Poço Encantado

Brumadinho – Trilha para as Ruínas do Forte e o Poço Encantado

Nesse passeio partindo de Belo Horizonte, fiz uma longa caminhada em estrada de terra bem demarcada, tive uma ótima vista das paisagens ao redor a partir de um mirante, peguei uma trilha que passa por uma mata fechada, visitei as ruínas de um antigo forte e desci por um monte íngreme até chegar a uma pequena e charmosa cachoeira.

Serra da Calçada
Serra da Calçada

Mesmo para quem não tiver como objetivo chegar até o destino final, o trajeto já vale a pena pelas paisagens da Serra da Calçada, que é o trecho inicial da Serra da Moeda e faz parte da reserva da Biosfera do Espinhaço. Nessa área de proteção ambiental da região metropolitana de Belo Horizonte, embora você acabe avistando diversas casas de condomínios durante boa parte do trajeto, é possível ter uma boa sensação de contato com a natureza. O trecho conecta o Parque Estadual do Rola Moça com a Estação Ecológica de Fechos, formando um grande corredor verde em conjunto com outros monumentos naturais e reservas particulares.

O passeio é consideravelmente simples, mas é importante se planejar para garantir um dia agradável e estar atento a alguns pontos de referência para não acabar indo para o caminho errado nas poucas bifurcações ao longo da caminhada. Para facilitar, disponibilizo o mapa interativo acima. Dá para ver mais detalhes aproximando com um zoom.

Alameda das Azaléias
Alameda das Azaléias

Saindo da capital mineira, basta seguir a BR 356 em direção ao bairro Jardim Canadá, de Nova Lima, e seguir o GPS com destino ao Condomínio Retiro das Pedras. É possível chegar de carro até o início da trilha, marcada no mapa com a cor marrom. O problema é que ali é proibido estacionar e, pelo que me disseram, é comum que autoridades de trânsito sejam chamadas para aplicar multas e até rebocar os veículos. Para evitar o transtorno, o ideal é parar nas ruas que ficam próximas ao posto de gasolina. Isso acaba por adicionar cerca de 1,25 km de caminhada pela subida da Alameda das Azaléias, linha azul claro do mapa.

Entrada para a trilha
Entrada para a trilha

Entre a portaria do Condomínio Serra dos Manacás e do Condomínio Retiro das Pedras, encontra-se o portão de entrada para pedestres e ciclistas com algumas recomendações para o visitante, incluindo trazer de volta seu lixo, não retirar plantas e pedras do local e não sair das trilhas. Ao lado há uma bomba de ar para encher o pneu das bicicletas e também uma lojinha.

Lojinha na entrada
Lojinha na entrada

Como eu fui mais cedo para evitar uma boa parte do movimento, a Banca do Jacaré não estava aberta quando cheguei. Na volta, depois de uma longa caminhada, vale a pena dar uma parada ali para tomar uma água de coco para se hidratar e repor as energias antes de voltar para casa. A estrutura ao lado funciona como um centro de informações ao turista.

Casas de condomínios
Casas de condomínios

O começo da caminhada pela Estrada Serra da Calçada é marcado pela presença de casas em ambos os lados. No primeiro quilômetro do trecho, você pode pegar dois caminhos que dão no mesmo lugar e têm a mesma distância, então tanto faz. Embora a via seja bastante ampla, é proibida a circulação quaisquer veículos automotores, inclusive motocicletas. São quase 4 km sem grandes variações de altitude, seguindo sempre reto pela terra marrom – recomendo os calçados escuros para não ter muito trabalho depois na limpeza.

Estrada Serra da Calçada
Estrada Serra da Calçada

Para os ciclistas, é recomendado manter uma velocidade de segurança que permita o controle da bicicleta e sempre usar o capacete, já que a presença de rochas, cascalho, areia e irregularidades no solo facilitam as quedas. Além disso, é importante que tanto pessoas montadas quanto caminhantes estejam atentos para respeitar o espaço um do outro.

Vista pelo caminho
Vista pelo caminho

Depois de um tempo caminhando, as casas ficam mais espaçadas e acabam por desaparecer, dando lugar a uma paisagem mais natural. Vale a pena parar para tirar algumas fotos e descansar um pouco em alguns pontos. Também é importante se manter hidratado – a recomendação é que seja levado pelo menos um litro de água por pessoa.

Torre que serve como referência
Torre que serve como referência

Com quase 1.5 km de andança, você passa por uma torre de telefonia, rádio ou qualquer coisa do tipo que acaba sendo usada como referência na volta, tanto de localização quanto de distância, já que pode ser avistada de diversos pontos. Ali também é o local de encontro com um outro acesso ao caminho que sai de um pouco mais para frente da rodovia. Para chegar ao destino do passeio, basta ignorar esse desvio e seguir em frente pelo caminho mais óbvio.

Ponto de encontro na trilha
Ponto de encontro na trilha

Cerca de 1 km mais para frente é possível ver outro ponto de referência: uma árvore com bancos de madeira. É um dos raros locais com sombra durante todo o trajeto, então reforço a necessidade de se utilizar protetor solar e roupas adequadas. A parada ali é uma boa oportunidade para beber água e descansar um pouquinho, caso haja necessidade. Também serve como encontro para grupos maiores que se separaram por cada um ir em um ritmo diferente.

Trecho com areia branca
Trecho com areia branca

Depois da árvore, você segue ignorando as bifurcações da estrada, sendo que algumas delas vêm de acessos diferentes ou levam a outros destinos, como outro mirante e um poço mais distantes. Depois de andar por mais 1,5 km, é preciso virar à direita, deixando para trás a estrada. Nesse caminho começa a trilha em si e é possível perceber a mudança no solo, que passa a ser de areia branca. A caminhada, entretanto, continua super tranquila.

Rochas esculpidas pela erosão
Rochas esculpidas pela erosão

Apesar de longo, o trajeto pouco tem de variação da paisagem. Além da vista, o das montanhas, o destaque fica mesmo a partir do trecho marcado em cinza no mapa. Ali é possível ver algumas rochas esculpidas pela erosão do vento e das águas, bem inclinadas e pontudas.

Ciclistas se concentram no mirante
Ciclistas se concentram no mirante

A partir da bifurcação, são apenas cerca de 900 metros até o mirante. Quando eu finalmente cheguei, já estava concentrado ali um grande número de ciclistas, que conseguem percorrer o caminho em pouco tempo devido à pouca variação de altitude.

Ruínas do Forte de Brumadinho vistas do mirante
Ruínas do Forte de Brumadinho vistas do mirante

Felizmente, o espaço é bastante amplo e as muitas pessoas não atrapalham em nada na vista. De qualquer maneira, quem quiser fazer esse passeio de forma mais exclusiva deve dar preferência a ir durante a semana e começar bem cedo. Dali, é possível ver claramente o Forte de Brumadinho, que se destaca por funcionar como uma proteção para as diversas árvores que crescem no seu interior, bem no meio de um extenso campo de vegetação baixa.

Trilha de acesso às Ruínas do Forte de Brumadinho
Trilha de acesso às Ruínas do Forte de Brumadinho

À direita do mirante, dando uma volta que contorna as pedras, fica uma placa com informações sobre o forte. É justamente atrás dela, meio escondida, que se inicia a trilha com uma descida marcada por pedras encaixadas no chão. Como é mais íngreme e estreita, por ali não passam as bicicletas – uma vantagem de fazer o passeio a pé. Na verdade, poucas das pessoas que visitavam o local nesse dia seguiram até o forte.

Trilha para as ruínas
Trilha para as ruínas

A trilha do forte corre por entre uma mata mais fechada e pouco temos de vista durante o trajeto com cerca de 750 metros. Ela também é mais pesada do que a parte da estrada aberta feita anteriormente, já que agora é preciso descer e depois subir o morro. O solo é bem mais irregular, sendo importante prestar atenção onde se pisa. Tirando isso, não há grandes dificuldades, já que você segue intuitivamente pelo caminho bem demarcado pela passagem constante de pessoas.

Ruínas do Forte de Brumadinho
Ruínas do Forte de Brumadinho

O Forte de Brumadinho foi construído no século XVIII por uma empresa de mineração para proteger suas posses durante o Ciclo do Ouro. As ruínas são protegidas pela Constituição Brasileira e pela Lei 3.924/61, sendo administradas pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Você pode entrar e explorar o local livremente, mas é preciso ter responsabilidade.

Uma floresta interna
Uma floresta interna

A destruição ou remoção de terra, pedra, plantas ou qualquer material deste local constitui crime sujeito a pena de multa e detenção. É proibido abrir buracos no interior ou no entorno do forte, jogar lixo, acender fogueiras ou acampar. Infelizmente, alguns visitantes não respeitam essas orientações e é possível ver restos de embalagens de alimentos ou outros dejetos em alguns pontos, algo que tenho encontrado em todos os passeios que faço pela região.

Descida da trilha
Descida da trilha

Para quem quiser concluir o passeio com um banho gelado de cachoeira, basta seguir a trilha do poço, que fica para o lado direito de quem está saindo da única porta de acesso ao forte. A primeira parte dela é por um campo aberto, mas com descida bem íngreme – o sofrimento real vem depois, na hora da volta. São cerca de 850 metros até o destino final.

Travessia do córrego
Travessia do córrego

Após alguns minutos, na metade desse caminho, chega-se a um córrego. Você deve virar à direita e ir margeando-o até ver uma trilha do outro lado. A travessia da água é bem tranquila, já que é bem baixinha. Essa é outra parte de trilha mais fechada, com pequenos obstáculos, como um tronco caído. A única parte que realmente tem alguma dificuldade é uma pequena descida mais puxada, justamente quando você chega ao poço.

Água transparente e gelada
Água transparente e gelada

Antes de descer, você pode explorar um pouco a parte superior, mas é bom tomar bastante cuidado ao explorar a área porque as pedras são bem lisas e escorregadias, principalmente quando estão molhadas. Mas a parte mais bonita é mesmo embaixo, quando se chega ao Poço Encantado. Dependendo da hora do dia e da estação, o sol que bate na água deixa o cenário ainda mais bonito.

Banho no Poço Encantado
Banho no Poço Encantado

A queda em si é bem pequena, mas há acúmulo de água suficiente para tomar um banho gostoso. Isso se você for dessas pessoas que encaram baixas temperaturas – eu saí de lá tremendo de frio, ainda mais porque fui durante o inverno. Como a caminhada tinha sido longa e cansativa, eu considerei que essa era a alternativa que tornava o passeio completo. Depois de me secar, comi o meu lanche trazido de casa, deitei em uma das pedras e aproveitei para me conectar com a natureza.

Curtindo a natureza
Curtindo a natureza

Algumas outras pessoas preferiram não encarar o desafio de se molhar e ficaram satisfeitas apenas por curtir o ambiente. Como comentei acima, o ideal é fazer o passeio durante a semana, já que tem menos gente explorando o local – sempre tem algum grupo que conversa mais alto ou até levam caixinhas de música, o que eu acho que atrapalha bastante a experiência. Por fim, é preciso encarar de 7 a 8 km de volta, dependendo de onde você deixou o carro estacionado, sendo que a pior parte é a subida até o mirante.

16 comentários

  1. Fiquei encantada com a riqueza de detalhes sobre o trajeto da trilha, agradeço a sua juda, vc foi muito claro. Ontem fui na cachoeira da jangada, simplesmente amei! Vou me organizar para ir nessa aventura TB….
    Viver é aventurar se!

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  2. Simplesmente encantada por esse lugar, com suas dicas consegui chegar sem nenhum erro. Parabéns pelas dicas, além de inspirar elas nos ajudam muito, ainda mais com essa riqueza de detalhes.

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  3. Estou encantada com a descrição da sua experiência! Obrigada de verdade!
    Gostaria de visitar esse cantinho também mas estou com várias dúvidas. Creio que a principal é se é fácil chegar lá, ou seja, se pessoas com porte físico mais fraco conseguem fazer o trajeto. E claro: com relação a pandemia, como fica a visitação? Não encontro nenhum canal oficial para tirar estas dúvidas! Por favor, me ajudaaaaa… ‘kkkk
    Brigadinha mais uma vez! Tu é demais!

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    1. Vi pessoas de várias idades fazendo o trajeto, então não acho que tenha problema. A caminhada é longa e o últimi trecho, que leva para o forte e a cachoeira, tem subidas e descidas. Eu fui durante a pandemia e estava aberto.

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