Episódios: 10
Ano: 2018
Elenco: Michiel Huisman, Carla Gugino, Henry Thomas, Elizabeth Reaser, Oliver Jackson-Cohen, Kate Siegel, Victoria Pedretti, Lulu Wilson, Mckenna Grace, Paxton Singleton, Julian Hilliard, Violet McGraw e Timothy Hutton.
A assombração da casa da colina, escrito pela autora americana Shirley Jackson e publicado em 1959, é considerado um dos melhores livros do horror espiritual, gerando até os dias atuais discussões sobre o seu conteúdo.

Ao misturar o paranormal com o psicológico, mais sugerindo que determinando a realidade dos fatos, o texto deixa muitas coisas em aberto para interpretação. Esse recurso é extremamente eficiente em obras de suspense. Não é à toa que ele já foi adaptado para o cinema, teatro e rádio. A série, lançada no Netflix em 2018, pega do original elementos chave como a casa, as características e nomes de personagens e algumas passagens específicas, mas faz grandes mudanças na história, que é trazida para os tempos atuais com enredo bem mais complexo.

Mesmo o resultado sendo bastante diferente do livro, trata-se de uma adaptação, já que se mantém fiel ao que o livro tem de mais precioso: a atmosfera de mistério como pano de fundo para o desenvolvimento do relacionamento entre pessoas inseridas em um contexto emocional extremo. Sucesso de crítica e público, principalmente pelo roteiro, produção, direção e atuações, The haunting of Hill House extrapola os limites das histórias de fantasma e pode, facilmente, ser classificado como um ótimo drama. Eu mesmo gostei justamente pela bela construção dos personagens, suas relações e conflitos.

No verão de 1992, um casal e seus cinco filhos se mudam para a Hill House, um casarão isolado com grande potencial de valor para venda após as devidas renovações. O objetivo é ficar lá somente o tempo necessário para fazer as reformas, realizar o negócio e usar o dinheiro para construir sua própria e definitiva casa dos sonhos. Entretanto, os problemas no local são maiores que o esperado e a família precisa ficar por mais tempo.

Enquanto isso, todos começam a perceber fenômenos paranormais que colocam em risco a sua sanidade e até mesmo lhes causam danos físicos, afetando cada um de diferentes formas. Pode-se dizer, ainda, que a mansão é um personagem à parte, apresentando características físicas marcantes e vontades próprias.

As filmagens da série foram feitas em Atlanta e seus arredores, no estado da Georgia, nos Estados Unidos. Os exteriores da mansão são de uma impressionante propriedade que, embora tenha o estilo tudor inglês, foi construída entre 1997 e 2002. Para isso, eles reaproveitaram muitos materiais existentes da estrutura menor que ocupava o local anteriormente. Depois de servir como moradia, funcionou ali a Bisham Manor, espaço bastante utilizado para eventos corporativos, jantares, casamentos e outros. Hoje em dia ela, a casa já voltou para sua função original e não pode mais ser visitada, readotando o nome original de Alta Vista.

Localizada na pequena cidade de LaGrange, a locação é cercada por diversos jardins e margeia o West Point Lake. Embora seu estilo lembre o de um castelo medieval, grande parte da atmosfera antiga e sombria foi alcançada com modificações no local e edições na pós-produção, incluindo o uso de efeitos especiais. Com quatro andares, a propriedade possui diversos quartos e salas, além de instalações como adega, academia, spa, sauna e uma varanda que dá para a piscina externa. Também há um chalé usado por visitantes.

A parte interior, repleta de pisos, paredes e tetos cobertos de carvalho no grande andar principal e no hall de entrada, pode ser parcialmente vista em Lovecraft Country, uma série da HBO. No caso de A maldição da residência Hill, todo o cenário interno foi criado e gravado no estúdio EUE/Screen Gem Studios, em Atlanta. Isso permitiu projetar os ambientes de acordo com as necessidades específicas das filmagens, além de dar maior controle de iluminação, espaço para equipamentos e uso de efeitos práticos. Também foi muito importante para alcançar o resultado desejado no sexto episódio, que faz transições incríveis entre passado e presente em tomadas longas, sem corte.

Essas longas sequências precisaram ser ensaiadas por cerca de seis semanas, já que ninguém da equipe de filmagem e dos atores poderia cometer nenhum erro. A maior delas tem duração de dezessete minutos. Mas a produção também teve cuidado com elementos que não chamam tanto a atenção e podem passar desapercebidos pela maioria dos espectadores. Em diversas cenas, por exemplo, é possível observar figuras bizarras embaixo de móveis, atrás de portas ou escondidas em algum canto obscuro. Apesar desses elementos de terror e até mesmo alguns jump scares, a série investe mais no drama familiar.

Outra locação importante na trama é a Harris Funeral Home, essa sim filmada em um local que continua sendo usado para a realização de eventos diversos, principalmente casamentos. The Whitlock Inn fica na cidade de Marietta e aparece em tomadas externas. Curiosamente (e não sem ironia), a festa do matrimônio de uma das personagens seguiu o caminho inverso, sendo gravada na casa funerária Hunter-Allen-Myhand, em LaGrange.

Outros lugares aparecem em cenas mais curtas ou pouco recorrentes. Um exemplo é o Discovery Inn, que fica em Decatur e funciona como o motel onde integrantes da família passam uma noite. Já em Douglasville, é possível visitar o Midget Market, loja de conveniência de um posto de gasolina que aparece brevemente em um dos episódios.

Como se pode perceber, praticamente nenhuma gravação foi feita em locais que possam ser facilmente reconhecidos, como pontos turísticos. Isso é intencional, já que a história não se passa em uma cidade específica. Mas um lugar que dá para visitar é Greenwood Cemetery, em Atlanta – sim, eu gosto de passear em cemitérios. Datado do começo do século XX, esse parque era destinado como moradia final para cidadãos judeus, chineses e gregos, que possuem seções específicas e alguns monumentos. Somente em 1987 foi enterrado o primeiro negro no local, colocando em fim uma longa segregação racial.

Para quem curte agito, o Tongue & Groove Nightclub, que aparece logo no primeiro episódio, é uma das mais famosas casas noturnas de Atlanta. Originalmente inaugurada em 1994, a boate e lounge mais antigos da cidade recebe eventos e apresenta convidados musicais de todo o mundo. Já o Atlanta Recovery Center é uma organização sem fins lucrativos voltada, desde 1969, para o tratamento de dependência química e moradia temporária masculina. Outras localidades externas da cidade aparecem em cenas diversas, como a casa de outro personagem.

Satisfeitas as curiosidades sobre a produção dessa maravilhosa série, vale lembrar que já está disponível no Netflix a segunda temporada, intitulada A maldição da mansão Bly. A história é independente da primeira leva de episódios e se baseia no livro A volta do parafuso, lançado originalmente em quatro volumes, em 1898. A trama de Henry James se passa em um antigo casarão no interior da Inglaterra e envolve espíritos, repressão de sexualidade e elementos psicológicos que fazem o leitor questionar a veracidade dos fatos narrados.