurso contra a guerra, várias cenas contém críticas discretas ao tratamento dado aos moradores da cidade e às consequências da guerra na vida de diversos indivíduos. Aliás, o foco do filme é mesmo nas pessoas envolvidas nos conflitos, suas motivações, forças e fraquezas.
Green Zone (Paul Greengrass, 2010). Filme de guerra/ação em estilo documentário. Não fala diretamente do ataque às Torres Gêmeas em Nova York. Mas sabemos que o governo dos Estados Unidos usou os atentados como justificativa para invadir o Iraque e perseguir Saddam Hussein. Baseado no livro jornalístico de Rajiv Chandrasekaran – Imperial Life in the Emerald City: Inside Iraq’s Green Zone, o filme mostra a busca por armas de destruição de massa no país – que nunca foram encontradas – e os questionamentos de um oficial americano sobre qual seria a verdadeira razão da invasão. Interesses comerciais, exploração de petróleo, manipulação da opinião pública e coisas assim. Apesar do tema interessante, não gostei tanto do resultado.
Extremely Loud and Incredibly Close (Stephen Daldry, 2012). Eu olho para o teclado e não sei o que escrever, só sentir. É daqueles filmes danadinhos que querem te fazer chorar com cenas tocantes. Mas, por algum milagre, se salva de ser um melodrama nada contra, acho ótimo. Daí tem gente que ama, tem gente que acha um saco… Eu gosto, acho o filme bem feito. Poderia ser um pouco mais curto – pela metade fica muito parado – e é difícil um ator mirim ser realmente muito bom, ainda mais no seu primeiro filme, então ele escorrega um pouco nas cenas mais dramáticas… mas vale a pena ver. Vale mesmo
American Sniper (Clint Eastwood, 2014). Esse é outro filme que foca mais no personagem do soldado americano enviado para a guerra, de suas motivações pessoais e as consequências na sua família. É um bom filme, não dá para negar. Mas, para mim, falta uma visão mais crítica do conflito em sim e incomoda a necessidade de transformar o personagem em um herói. A defesa do patriotismo, das nobres intenções americanas ao invadir um país, da idéia de que todo mundo no Iraque é mau… Enfim. Me disseram que o Clint Eastwood é partidário da direita, então entendo as decisões dele (se for mesmo, não sei). E como se trata de uma biografia, talvez tenham optado por respeitar a memória do herói americano cara.