Vivarium

Vivarium ★★★★☆

Ano: 2020
Direção: Lorcan Finnegan
Elenco: Imogen Poots e Jesse Eisenberg.

Quando um jovem casal formado por uma professora do primário e um arborista resolve procurar por uma moradia própria, eles encontram um novo empreendimento imobiliário ainda totalmente inocupado e enxergam a grande oportunidade de realizar seus sonhos.

Adquirir um imóvel faz parte do ciclo da vida
Adquirir um imóvel faz parte do ciclo da vida

A premissa simples esconde uma série de questões que me deixaram em reflexão por um bom tempo: como passamos a desejar consumir seja o que for, para que seguimos padrões pré-estabelecidos e por que nunca ficamos satisfeitos? Nossas vidas podem ser resumidas no ciclo de crescer, trabalhar, conquistar bens materiais, formar uma família, ver os filhos crescerem e morrer?

Casal de jovens
Casal de jovens

Esse é um daqueles filmes que permitem interpretações diversas dependendo da sua realidade cultural e social. Como eu assisti no meio do isolamento causado pela pandemia, absorvi algumas questões de maneira bem particular, como convívio forçado e contínuo com as mesmas pessoas por um longo período. Mas o isolamento proposto na trama tem outras razões, estando mais ligado à perda do senso de comunidade e ao sentimento de estar preso, tanto em contratos sociais como um casamento, quanto nos compromissos com bancos e outras instituições financeiras dos quais somos levados a nos tornar reféns.

Conjunto habitacional abandonado
Conjunto habitacional abandonado

A inspiração veio da realidade vivida nos últimos anos na Irlanda, co-produtora do filme junto da Dinamarca e da Bélgica. A ilha esmeralda vivia um momento de crescimento econômico que levou à construção de novas casas em série, que acabaram por se tornar bairros fantasmas por volta do ano de 2008, quando a economia do país entrou em queda juntamente com a crise mundial. A história, entretanto, não se passa em nenhum país específico, tanto que eu pensei que se tratava de um filme americano e pode ser aplicada a diversos outros lugares.

Comida plastificada e sem gosto
Comida plastificada e sem gosto

O roteiro leva essas questões ao extremo através de elementos de ficção científica, que aparecem na estranheza dos ambientes, nos alimentos plastificados e sem sabor, na infinidade de casas, na lógica e regras distorcidas daquele mundo e outros tantos fatores que não cabe citar para não entrar em spoilers. Esse exagero pode causar distanciamento para muitos espectadores, mas o fato é que tudo que é mostrado pode ser aplicado na nossa realidade.

Estresse no isolamento
Estresse no isolamento

Afinal de contas, temos medo de viver um cotidiano repetitivo e entediante, mas consumimos basicamente as mesmas coisas, moramos em lugares parecidos e temos as aspirações parecidas às dos nossos amigos e de outras pessoas dentro da nossa bolha social. Estamos tão cercados de artificialidades que falta às coisas e a nós mesmos mais alma. Ao mesmo tempo, temos uma grande dificuldade de sair dessa espiral, talvez pelo medo de tomar decisões que acabem por comprometer nosso futuro particular.

Surrealismo e artificialidade
Surrealismo e artificialidade

Com características do surrealismo, suspense e drama, esse é um filme difícil de classificar. Também pode não ser tão fácil de assistir, tanto por conter diversos gatilhos para as pessoas que estão sofrendo com a ansiedade dos últimos acontecimentos mundiais quanto por exigir uma postura mais ativa na interpretação para significar os acontecimentos narrados. Para mim, foi uma experiência bastante construtiva.

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