Pelo que percebi nas minhas pesquisas para essa viagem, os passeios pela Floresta Amazônica oferecidos pelas hospedagens de selva são bem parecidos, focando em conhecer a biodiversidade local, as belezas naturais e a cultura dos povos originários. O que muda é a qualidade do serviço e a estrutura do hotel.
No caso do Dolphin Lodge, que conta com chalés e bangalôs em uma área bem preservava da mata, os passeios estão inclusos na estadia e são programados de acordo com a quantidade de dias que vão ser passados no local. Isso quer dizer que os viajantes não escolhem as atividades livremente, elas já estão pré-determinadas nos pacotes. Eu achei esse esquema interessante porque te livra de ter que fazer muitas pesquisas e planejamentos.
Basicamente, tudo está incluso: além dos passeios, a reserva também já vem com todo o transporte do aeroporto ou hotel em Manaus até o destino final, além de pensão completa com café da manhã, almoço e janta. Mas o que acabou fazendo diferença na minha decisão foi o conforto das instalações: eu peguei um bangalô com ar condicionado, chuveiro quente e banheiro privado.
Os deslocamentos nos passeios são sempre feitos em canoas motorizadas percorrendo rios, lagos e igapós, como são chamadas as florestas inundadas pelas águas, principalmente nos meses de cheia que vão de abril a agosto. Ao chegar na hospedagem, nos foi designado um guia local que nos acompanhou durante toda a estadia, assim como o funcionário responsável por pilotar a embarcação.
Quem tiver ânimo, pode acordar de madrugada para sair cedinho e acompanhar o nascer do sol, que fica lindo com o reflexo das luzes sobre as águas. É um momento de contemplação, silêncio e tranquilidade que te faz pensar no valor das coisas simples da vida. Depois, volta-se à hospedagem para tomar o café da manhã e continuar com a programação do dia.
Falando em sol, importante lembrar que o calor intenso é uma característica da região. É preciso estar bem protegido com o uso constante de protetor solar, acessórios como chapéus e roupas leves, preferencialmente com proteção UV e de cor escura, para melhor se camuflar na mata. Como são feitas caminhadas, também recomenda-se calçado fechado.
Falando nisso, um dos passeios que eu mais gostei foi a trilha na selva. A natureza por si só já chama a atenção, mas essa atividade ganha sentido mesmo com as explicações passadas pelo guia, que aponta as árvores e explica o uso de sua madeira, casca, folhas, frutos, seiva e raízes no quotidiano local.
Também é interessante conhecer mais sobre os bichos. Nessa trilha encontramos formigas que funcionam como um repelente natural por disfarçar o cheiro da nossa pele. Inclusive, use e abuse do repelente, porque os mosquitos ali não dão sossego. Também vimos aranha, sapo, lagarta e muitos pássaros. Mas o destaque fica mesmo para a larva de besouro, que se desenvolve dentro do coco e é uma grande fonte de proteína que pode ser consumida viva ou assada. Experimentei as duas versões.
Dentre as árvores, destaca-se a majestosa samaúma, que atinge entre 60 e 70 metros de altura, ficando acima da copa das outras árvores. Além disso, possui raízes aparentes que chegam a crescer dez metros acima do solo, formando vãos que podem ser usados como abrigo. Quando golpeadas por facões, essas estruturas produzem um som que ecoa por longas distâncias. Por isso, serviam como meio de comunicação para os indígenas e ribeirinhos através de códigos.
Muitas pessoas viajam para a Floresta Amazônica na expectativa de ver de perto os animais. A realidade não é bem essa. Os botos cor-de-rosa, por exemplo, apareciam rapidamente e já mergulhavam, diferentemente dos lugares onde são alimentados e treinados para interagir com os humanos. Onça-pintada, cobras gigantes e outros bichos nem deram as caras. Mas pudemos ver pássaros, jacarés, preguiças, aranhas, sapos, macaquinhos e outros.
É possível conhecer o projeto de conservação comunitária de tracajás, uma espécie de cágado típico da região amazônica. Com a força tarefa local, milhares de filhotes são soltos nos rios todos os anos. Também é feito o trabalho de educação ambiental para crianças e população em geral, já que a carne e os ovos são bastante consumidos na região, muitas vezes desrespeitando o período de reprodução e desova.
Como se pode perceber, não ficamos totalmente isolados da sociedade. Embora não tivesse sinal de celular, eu conseguia acesso às notícias e redes sociais através da internet wi-fi do hotel de selva. Ao longo das margens do rio, é possível encontrar estruturas construídas pelo homem como postes com passagem de energia elétrica, pequenas vendas e outras hospedagens. Na região onde eu fiquei, além do Dolphin Lodge, também estava o Amazon Arowana Lodge.
Também vivem algumas pessoas por ali, seja em pequenas comunidades ou pontos isolados. Eu visitei a casa dos ribeirinhos que moram na região e têm um estilo de vida interessante. Como a distância e o custo do deslocamento até a cidade é grande, eles acabam tendo uma vida bem mais integrada com a natureza, com árvores e plantas no quintal servindo como alimento e medicina tradicional.
Eu tive a oportunidade de acompanhar a colheita do açaí, uma das frutas mais apreciadas na região norte, preparada de uma forma bem diferente da que estamos acostumados. A propriedade também contava com uma estrutura para processamento da mandioca, principalmente na produção de farinha, tucupi e maniva. O preparo exige cuidados para a eliminação de substâncias tóxicas, tornando os alimentos adequados ao consumo humano.
Falando em alimentação, também fizemos a pesca da piranha, bastante usada pela população local em caldos e ensopados. Trata-se de um peixe carnívoro com dentes tão afiados que são usados por tribos indígenas na ponta de flechas para caça. No nosso caso, os bichos eram devolvidos para a água logo após serem capturados.
O fim do dia também é muito especial, sendo possível acompanhar o pôr-do-sol do rio na volta de algum passeio. Também é um bom momento para aproveitar o jardim ou a piscina de rio, que possui uma rede de proteção que evita a entrada de peixes e outros animais. É outro momento muito tranquilo para apreciar a natureza.
Mas os passeios continuam durante a noite, já que pode ser feita mais uma navegação pelo rio para a focagem de jacarés. Eles são encontrados pelo reflexo da luz das lanternas em seus olhos e os guias podem pegar algum dos bichos menores para mostrar suas características físicas. O problema é que a iluminação acaba atraindo também as vespas, então é preciso tomar cuidado com as ferroadas.
Quem tiver mais tempo e disposição para aventura, também pode fechar um pacote de sobrevivência na selva. Nessa modalidade, eles ensinam a montar um acampamento no meio do mato e garantir sua proteção. Os viajantes fazem a pesca dos peixes que serão consumidos no almoço e jantar, coletam frutos para complementar a alimentação, aprendem onde e como acender fogueiras sem equipamentos e outras experiências.
A minha estadia no Dolphin Lodge, foi a melhor possível, proporcionando passeios com guias locais experientes e uma boa imersão na natureza, mas sem deixar de lado o conforto e a sensação de segurança. A experiência vai variar de acordo com o pacote contratado e o estilo de viagem de cada pessoa. Eu fiquei por quatro dias e foi bastante interessante, com bom custo-benefício.
Mas o mapa interativo acima marquei todos os pontos que visitei ou citei em postagens sobre a viagem, incluindo o aeroporto internacional que serve como ponto de entrada para a região. Para ver mais detalhes, basta aproximar com o zoom. Vale a pena dar uma olhada para ter uma noção melhor de onde estão localizados os atrativos e a distância entre os hotéis e a capital.
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