Título original: Manbiki kazoku
Ano: 2018
Direção: Hirokazu Kore-eda
Elenco: Lily Franky, Sakura Ando, Mayu Matsuoka, Kairi Jö, Miyu Sasaki e Kirin Kiki.
Quando visitamos um novo destino, geralmente nos interessamos em conhecer aquilo que é mais famoso e, consequentemente, turístico. Eu entendo isso como algo natural, já que somos influenciados pelo que vemos constantemente nas propagandas, nos videoclipes musicais, nas notícias jornalísticas e, claro, nos filmes. Obviamente, esses pontos se concentram em áreas mais bem cuidadas, que não representam toda a realidade do lugar. Por isso mesmo eu gosto quando sou surpreendido por uma outra perspectiva, como aconteceu com o Assunto de família.

O que aprendemos a esperar de uma história passada em Tóquio são grandes letreiros luminosos, salas de karaokê, modernidade e avanços tecnológicos, geralmente com pessoas vivendo com conforto e ostentação. O roteiro desse filme, entretanto, foi inspirado nas notícias sobre pobreza e pequenos furtos decorrentes da recessão na economia do Japão. Para justificar seus atos, um dos personagens afirma que não há problema em roubar coisas que ainda não foram vendidas, já que elas não pertencem a ninguém.

Nesse sentido, a obra funciona como um retrato da sua época ao mostrar uma família que vive de forma miserável, tendo apenas o suficiente para sobreviver. O pai é forçado a deixar o emprego após machucar o tornozelo, a mulher trabalha em uma lavanderia em escala industrial, a jovem ganha dinheiro em um desses bares em que mulheres sensuais servem e interagem com homens e todos dependem da pensão da avó.

Mais que isso, entretanto, o que interessa ao filme é aprofundar na reflexão sobre o que forma uma família, a conexão entre as pessoas e sentimentos variados como amor, remorso, carinho, preocupação, raiva, ressentimento, respeito e tudo mais. Aliás, uma das grandes qualidades da direção é não forçar emoções no espectador – elas vêm de forma natural, com o desenrolar dos acontecimentos e descobertas.

Sem entrar em detalhes, posso dizer que a dinâmica do grupo é afetada com a chegada de um novo componente: uma melancólica menina de cinco anos de idade encontrada fora de casa, passando frio. Maltratada pelos pais, ela acaba sendo adotada por essa nova família – tecnicamente, um sequestro que trará mudanças na vida de todos. Ou seja, um filme que, por esse e outros fatos, nos faz pensar também na fluidez entre o certo e o errado de maneira sensível e arrebatadora. Imperdível.