O massacre da serra elétrica

O massacre da serra elétrica ★★★☆☆

Título original: The Texas chain saw massacre
Ano: 1974
Direção: Tobe Hooper
Elenco: Marilyn Burns, Allen Danziger, Paul A. Partain, William Vail, Teri McMinn, Edwin Neal, Jim Siedow, Gunner Hansen e John Dugan.

Quando eu era criança, na década de 1980/90, nós costumávamos reunir as crianças do bairro para ver filmes alugados em VHS nos finais de semana. O estilo preferido era justamente o terror. Eu era um dos mais novos e era comum que ficasse bastante impressionado, eventualmente até tendo pesadelos. Hoje em dia eu vejo tanto os clássicos quanto os mais recentes lançamentos sem muito drama. O terror e as mortes bastante gráficas costumam gerar mais nojo do que medo e os sustos são raros, geralmente causados por um som alto ou algo que aparece de repente na tela. Também temos uma onda de terrir, cujo objetivo é fazer graça com os absurdos e os clichês do gênero. Seja como for, continuo assistindo tudo por ser um passatempo descompromissado, ótimo quando tem amigos reunidos.

Pegar a estrada nunca mais será tranquilo
Pegar a estrada nunca mais será tranquilo

É muito provável que tenhamos assistido a todos os lançamentos da época que chegavam às locadoras, mas confesso que não me lembro muito bem da maioria. Por isso mesmo, volta e meia eu revejo algum dos filmes que se tornaram clássicos e continuam, até hoje, gerando diversas sequências de qualidade duvidosa. Como eu estava passando uma temporada de alguns meses no Texas, resolvi rever o primeiro filme do famoso assassino que aterrorizou o estado americano.

O nascimento de vários clichês dos filmes de horror
O nascimento de vários clichês dos filmes de horror

The Texas chain saw massacre, como é chamado em inglês, foi lançado em 1974 e continua sendo o mais bem-sucedido da franquia. Ele é considerado o primeiro terror slasher, filmes em que os personagens são assassinados de forma brutal. Ali há cenas em que personagens são cortados, decepados, espancados e humilhados, mas nem é mostrado tanto sangue assim (para os padrões atuais) e o estilo é mais documental. O sucesso do filme fez com que ele seja considerado a origem de diversos clichês usados em obras semelhantes, a maior parte delas de baixo orçamento. Aqui temos um grupo de amigos que está passeando por uma região inóspita e é surpreendido por um assassino fisicamente grotesco, que matará um por um.

Leatherface com o rosto coberto
Leatherface com o rosto coberto

Tob Hooper, que escreveu o roteiro juntamente com Kim Henkel, citou as mudanças culturais e políticas da época como influências centrais para o filme. A informação que aparece logo no início de que o filme é baseado em fatos reais seria uma resposta às mentiras do governo americano sobre eventos locais e mundiais, como o escândalo de Watergate, a crise do petróleo de 1973 e os massacres e atrocidades da Guerra do Vietnã. A falta de sensibilidade e a brutalidade mostradas na televisão o levaram a acreditar que o homem é o verdadeiro monstro da sociedade, embora use uma máscara. Por isso a caracterização do Leatherface.

Imagens macabras no cemitério
Imagens macabras no cemitério

O personagem principal e alguns detalhes da trama foram livremente inspirados nos crimes de Edward Theodore Gein, embora esse agisse sozinho e sem uma serra elétrica. Ed Gein era um homem psicologicamente perturbado que violava o túmulo de mulheres recém enterradas e também cometeu assassinatos. Seu objetivo era usar a pele dos corpos para fazer máscaras e roupas usadas para que ele se fantasiasse de sua própria mãe, com quem tinha uma relação doentia e que havia morrido. Ele também praticava o canibalismo com as vítimas. Por isso mesmo, o filme começa com uma imagem do cemitério e uma notícia sobre a violação dos túmulos, além de outras atrocidades.

Psicose
Psicose

Se a história lhe parece familiar, esse foi o mesmo caso que inspirou Robert Bloch a escrever o livro de suspense Psicose, lançado em 1959 e adaptado para o cinema por Alfred Hitchcock no ano seguinte. Nesse caso, a história mostra um assassino solitário que vive em uma localidade rural isolada e tem distúrbios mentais devido à criação dada pela sua mãe dominadora.

O silêncio dos inocentes
O silêncio dos inocentes

A história do assassino também aparece em diversos outros trabalhos como O silêncio dos inocentes, que conta a história de mulheres assassinadas em diversas localidades dos Estados Unidos e o trabalho de uma agente do FBI para capturar o psicopata. O livro de Thomas Harris inspirou o famoso filme de mesmo nome estrelado por Jodie Foster e Anthony Hopkins. Além dessas obras de terror, suspense e policial, o caso real também foi usado como base para a série de televisão American Horror Story: Asylum, além de músicas e outras mídias.

As cenas sugerem mais do que mostram
As cenas sugerem mais do que mostram

Mas voltemos ao filme. O massacre da serra elétrica estrou no cinema de Austin, Texas, quase um ano após a conclusão das filmagens. As exibições nacionais aconteciam nas tardes de sábado e o falso marketing de se tratar de uma história real ajudou a atrair a audiência. O conteúdo do filme fez com que ele fosse proibido em diversos lugares, incluindo o Brasil. Para contornar as proibições e classificações para maiores de dezoito anos, versões com cortes foram lançadas. O interessante é que nem é mostrado tanto sangue assim. Acredito que a reação tenha sido mais pelo espanto com o conteúdo – depois vieram coisas muito piores, em todos os sentidos.

Algumas cenas se tornaram clássicas
Algumas cenas se tornaram clássicas

Aliás, a crítica recebeu o filme com reações variadas na época de seu lançamento e ele só se tornou realmente um clássico do terror com o passar dos anos. Assistindo atualmente, obviamente que a gente compara com a qualidade de imagem e efeitos especiais que já estamos acostumados. Mas não é isso que faz uma obra ser boa ou ruim (ou não deveria ser). O filme é interessante pela sua temática, a direção e fotografia, os personagens e as cenas clássicas. Vale a pena dar uma conferida.

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