Oulaya Amamra e Déborah Lukumuena no filme Divinas

Divinas ★★★★☆

Título original: Divines
Ano: 2016
Direção: Uda Benyamina
Elenco: Oulaya Amamra, Déborah Lukumuena, Kevin Mischel, Jisca Kalvanda, Yasin Houicha, Majdouline Idrissi, Farid Larbi, Bass Dhem e Maryama Soumare.

Sempre que vemos um filme que se passa em Paris, somos agraciados com imagens lindas que incluem os vários pontos turísticos da cidade, como o Louvre, o Arco do Triunfo e, principalmente, a Torre Eiffel. Também é o que vemos quando vamos passear, afinal de contas, geralmente nos hospedamos e visitamos apenas a parte mais turística da cidade luz. Mas o fato é que nem todos os franceses comem brioches. E não é à toa que esse filme não mostra os atrativos mais famosos de Paris, a não ser em uma cena em que as personagens estão realmente deslocadas da sua realidade habitual.

Uda Benyamina, diretora do filme, é uma francesa de família marroquina que cresceu em Viry-Chatillon, no subúrbio de Paris. Suas origens têm muita relação com o que mostra em sua obra, já que a mesma afirmou “não vamos mentir, quando você cresce em uma comunidade onde a injustiça e a desigualdade estão em cada esquina, isso dá raiva”.

No filme, Dounia (Oulaya Amamra, irmã da diretora), de origem árabe, sem pai e com uma mãe que se prostitui, e Maimouna (Déborah Lukumuena), negra, gorda e filha de pais religiosos, são duas adolescentes que vivem em uma comunidade pobre, onde impera a criminalidade. Elas estão naquele momento da vida em que querem se divertir ao mesmo tempo em que tentam se destacar em uma sociedade que não lhes oferece nenhuma oportunidade de crescimento, vendo em roubos e no tráfico de drogas a chance de ganhar dinheiro para realizar seus sonhos. A interação entre as duas, interpretadas com perfeição e espontaneidade, é a principal força do filme. Mas não é só isso.

Kevin Mischel no filme Divinas
Kevin Mischel no filme Divinas

Além de evitar os clichês dos filmes que se passam em Paris, Divinas se diferencia ao colocar mulheres como protagonistas de sua trama. Aquele espaço, onde reina a criminalidade, é comandado por uma jovem e durona mulher negra (Jisca Kalvanda), com cicatrizes no rosto, capaz de intimidar qualquer pessoa do sexo masculino. Falando em sexo, há também uma inversão com relação à objetificação do corpo humano: o dançarino (Kevin Mischel) é que aparece em várias cenas sem camisa, recebendo os olhares desejosos de Dounia, que começa a descobrir sua própria sexualidade. Enquanto isso, Maimouna é mais ingênua, se sentindo dividida pelo amor que tem pela melhor amiga e o temor em decepcionar os pais. Não é à toa que o discurso inflamado de Uda Benyamina ao receber o prêmio de diretora revelação, Caméra d’or, no festival de Cannes de 2016, incluiu um apelo pela presença de mais mulheres no comando das produções cinematográficas.

Oulaya Amamra no filme Divinas
Oulaya Amamra no filme Divinas

Ao testemunhar o cotidiano das personagens, nos vemos inseridos em um contexto social do qual buscamos nos afastar ao evitar transitar em locais que consideramos perigosos, ao fechar o vidro do carro para não estabelecer qualquer tipo de contato com as pessoas pobres que pedem dinheiro nos sinais de trânsito, ao ignorar as dificuldades por que passam a maior parte da nossa população. Ou simplesmente ao cruzar os braços, esperando que o potencial autodestrutivo dessas pessoas social e economicamente excluídas resolva sozinho o inconveniente problema de sua própria existência.

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