Embora muitas pessoas façam um bate e volta em El Chaltén, eu preferi ficar por lá alguns dias para aproveitar seus atrativos com mais calma. Só assim é possível incluir no roteiro alguns dos destinos mais distantes, que exigem um dia inteiro de caminhada, como é o caso da Laguna Torre. O passeio inclui também a passagem por mirantes, bosques andinos, montanhas, glaciar, rio e cachoeira.
Se você não sentir segurança de ir por conta própria ou estiver fazendo a viagem nos meses mais frios, quando a locomoção se torna mais complexa devido ao acúmulo de neve e gelo, vale a pena pesquisar um passeio guiado.

Eu estava hospedado no Nikeu Aparts e percorri cerca de 600 metros até o local onde se inicia efetivamente a trilha. Quem está com um carro alugado pode estacionar na rua mesmo, próximo ao ponto de partida. A partir dali, já se inicia uma subida leve.

Um painel com informações diversas, incluindo as distâncias até os pontos de interesse encontrados pelo caminho, se encontrava um pouco mais à frente. Acho importante dar uma olhada para se ter uma boa ideia do que está por vir, mas o ideal é estudar o mapa previamente para fazer um planejamento mais detalhado. Para chegar ao atrativo principal, por exemplo, é muito importante começar a caminhada bem cedo, pois são quase 9 km de distância de ida.

Todo o caminho é bem demarcado, não gerando muitas dúvidas de por onde se deve seguir. Em alguns pontos, vemos avisos de que um antigo acesso agora está proibido para que a área possa recuperar a sua vegetação. É importante seguir essas orientações e se manter sempre na via indicada para não se perder.

Levando em conta o começo da caminhada, eu percorri quase 1 km até chegar ao mirante da Cascada Margarida. Dali é possível avistar o cânion criado pela passagem do Río Fitz Roy, que passa por esses vales. Embora o paredão seja impressionante, a queda d’água em si chama pouco a atenção, talvez por ser vista de muito longe. De fato, eu tive que ficar procurando por um tempo até encontrá-la, ainda mais com a sombra do morro prejudicando a visão.

A distância é indicada a cada quilômetro percorrido com placas distribuídas pelo caminho, o que dá uma boa noção do avanço. Não é preciso ter muita pressa, principalmente nessa primeira parte, que tem uma subida constante e acaba cansando mais. Mas também não dá para ir muito lentamente, pois é importante manter um ritmo adequado para ter tempo de aproveitar os atrativos.

Desde a cascata, andei mais 2 km até chegar ao Mirador del Cerro Torre. Para o passeio valer a pena, acho que a pessoa tem que vir pelo menos até esse ponto, que tem uma vista realmente impressionante da montanha ao fundo, que alcança 3.133 metros de altura. Essa é a segunda área mais alta de todo o Parque Nacional los Glaciares, ficando atrás somente do Monte Fitz Roy.

Parei por um tempo nessa área para descansar um pouco, ficar um tempo admirando a beleza da paisagem e tirar várias fotos. Ali também tem um banheiro que, embora bastante rústico, permite fazer as necessidades com alguma privacidade e sem prejudicar o meio ambiente.

Eu aproveitei para comer uma barrinha de cereais e me hidratar – recomendo levar lanches e dois litros de água por pessoa, já que o passeio dura o dia inteiro e exige certo esforço físico. Depois de relaxar por alguns minutos, dei sequência à trilha, começando a descer em direção ao vale. Eu fiz o passeio nas primeiras semanas de abril, já no começo do outono, e as folhagens estavam com tons que variavam do amarelo ao vermelho, criando um belo contraste com o céu azul e as montanhas nevadas.

Além disso, estava fazendo um pouco de frio nas primeiras horas da manhã, sendo possível observar que o orvalho nas plantas se encontrava congelado. Não é a toa que a alta temporada nessa região é nos meses mais quentes do ano e, mesmo assim, é preciso estar preparado para enfrentar baixas temperaturas devido aos ventos intensos.

A ideia é usar roupas em camadas, que podem ser retiradas aos poucos à medida que se começa a sentir calor tanto pelo esforço da caminhada quanto pela variação nos termômetros ao longo do dia. Também é recomendado usar boné ou chapéu e não se esquecer do protetor solar. Por fim, um bom e confortável calçado de trilha vai ajudar na estabilidade e preferir lesões.

Eu dei sorte e peguei um clima agradável em todos os dias que passei na região, com o céu bem limpo na maior parte do dia. Mas o tempo é meio imprevisível, podendo mudar muito rapidamente, talvez devido a ocorrência dos ventos. Como estamos em uma altitude considerável, é comum que nuvens baixas e neblina impeçam que as montanhas sejam vistas.

Essa parte da trilha após o mirante é muito agradável. Depois de uma parte com descida, tem-se uma agradável caminhada no bosque, praticamente todo plano, por entre árvores que proporcionam uma boa sombra. Importante estar atento às placas, já que há uma bifurcação. Basta seguir à esquerda para ir em direção à Laguna Torre.

Com mais alguns quilômetros, cheguei às margens do Río Fitz Roy, que corria com as águas bem agitadas entre as pedras. Como não podia deixar de ser, coloquei a mão ali só para confirmar que se trata de uma água bem gelada e segui andando, pois já estava chegando ao destino final.

Cerca de 550 metros depois, alcancei o Campamento de Agostini, onde se concentram as barracas de quem passa a noite no local. Tinha pouca gente ali essa época do ano, quando o número de turistas é bem mais baixo que nos meses de verão. Importante notar que os ventos fortes aumentam o risco de queda de galhos de árvores. Além disso, se há um desprendimento grande do gelo do glaciar, a área pode ser alagada rapidamente pelas águas do lago.

Dali até a Laguna Torre, são apenas 350 metros de caminhada, totalizando uns 8.5 km desde o começo da trilha. O tempo médio gasto é de três horas, variando de acordo com o ritmo de caminhada e o tempo nas paradas de descanso. Eu levei um pouco menos que isso, mesmo fazendo muitas pausas para tirar fotos, e cheguei lá por volta de meio dia.

Parado ali para admirar a paisagem, o corpo foi esfriando e deu para sentir um pouco do frio que estava fazendo. Além dos grandes pedaços do glaciar, a superfície do lago se encontrava toda coberta por uma camada de gelo fina. Não demorou muito para eu vestir novamente o casaco e colocar um gorro na cabeça.

Depois de ficar sentado um tempinho na margem do lago, comendo a fruta e o sanduíche natural que eu tinha levado, já que no caminho não tem nenhum tipo de estrutura de apoio, subi pela elevação que fica ao lado direito para ter uma vista superior.

Ali também é onde começa uma pequena trilha alternativa que muitas pessoas que visitam o local não fazem por não pesquisar e planejar com antecedência. Ou talvez falte disposição depois de já ter caminhado tanto para chegar ao lago, já que são mais 2 km para chegar até o mirante.

Quase chegando lá, eu ouvi um barulho de água correndo e resolvi investigar. Acabei encontrando uma entradinha no mato que dava para uma pequena e agradável cachoeira, as Cascadas de Solcito. Não é preciso fazer nenhum desvio considerável para chegar até ela, só andar uns 30 metros mesmo.

Fazer essa trilha alternativa valeu muito a pena, pois do mirante tem uma vista melhor do Glaciar Maestri, que funciona como um rio de neve compactada descendo vagarosamente pelas encostas das montanhas até alimentar as águas do lago. Com alguma paciência e sorte, dá até mesmo para ver o momento em que os blocos de gelo se desprendem.

Eu fiquei um pouquinho ali no Mirador Maestri, mas percebi que as nuvens estavam começando a se acumular no céu e já era o momento de começar a fazer o caminho de volta, num total de mais de 10 km até a cidade. Como são mais três horas de caminhada, agora já com as pernas bem cansadas, é importante se programar bem para chegar à cidade ainda com a luz do dia.

A volta foi mais rápida porque não fiz paradas para comer, descansar ou tirar fotos. Em compensação, o orvalho e as placas de gelo que eu observei de manhã já tinham se descongelado e formado poças de lama em diversos pontos. Felizmente, eu estava com um calçado de trilha à prova d’água, então não molhei meus pés e tampouco me importei com a sujeira, já que poderia limpar facilmente quando chegasse no Nikeu Aparts.
