Título Original: BlacKkKlansman
Ano: 2018
Direção: Spike Lee
Elenco: John David Washington, Adam Driver, Laura Harrier e Topher Grace.
A Ku Klux Klan, normalmente chamada de KKK, é uma organização terrorista americana que existiu em três diferentes épocas da história dos Estados Unidos, mas sempre com o mesmo propósito: defender a supremacia branca, o nacionalismo, e o combate à imigração de forma reacionária. É um movimento pela purificação da sociedade, sendo considerada de extrema direita (brasileiros dirão que é de esquerda – contém ironia).

O primeiro movimento surgiu no final dos anos 1860, na parte sul do país, e buscava derrubar o governo republicano através de ataques contra líderes afro-americanos. Os membros faziam as suas próprias roupas, geralmente vestidos coloridos, mascaras e chapéus cônicos que serviam tanto para causar medo quanto para esconder suas identidades. Como eram grupos isolados, foi rapidamente combatido.

O segundo grupo foi fundado em 1915 após o lançamento do filme O nascimento de uma nação, que mitificou a fundação do primeiro Klan. Com raízes nas comunidades protestantes, também se opunha aos católicos e judeus. Essa foi uma fase mais estruturada, pois empregava técnicas de marketing e funcionava como uma organização fraternal. O dinheiro vinha da venda dos uniformes brancos para os membros. Outros ícones eram a queima das cruzes e as paradas pelas ruas. Durou uns dez anos. A terceira manifestação emergiu nos anos 1950 e ainda perdura. São grupos locais e isolados que usam de violência e assassinatos para suprimir ativistas dos direitos civis. É desse último que trata o filme.
A obra é baseada no livro autobiográfico Infiltrado na Klan escrito por Ron Stallworth. Ele foi o primeiro detetive negro da história do Departamento de Polícia de Colorado Springs. Ao deparar-se com um anúncio no jornal convocando as pessoas a se juntarem à Ku Klux Klan, ele decide responder fingindo ser um homem branco, com um discurso racista falso, dando início a uma investigação secreta.
Ainda não li o livro mas, pelo que pude perceber das minhas pesquisas na internet, há algumas diferenças entre a obra literária e a cinematográfica. Eu considero isso natural em se tratando de uma adaptação, já que é necessário mostrar um ritmo e motivações que funcionem bem para o cinema. O que importa é que as partes mais relevantes da história estão presentes. Uma das coisas que Stallworth disse que se afasta da realidade é a inteligência e organização do grupo – na verdade eles eram bem limitados, o que não deixa de ser irônico para pessoas que se consideram superiores a outras. No filme, é claro, era preciso criar mais dificuldades para os protagonistas.

Mais do que uma investigação do passado, o filme traz comentários certeiros sobre o presente ao incluir referências diretas à política do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em um momento, por exemplo o investigador comenta que o país jamais iria eleger alguém como David Duke, o líder supremo da Ku Klux Klan. Um de seus colegas de trabalho, branco, responde: “Para um homem negro, você é bem ingênuo”. O mesmo se aplicaria para as últimas eleições presidenciais no Brasil. Aliás, as falas dos membros da KKK são particularmente assustadoras justamente por estarem tão próximas do que é ouvido hoje em dia.

Para aliviar um pouco a seriedade do tema, o filme segue um estilo mais leve. Na maior parte do tempo, a KKK não aparece como uma ameaça real e letal, mas sim com vilões cartunescos. Isso faz sentido porque é assim mesmo que uma grande parte da população enxerga as ameaças da extrema direita, com muita relativização da real ameaça. A mistura da comédia com o drama, juntamente com o visual retrô característico dos anos 1970, só é totalmente interrompida nas últimas cenas, que dão um soco no estômago e nos trazem de volta ao presente ao mostrar cenas documentais. Há uma clara decisão dos realizadores de mostrar que o que vivemos hoje não é nada diferente do que se passou há poucas décadas atrás.

Aliás, terminado o filme, fica a reflexão sobre tudo o que acabamos de ver. História real, vale lembrar. Uma coisa é certa: muitas pessoas acreditem que há um exagero ao afirmar que o preconceito, o machismo e a xenofobia, entre outros, ferem e matam. A realidade é que as coisas estão ficando cada vez piores, inclusive com presidentes usando publicamente discursos e atitudes que validam esse tipo de violência. A lição que fica é que não devemos levar nada do que está acontecendo na nossa política ou o clima social de maneira leviana. É preciso estar atento e forte.1
Esse filme é muito bom!
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Um dos melhores do ano passado, sem dúvida!
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