Laguna de los Tres e Monte Fitz Roy

El Chaltén – Fitz Roy e Laguna de los Tres

O Monte Fitz Roy, é o principal cartão postal para quem visita El Chaltén. Aliás, ele é também conhecido pelo mesmo nome da pequena cidade que, na língua aonikenk ou tehuelche significa “montanha fumegante” ou “montanha azul”. Na Argentina, a cartografia oficial tem usado mais o nome ancestral, enquanto o Chile segue adotando a homenagem a Robert Fitz Roy, capitão do navio HMS Beagle, que navegou pela região em 1834.

Monte Fitz Roy
Monte Fitz Roy

Embora não esteja entre as montanhas mais altas do mundo, com 3375 metros de altitude acima do nível do mar, o Fitz Roy é considerado um grande desafio para os alpinistas devido aos seus grandes paredões verticais e as condições climáticas da região. Obviamente, a maioria dos turistas não vai até lá para escalar, mas para fazer trilhas que levam a mirantes com vistas privilegiadas do monte. Alguns deles ficam na própria cidade e são de fácil acesso. Mas, mesmo nesses casos, é preciso ter um pouco de sorte para pegar um dia de céu limpo.

Estacionamento público no início da trilha
Estacionamento público no início da trilha

Como são mais de 10 km de distância até a lagoa que fica aos pés da montanha, essa é uma trilha de dificuldade alta que toma o dia inteiro. Eu parti do Nikeu Aparts e é importante considerar a localização da acomodação porque faz diferença. A opção mais cômoda é para quem está com um carro alugado, que pode ser deixado no estacionamento onde começa a caminhada, sem custos adicionais. De qualquer maneira, é importante começar o dia bem cedo e fazer um bom planejamento.

Água potável
Água potável

As minhas maiores preocupações foram com a alimentação e roupas adequadas. Perto do estacionamento tem uma fonte de água potável e carregador de celular com energia solar. Recomendo levar dois litros de água por pessoa e lanches leves. É importante se vestir em camadas, com acessórios como touca e luva. Eu estava com um casaco corta-vento e à prova d’água, além de sapatos adequados para trilha. Por fim, não podia esquecer de passar bastante protetor solar, mesmo nos dias mais frios.

Painel com informações gerais
Painel com informações gerais

É fácil identificar o ponto de onde parte a caminhada porque há um grande painel com informações importantes como a distância a ser percorrida, o tempo médio gasto, o nível de dificuldade em diferentes trechos, o que é permitido e proibido, a elevação do terreno e outros detalhes. Vale a pena dedicar uns minutinhos para ler com atenção e até tirar uma foto para consultar ao longo do dia.

Deixando a cidade para trás
Deixando a cidade para trás

Logo na partida já começamos o processo de subida do morro, que se extende pelos primeiros quilômetros. Ainda que não seja uma inclinação muito intensa, é o suficiente para tornar a caminhada um pouco cansativa. Logo a cidade vai ficando para trás, mas a maioria das pessoas nem vira para olhar porque o foco é seguir em um ritmo bom.

Mirador Río de las Vueltas
Mirador Río de las Vueltas

Eu fiz algumas paradas rápidas para tirar fotos, como no Mirador Río de las Vueltas, que fica a uns 660 metros do ponto de partida e não precisa fazer nenhum grande desvio para chegar. Como o próprio nome indica, o curso d’água segue um caminho tortuoso. Quem estiver interessado no turismo de aventura pode navegar pelo fluxo mais tranquilo com o tour de caiaque ou enfrentar  as correntezas mais fortes com o rafting.

Placa marcando a distância percorrida
Placa marcando a distância percorrida

Logo segui pelo trajeto original, sempre observando as placas que indicam a distância já percorrida para ter uma noção melhor de onde me encontrava. Também existem alguns pontos de referência pelo caminho, como lugares em que a trilha se divide e leva a diferentes atrativos. No primeiro deles, vira-se à esquerda para chegar em uma lagoa, enquanto à direita tem um mirante com vista para o Monte Fitz Roy. Posteriormente, o caminho se junta novamente, então dá para passar nos dois lugares fazendo um círculo.

Vista às margens do lago
Vista às margens do lago

Eu preferi ir pelo caminho que leva até a Laguna Capri, que é o destino final das pessoas que não tem disposição ou tempo para fazer a trilha completa. São 4 km para chegar até lá, gastando uma média de 1h30 na ida. Quando cheguei, o local estava tomado por uma névoa intensa que foi se dissipando ao longo da manhã e logo pude ver o monte, ainda distante. Ali também fica um acampamento onde é permitido montar barracas próprias.

Pássaro carcará
Pássaro carcará

Nessa área, tive a oportunidade de ver alguns animais silvestres como o belo pássaro carcará e uma raposa. Como se pode imaginar, eles não devem ser alimentados ou perturbados, mas dá para tirar algumas fotos. A flora também é exuberante, mesmo com o tempo já estando mais frio no mês de abril.

Gelo no solo
Gelo no solo

Além da névoa, de manhã estava mais frio e era possível ver o orvalho congelado nas plantas. Em diversos trechos, a terra estava endurecida com camadas de gelos que, à medida em que o sol foi subindo e esquentando o ambiente, se transformou em grandes poças de lama. Felizmente eu estava com um calçado impermeável.

Poça de lama
Poça de lama

Também é bom dizer que todo o caminho é bem demarcado, já que a circulação de pessoas é bastante intensa. Eu fiz o passeio no começo do outono, com as folhas em tons laranja e amarelos já caindo das árvores. Mesmo estando fora da alta estação, que acontece nos meses de férias de verão, tinha bastante gente fazendo a trilha.

Mirador na trilha
Mirador na trilha

Algumas pessoas que fazem essa trilha acabam não conseguindo ver nada.  Essa região é caracterizada pelo tempo imprevisível, mas no meu caso até que deu certo. Apesar de ter amanhecido com a névoa forte, não demorou para  a paisagem ser completamente transformada com a saída do sol, que se manteve durante o restante do dia. Alguns pontos mais elevados são particularmente bons para tirar fotos da paisagem.

Setas de atrativos
Setas de atrativos

Logo ao chegar na cidade, passei pelo balcão de informações da rodoviária para pegar um mapa e confirmar se os passeios poderiam ser feitos tranquilamente por conta própria. Para essa trilha, basta seguir sempre as setas para a Laguna de los Tres, mas há indicações para outros atrativos como o mirante do Glaciar Piedras Blancas, as Lagunas Madre e Hija e a Laguna Torre.

Glaciar Piedras Blancas
Glaciar Piedras Blancas

Embora seja tudo bem sinalizado e eu tenha me sentido seguro com relação ao caminho a ser percorrido, as informações nessas bifurcações são limitadas. Ali não diz, por exemplo, quais são as distâncias a serem percorridas para chegar a cada destino. Eu já havia pesquisado com antecedência e sabia que os desvios eram bem longos, então me mantive no objetivo principal de chegar até o monte.

Quem quiser ter uma noção melhor da distribuição desses mirantes, glaciares, montanhas e lagoas na região pode consultar o mapa interativo acima, que eu usei para planejar meus passeios nos dias que fiquei na cidade. Estão marcados com ícones os lugares que eu citei nas minhas postagens.

Lago no bosque
Lago no bosque

Uns 2,5 km depois da Laguna Capri, ou 6,5 km do início da caminhada, passei por um local que tinha um bom acúmulo de água e não estava marcado no mapa como nenhum ponto especial, mas dava boas fotos da paisagem com o reflexo das montanhas. Eu sei que é um clichê dizer isso, mas o trajeto já é um passeio maravilhoso por si só, passando por bosques com árvores altas, campos mais abertos e diferentes pontos de vista.

Campamento Poincenot
Campamento Poincenot

Os viajantes mais aventureiros podem passar a noite no Campamento Poincenot, área em que é permitido montar barraca própria. Considerando que se trata de uma área de proteção ambiental, existem algumas regras como: não acender fogueiras (dá para usar fogareiro portátil); não lavar nada nas diretamente nas águas dos lagos e rios; evitar ruídos altos e fotografias com flash; etc.

Reserva de passeio ou atração

Além de ir por conta própria, quem quiser dormir por lá tem a opção de fazer a Trilha de 2 dias pelo monte Fitz Roy de forma guiada, garantindo um percurso mais tranquilo e bem planejado. Como tem um tempo maior, dá inclusive para aproveitar melhor cada um dos atrativos pelo caminho, além de ir a lugares que desviam da trilha principal.

Banheiro do acampamento
Banheiro do acampamento

O local também conta com banheiros, mas confesso que o estado de limpeza não era dos mais adequados e o cheiro estava inebriante, para dizer o mínimo. Eu não sei informar se as pessoas estavam realmente usando essas instalações ou fazendo suas necessidades pelo mato, o que não é permitido. Mas, de modo geral, não vi lixo espalhado e achei bem organizado.

Río Blanco
Río Blanco

O acampamento fica bem perto do Río Blanco. Quem segue pela trilha precisa fazer a travessia por uma ponte de madeira, que serve como ponto de referência. Ali é uma boa opção para quem precisa reabastecer suas garrafinhas, tanto na ida quanto na volta, já que a água é potável. Como não pode lavar nada no rio, o recomendado é coletar a água em um recipiente e a usar a pelo menos trinta metros de distância. 

Abrigo de madeira
Abrigo de madeira

Logo depois da travessia, tem um abrigo de madeira que pode ser usado para se proteger do clima intenso. Eu tive sorte, mas os problemas mais comuns são: vento intenso, que faz a sensação térmica despencar; a chuva que torna o caminho mais escorregadio e perigoso; a neve, que pode se acumular e até esconder irregularidades no solo, pedras e outros problemas na trilha; e quando a água acumulada no solo vira gelo, o trajeto fica escorregadio e perigoso.

Subida intensa
Subida intensa

Esse é o último ponto de descanso antes da parte mais difícil da trilha. Uma placa ali perto possui diversos alertas que ressaltam a necessidade de estar em boas condições físicas; usar tênis apropriado para caminhada em terrenos instáveis; evitar fazer a trilha em dias de condições climáticas extremas como muito vento, chuva e neve; o ganho de altitude; e o tempo necessário para o regresso. Além disso, você já chega a esse ponto muito cansado.

Vista na chegada
Vista na chegada

O último quilômetro é particularmente intenso, com uma subida íngreme que precisa ser feita em zigue-zague por um terreno com pedras soltas. Além disso, ali estavam acumulados montinhos de neve e gelo que tornavam o local escorregadio, sendo necessário proceder com mais cuidado. Obviamente, todo o esforço é recompensado por uma vista deslumbrante quando se chega ao topo.

Laguna de los Tres
Laguna de los Tres

Ainda é necessário descer pela encosta do morro por uns 150 metros para chegar às margens da Laguna de los Tres. A 1.200 metros de altitude, ela fica na base do Monte Fitz Roy. Como eu peguei um dia bonito e sem vento, ele estava perfeitamente refletido nas águas e deu para tirar fotos muito boas. Outras pessoas relatam que chegaram lá e encontraram nuvens bloqueando a montanha.

Placas de gelo
Placas de gelo

Em alguns pontos, junto às pedras, era possível pegar blocos de gelo que se formaram na superfície do lago. Não é a toa que a alta temporada nessa região esteja concentrada nos meses mais quentes do ano. Como parei por um tempinho para descansar, voltei até mesmo a sentir um pouco de frio, pois o corpo perdeu o aquecimento do esforço da caminhada e da subida.

Lanche leve
Lanche leve

Ao todo, foram cerca de quatro horas para chegar até o destino final. Isso sem considerar a caminhada opcional até a Laguna Sucia, que pode ser vista por um mirante que fica a apenas 250 metros. Além disso, aproveitei para fazer um lanche leve, com fruta e sanduíche natural. Também é necessário ter um saquinho para guardar todo o lixo, que deve ser levado de volta para ajudar na preservação.

Descida do morro
Descida do morro

Depois de um tempo por lá, é preciso começar todo o processo para voltar até El Chaltén. Eu confesso que tive uma certa ilusão de que seria mais fácil, com aquele pensamento de que para baixo todo santo ajuda. A realidade é que o corpo já estava exausto e a descida nessa parte com pedras mais soltas é difícil e força bastante as pernas. Além disso, é preciso manter um ritmo constante e calcular bem o tempo para chegar à cidade ainda com o dia claro.

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