Durante a minha estadia em Manaus, enquanto admirava os belos edifícios da era colonial, era frequente ouvir falar sobre como o ciclo da borracha trouxe riqueza para a capital amazonense na segunda metade do século XIX. A comercialização do produto para mercados estrangeiros, que ganhou força após a revolução industrial, causou uma verdadeira revolução econômica, cultural, social e arquitetônica na cidade, que passou a ser conhecida, à época, como a “Paris dos Trópicos”.
O tema pode ser aprofundado no tour do seringal, que percorre as ruas do centro histórico da cidade e segue com um passeio de lancha até o Museu do Seringal. O instituto conta a trajetória dos barões da borracha e as mudanças ocorridas no auge da exploração, que envolveu questões polêmicas como a escravidão por dívidas.

A abordagem dos guias do Dolphin Lodge, hospedagem que inclui o tema como um dos passeios inclusos na estadia, é bem prática. Como conta com uma grande área de mata preservada, a propriedade possui seringueiras nas proximidades e pode demonstrar o processo de retirada da seiva, posteriormente trabalhada no fogo.

Como de costume, começamos o dia entrando na embarcação para navegar pelo rio e seus igapós, como são conhecidas as áreas de mata inundada típicas da região. Geralmente, o guia vai na frente apontando o melhor caminho e chamando a atenção dos turistas para pontos de interesse, enquanto outro funcionário comanda o motor.

Como eu sabia que seria preciso entrar na floresta, coloquei uma roupa comprida para diminuir o impacto das picadas de mosquitos, que insistem em atacar mesmo com o uso de repelente. Também coloquei um bom calçado de trilha para percorrer o terreno irregular, com muitas raízes pelo caminho.

A seringueira possui diversas propriedades interessantes, como a madeira clara e leve. Já os frutos possuem sementes ricas em óleo, podendo ser usadas para a produção de resinas, vernizes e tintas. Elas também são ricas em nutrientes, sendo até hoje consumidas por indígenas e servindo como matéria-prima para suplementos alimentares.

Mas a árvore é mais famosa mesmo pela sua seiva branca, chamada de látex, usada para a fabricação da borracha. Basta fazer um pequeno corte no tronco para que o líquido comece a escorrer, sendo coletado em latas posteriormente recolhidas quando já estão cheias. Nesse passeio, foi feita uma extração limitada, apenas a título de demonstração.

O produto não era beneficiado em nosso país, que se limitava a exportar a matéria-prima solidificada pelo calor do fogo. Como se trata de um recurso limitado, o Brasil comprou uma parte do terreno da Bolívia em 1903 para ter acesso a novas seringueiras e aumentar os lucros, originando o estado do Acre. Ainda assim, o negócio entrou em declínio com a plantação de seringueiras para fins de exploração em outras partes do mundo.

Atualmente, a demanda voltou a crescer devido a preocupações com o meio ambiente, já que seu uso é mais ecológico quando comparado a materiais de origem fóssil. A produção nacional agora se concentra em outros estados brasileiros, mas a maior parte da borracha natural consumida no país é importada. Ainda assim, a prática é importante para a história local e é interessante conhecer como se dá o processo de extração tradicional.
