Floresta Amazônica – Senta que lá vem história

Embora o foco dos passeios na Floresta Amazônica seja o contato direto com a natureza, também é interessante conhecer a história de sua formação e da vida humana na selva ao longo dos séculos, algo que pode ser melhor passado aos turistas por guias locais. É possível fazer diversos tours saindo de Manaus, mas a experiência fica mais completa com a imersão proporcionada pela hospedagem por alguns dias.

Pesquisar e reservar passeios

Para isso, escolhi ficar no Dolphin Lodge, que possui bangalôs e chalés à beira do rio e inclui todas as refeições e passeios, incluindo a sobrevivência na selva. O hotel fica na região de Careiro, onde também está o Amazon Arowana Lodge. Ali perto, já em Autazes, é possível reservar a mais famosa e exclusiva hospedagem da floresta, o Juma Amazon Lodge.

Mapa da Floresta Amazônica

Ao longo da história, as florestas tropicais aumentaram e diminuíram de tamanho devido às mudanças climáticas, mas conseguiram prosperar mesmo durante as eras glaciais, o que permitiu a sobrevivência e a evolução de uma ampla diversidade de espécies. A Floresta Amazônica se formou há dezenas de milhões de anos atrás, após a mudança das temperaturas tropicais no Oceano Atlântico, que ganhou proporções grandes o suficiente para proporcionar um clima quente e úmido para a bacia amazônica.

Encontro das águas
Encontro das águas

Por volta de 10 milhões de anos atrás, a Amazônia teria sido dividida no meio do continente por uma elevação chamada Arco de Purus, que fez com que as águas fluíssem para os oceanos à esquerda e direita do continente. Isso mudou com o crescimento da Cordilheira dos Andes, criando um enorme lago fechado que acabou por romper tal elevação. Com isso, o fluxo passou a ser único e em direção ao Oceano Atlântico, como vemos até os dias atuais.

Pinturas rupestres | Fotografia: Maurício de Paiva

Evidências arqueológicas encontradas na Caverna da Pedra Pintada, no município paraense de Monte Alegre, mostra que habitantes humanos estiveram presentes na região há mais de 12 mil anos. Por muito tempo, permaneceu a ideia de que a floresta foi pouco povoada, já que seria impossível sustentar um grande número de pessoas apenas pela caça. A agricultura em maior escala seria inviável com um solo tão pobre. Entretanto, descobertas mais recentes dizem que podem ter existido acampamentos densos tanto na costa quanto no interior por volta do ano 1500, chegando a cerca de 5 milhões de pessoas.

Geoglifos no Acre | Fotografia: Diego Gurgel

Nas últimas décadas, descobertas de terras desmatadas datadas entre 0 e 1250 anos, geoglifos (formas com vários metros de extensão feitas em morros ou regiões plantas) vistos em voos na região do estado do Acre e a presença de terra preta mostram que parte da floresta foi moldada através de práticas jardinagem há milhares de anos. Essa terra é resultante do manejo do solo pelos indígenas, mostrando que a Amazônia passou por intervenção humana, também evidenciado pela presença de estradas, pontes e praças de grande porte.

Propriedades das árvores
Propriedades das árvores

Para isso, as comunidades indígenas teriam se organizado de forma cada vez mais elaborada, incluindo a hierarquia entre os moradores e a presença de uma chefia, centralizada na figura do cacique. Para a alimentação, era praticada a caça e pesca intensivas, produção de raízes, armazenamento de alimentos e monocultura com comércio. Por um longo período, o conhecimento sobre a floresta foi adquirido e mantido pelos povos indígenas, especialmente os tupis e araques. Através da observação prática, eles identificaram padrões florísticos e ecológicos, selecionando plantas medicinais e madeiras úteis

Passeio pela mata
Passeio pela mata

No início da década de 1540, Francisco de Orellana percorreu toda a extensão do Rio Amazonas a partir da Cordilheira dos Andes, dando a ele o seu  próprio sobrenome. Para os indígenas, ele era chamado de Paraná-assú e outros nomes. Em seus relatos, o explorador indica ter encontrado guerreiras indígenas, que associou às mitológicas amazonas da mitologia helênica. Por isso, o rio acabou recebendo o nome atual, do qual se derivou a Amazônia.

Presença de indígenas

A dissolução dos povos originários está relacionada à chegada dos colonizadores, com diversas expedições entre os séculos XVI e XVIII, que  invadiram as terras e trouxeram doenças europeias como a varíola. O processo foi atenuado com as missões religiosas, que mostraram interesse em recuperar os conhecimentos indígenas, ainda que parcialmente. Os estudos ganharam novo impulso com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, no começo do século XIX.

Flora Brasiliensis

O trabalho dos naturalistas Martius e Spix na Expedição Austríaca  (1817 e 1835), em parceria com 65 botânicos, resultou na obra Flora Brasiliensis; a Expedição Langsdorff (1824 e 1829) contou com os artistas Aimé-Adrien Taunay e Hércules Florence; e também foram feitas observações importantes em relatos de viajantes e estudos isolados. Na fase seguinte, surgiram centros de pesquisa, museus e outras instituições com o trabalho de profissionais formados em história natural, etnografia, zoologia, geologia, antropologia e botânica.

Cúpula do teatro
Teatro Amazonas

O ciclo da borracha trouxe riqueza para a capital amazonense na segunda metade do século XIX. A comercialização do produto para mercados estrangeiros, que ganhou força após a revolução industrial, causou uma verdadeira revolução econômica, cultural, social e arquitetônica na cidade de Manaus, que passou a ser conhecida, à época, como a “Paris dos Trópicos”. O tema pode ser aprofundado no tour do seringal, que percorre as ruas do centro histórico da cidade e segue com um passeio de lancha até o Museu do Seringal.

Casas de palafitas

Atualmente, a grande biodiversidade da floresta tem sido estudada com objetivos diversos como a preservação da natureza, desenvolvimento de novas tecnologias, valorização da cultura e soluções para a indústria local. Um exemplo é o uso do descarte da pesca que iria para os rios e podem ser transformados em biodiesel, gerando economia de energia elétrica. Também é importante gerar renda para a população local, marcada pela desigualdade social. O turismo tem ajudado e mudado a realidade de muitas famílias.

Torre de Observação
MUSA – Museu da Amazônia

Uma boa forma de conhecer a Floresta Amazônica sem sair da cidade de Manaus é contratando o Tour pelo Jardim Botânico Adolpho Ducke, que tem duração total de quatro horas e inclui o transporte desde a hospedagem, acompanhamento durante a visita, explicações sobre a fauna e flora, trilha pela mata e subida até o topo da torre de observação. Além disso, é feita uma parada no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia para descobrir mais dados curiosos sobre um dos lugares com a maior biodiversidade do mundo.

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