A sociedade da neve ★★★★★

Título original: La sociedad de la nieve
Ano: 2024
Direção: J. A. Bayona
Elenco: Enzo Vogrincic, Matías Recalt, Agustín Pardella, Felipe González Otaño, Luciano Chatton, Valentino Alonso, Francisco Romero, Agustín Berruti, Andy Pruss, Simón Hempe, Juan Caruso, Esteban Bigliardi, Rocco Posca, Esteban Kukuriczka, Rafael Federman, Manuela Olivera, Agustín Della Corte e Tomas Wolf.

Embora tenha ocorrido muitos anos antes do meu nascimento, eu lembro desse caso pela repercussão continua mesmo depois de décadas. Não é a toa,  pois trata-se de uma famosa tragédia na história da aviação e possui elementos humanos muito dramáticos.

Em 1972, um avião fretado partiu do Uruguai levando a bordo 45 pessoas, a maioria parte de um time de rúgbi. Na viagem em direção ao Chile, a aeronave se chocou com uma das montanhas da Cordilheira dos Andes, deixando alguns sobreviventes em uma região remota na fronteira do país com a Argentina. As primeiras cenas do filme trazem uma boa reconstrução de Montevidéu na época, com imagens mostrando uma igreja, lanchonete e o aeroporto de onde decola a aeronave, por exemplo.

A história já foi contada em diferentes obras, algumas delas escritas por sobreviventes e parentes de vítimas, enquanto outras são trabalhos de documentaristas. A mais famosa delas, A sociedade da neve começou a ser escrita já no ano seguinte ao acidente. O livro intercala os relatos dos sobreviventes com a cobertura objetiva do tema pelo uruguaio Pablo Vierci. O autor foi colega de colégio de alguns dos jovens que se encontravam no avião.

Talvez por isso a recriação dos fatos seja tão cuidadosa, incluindo os momentos anteriores ao embarque, o acidente em si, a sobrevivência na montanha, as dificuldades enfrentadas com o clima severo, a falta de comida,  as consequências psicológicas do isolamento, a busca por ajuda, os dias posteriores ao resgate e os rumos que tomaram a vida de cada um dos sobreviventes. Mais recentemente, o livro foi adaptado para esse filme, que retrata muito bem todos os acontecimentos. 

Me chamou a atenção a qualidade da produção, incluindo a primorosa cena do acidente e o respeito aos fatos reais. Contribuiu muito para a verossimilhança a contratação de atores sul-americanos, com todo o longa-metragem sendo falado em espanhol. O roteiro foi bem sucedido em criar momentos de tensão sem a necessidade de dramatizar exageradamente os acontecimentos. Pudera, o frio extremo, a fome, a perda de amigos e familiares, as incertezas sobre o futuro e outras complicações eram suficientes.

A maior parte da trama se passa no Valle de las Lagrimas, um glaciar que já tinha esse nome antes mesmo da tragédia. No alto das montanhas, o vale está situado entre os vulcões Tinquiririca e Sosneado, nos pés da Serra San Hilário, um paredão de rochas e gelo que ultrapassam os cinco mil metros. Há cinquenta anos atrás, os sobreviventes não sabiam exatamente onde se encontravam e não tinham equipamentos e roupas adequadas para se deslocar pela região.

Atualmente, o ainda remoto local do acidente pode ser visitado em expedições com duração de três dias. As partidas acontecem entre novembro e fevereiro a partir do povoado de El Sosneado, próximo à cidade argentina de Mendoza, famosa pelos vinhos de alta qualidade. Para se ter uma ideia da dificuldade do trajeto, é preciso atravessar quatro rios e os turistas são acompanhados por tropeiros, que guiam mulas levando barracas, esteiras, mantimentos e equipamentos próprios para acampar em altitudes elevadas.

Embora algumas imagens tenham sido gravadas no local, a maior parte das filmagens aconteceu em Sierra Nevada, um dos mais altos pontos europeus, na Espanha. Como se trata de uma região bastante turística pela existência de estações de esqui, ali há uma boa estrutura de hospedagens, que serviram para abrigar de 200 a 300 pessoas que faziam parte da equipe de produção. Foram instalados três sets de filmagens em altitudes diferentes da montanha, cada uma com uma réplica da fuselagem do avião.

Embora eu me lembrasse de alguns dos fatos mais importantes da tragédia, mesmo porque a história já havia sido adaptada para um filme americano. Vivos saiu em 1993. O longa-metragem também é baseado em um livro. Nesse caso, trata-se de Alive: The Story of the Andes Survivors, escrito por Piers Paul Read. Eu não encontrei a obra em português.

Para me aprofundar ainda mais na história, pretendo ler A sociedade da neve, de Pablo Vierci, que traz mais detalhes sobre o caso e as pessoas envolvidas.