Há muito tempo eu planejava uma viagem para Manaus com o objetivo de conhecer tanto a cidade quando os atrativos da Floresta Amazônica. Na capital, acabei focando mais na parte histórica e experiências gastronômicas. Para a selva, busquei os passeios em meio à natureza, mas sem passar por perrengues. Nas minhas pesquisas, encontrei opções para todos os níveis de aventura x conforto, como: passar a noite em uma rede no meio do mato; dormir em quartos compartilhados; ter um espaço reservado; e investir em um serviço diferenciado.

Entre os caros, o destino mais famoso é o Juma Amazon Lodge, que possui bangalôs elevados ao nível da copa das árvores e quartos elegantes. Outras opções para quem busca conforto nessa região são o Amazon Arowana Lodge e o Dolphin Lodge. Eu escolhi esse último por ser mais condizente com o meu orçamento para a viagem, mas sem abrir mão da qualidade.
Comodidades
Como estão em áreas isoladas, essas hospedagens costumam oferecer um regime de pensão completa, que inclui café da manhã, almoço e janta. Eu também levei alguns lanches rápidos como barrinhas de cereal e biscoitos para comer nos intervalos das refeições principais, dando uma disfarçada na fome durante os passeios.

No Dolphin Lodge, as comidas são servidas em estilo buffet, dessas que tudo fica disposto na mesa e você vai servindo à vontade. Mas é preciso estar atento porque eles têm um horário super limitado – o serviço dura cerca de uma hora. A princípio, achei isso estranho. Depois vi que funciona bem, visto que isso ajuda a organizar a saída para os passeios, com todos os hóspedes comendo juntos. Para o café da manhã, já estavam inclusas bebidas quentes e frias, incluindo café, leite, chá e sucos naturais.

Nas outras refeições, as bebidas eram pedidas à parte. Eu costumava pedir um refrigerante ou suco natural na hora do almoço. Para o jantar, às vezes queria um drink para refrescar do calor e dar uma relaxada. Eles vão anotando esses pedidos ao longo dos dias e os valores são acertados ao final da estadia com pagamento em dinheiro. Felizmente, os preços não eram nada abusivos, ao contrário do que costuma acontecer em hotéis de um modo geral.

Também fiquei satisfeito com a qualidade, variedade e sabor das comidas. Embora a base fosse a mesma, sempre tinha alguma coisinha diferente ao longo dos dias que fiquei hospedado por lá. No almoço e no jantar, por exemplo, sempre vinha alguma salada, macarrão, farofa, frango e peixe. Mas iam trocando os ingredientes, preparos, molhos e algum acompanhamento. Também eram servidas sobremesas simples.

No Dolphin Lodge, o restaurante acaba reunindo diversas funções. Além de ser a área de refeição, também é usado como recepção, salão de jogos, bar e área de convívio. Além disso, a internet funciona melhor nesse ponto. Como as janelas estão protegidas por telas, é bom ficar ali quando anoitece e os mosquitos tomam conta da área externa.

Eu aproveitei a internet do hotel para me distrair com o celular, mas também tinha conteúdo para passar o resto da vida lendo porque havia levado o meu Kindle. Fora isso, é possível deixar as tecnologias de lado para uma imersão mais completa na floresta. Para passar o tempo, há alguns jogos e livros disponíveis para uso.

Durante o dia, também dava para tomar um banho refrescante ou tomar sol à beira da piscina de rio. Ela possui uma grade que impede a entrada de animais, algo que entendi como sendo muito importante depois que vi que haviam pequenos jacarés ali pertinho e presenciei a fúria gulosa na pesca das piranhas em um ponto não muito distante.

Outro ponto bom para relaxar é o redário, onde se pode tirar um cochilo no tempo livre entre os passeios da manhã e da tarde. Eu deitei um pouco ali para ler um livro, pois não queria ficar dentro do quarto o tempo todo. Só não dá para ficar ali a partir do anoitecer, visto que os mosquitos começam a incomodar muito.
Conforto
No Dolphin Lodge, todos os quartos possuem vistas para o Rio Paraná do Mamori. São apenas dez habitações, sendo seis chalés e quatro bangalôs, todos com banheiro privativo. Trata-se de um hotel ecológico e rústico, mas sem deixar de lado o conforto.

Eu escolhi o bangalô superior, que fica suspenso em uma estrutura de madeira acima da água quando o rio está cheio, geralmente de abril a agosto. Eu achei engraçado porque tinha a sensação de que ele estava se mexendo, principalmente quando eu andava de um lado para o outro.

Mas nem foi tanto a questão da localização que me fez escolher essa unidade. O negócio é que ela é equipada com ar-condicionado e eu tenho uma certa dificuldade de dormir com o calor, que se mantém intenso mesmo durante a noite. Também achei o quarto amplo e a decoração agradável, com a estrutura e os móveis em madeira. Já os chalés possuem ventiladores.

Como era de se esperar, as janelas são fechadas com redes, podendo ser mantidas abertas. Ainda assim, alguns bichinhos podem entrar no quarto por alguma fresta. O ideal é sempre dormir com o cortinado armado. O banheiro é muito simples, mas esse quarto também tinha como diferencial o chuveiro com água quente. A pressão é fraquinha, mas a temperatura faz diferença para quem não está habituado a tomar banho frio mesmo no calor, como eu.
Wi-fi grátis
Eu tenho plena consciência de que essa é a viagem ideal para se desconectar do mundo exterior e aproveitar a natureza. Ali não há nem sombra de sinal de telefone, então o acesso à internet se limitava aos momentos passados na área comum do hotel.

Eu aproveitava os momentos das refeições para entrar em contato com familiares e amigos, postar alguma novidade nas redes sociais e ler rapidamente as notícias, pois a velocidade não era tão boa e, eventualmente, o wi-fi até parava de funcionar.
Localização
O Dolphin Lodge fica a quase cem quilômetros de distância do centro de Manaus, em uma região totalmente preservada e onde é possível ver botos cor-de-rosa, pássaros, macacos, jacarés e outros animais da região amazônica de forma natural, visto que não são domesticados.
A hospedagem fica na região da cidade de Careiro, a cerca de três horas de viagem da capital. No mapa acima, é possível ver a sua localização e o caminho percorrido para chegar até lá. É importante notar que a bagagem é limitada. Quem estiver com malas grandes ou muitos volumes, precisa deixar o excesso na agência.

A saída de Manaus aconteceu, no meu caso, com o recolhimento na hospedagem e saída de lancha rápida do Porto do Ceasa. Dali percorremos 12 km até o Porto do Careiro da Várzea, onde é feita a transferência para uma van ou micro-ônibus, que seguirá viagem pela estrada. Dali são uns 26 km pela BR 319, depois pega a AM 254 por uns 15 km e termina a parte terrestre pelo Ramal do 14 por mais 16 km. Não precisa fazer as contas: são 57 km dentro do veículo.

Dessa parte, o único momento interessante é passar pelo Encontro das Águas. O Rio Negro, como o próprio nome indica, é mais escuro. O Rio Solimões tem uma cor mais amarronzada. Por uma certa distância, eles seguem sem se misturar, criando um efeito interessante. Na estrada, também paramos rapidamente em um mercado de beira de estrada para quem quisesse comprar algum item que tivesse esquecido ou queria durante a estadia, como protetor solar, repelente de mosquitos e lanches.

Ainda tem mais um trecho de lancha rápida, já no Rio Paraná do Mamori. Essa parte foi mais interessante pela paisagem da Floresta Amazônica, já sendo possível apreciar a fauna e a flora da selva. Todo esse trajeto está incluso no valor da hospedagem e é organizado pela equipe com busca no aeroporto ou hotel da capital amazonense. Tudo dura cerca de três horas e não são feitos transportes a noite por motivos de segurança, principalmente devido à travessia dos rios.
Funcionários
Durante a hospedagem, também são feitos diversos passeios pela floresta. A programação varia de acordo com a extensão da estadia e o acompanhamento é feito sempre com o mesmos funcionários. Como são guias locais, eles entendem muito da região e passam informações relevantes sobre a biodiversidade. Além disso, eles falam outras línguas como inglês e espanhol, já que grande parte dos turistas que ficam por lá são estrangeiros. Enquanto estive lá, vi sul-americanos, franceses, alemães e japoneses.

O transporte para as excursões na selva são sempre feitos em pequenas embarcações, passando pelo rio e seus igapós, como são chamadas as áreas de floresta inundadas. Tanto nos passeios quanto na recepção, o atendimento é exemplar, com muita simplicidade e simpatia. Dá para perceber como se trata de um empreendimento familiar pelo contato direto que temos com as pessoas.
Custo benefício
O Dolphin Lodge é bem mais em conta do que alguns dos hotéis de selva mais famosos da região, mas também não é tão barato quanto os que oferecem quartos compartilhados. Eu escolhi me hospedar aqui por ser um meio termo entre o conforto e preço razoável.

Não se pode negar que é um luxo ter ar-condicionado e chuveiro de água quente em um hotel de selva. Como inclui todo o transporte, refeições durante o dia e passeios pela região, achei que valeu pelo custo-benefício, principalmente se você está viajando com mais pessoas para dividir o quarto. Embora tenha pagamento antecipado, o valor pode ser dividido no cartão e é possível cancelar a reserva com até cinco dias de antecedência.
Como possui poucas unidades e é muito procurado, é preciso fazer a reserva com muita antecedência. Eu comecei as pesquisas meses antes das férias e acabei definindo a data da viagem de acordo com a disponibilidade do hotel, mesmo indo fora da alta temporada e sem nenhum feriado próximo. Isso vale tanto para essa quanto para outras hospedagens da região.
Resumo
+ localidade
+ conforto
+ refeições
+ passeios
+ atendimento
– internet
