Embora eu tivesse pesquisado sobre El Chaltén e feito o meu planejamento para percorrer algumas das trilhas mais procuradas pelos arredores da cidade, foi somente quando cheguei lá que descobri mais detalhes e compartilho aqui a minha experiência.A principal dúvida que eu tinha é se seria possível fazer tudo por conta própria, o que foi confirmado já no balcão de informações ao turista que fica na rodoviária.
Ali eu peguei também um folheto que destacava as principais trilhas, com informações como nível de dificuldade e distância, o que ajudou bastante. Como de costume, fiz o meu próprio mapa interativo, onde destaquei também alguns pontos de referência encontrados pelo caminho, além de restaurantes e onde fiquei hospedado. Para ver mais detalhes, basta aproximar com o zoom.

Eu parti do Nikeu Aparts, a cerca de um quilômetro do início da trilha em si. É importante considerar essa distância da acomodação porque faz diferença, a não ser que você esteja com um carro alugado, que pode ser deixado no estacionamento sem custos adicionais.

É fácil identificar o ponto de onde parte a caminhada porque há uma grande placa com informações importantes como a distância a ser percorrida, o tempo médio gasto, o nível de dificuldade em diferentes trechos, o que é permitido e proibido, a elevação do terreno e outros detalhes. Vale a pena dedicar uns minutinhos para ler com atenção. Ali perto também tem uma torneira com água potável e tomada para carregar o celular usando energia solar.

Até a Laguna Capri, são quase 4 km de trilha com dificuldade média. Logo na partida já começamos o processo de subida do morro. Ainda que não seja uma inclinação muito intensa, é o suficiente para tornar a caminhada um pouco cansativa. Logo a cidade vai ficando para trás, mas a maioria das pessoas nem vira para olhar porque o foco é seguir em um ritmo bom, principalmente se o objetivo for alcançar um dos pontos mais distantes da trilha. A Laguna de Los Tres, aos pés do famoso Monte Fitz Roy, fica a mais de 10 km de distância.

Eu fiz algumas paradas rápidas para tirar fotos, como no Mirador Río de las Vueltas, que fica a uns 660 metros do ponto de partida e não precisa fazer nenhum grande desvio para chegar. Como o próprio nome indica, o curso d’água segue um caminho tortuoso e passa por uma única área urbana, El Chaltén. O rio começa com uma vazão do Lago del Desierto, que fica a cerca de 30 km do povoado. No fim do verão, ele está com seu volume mais alto.

Quem estiver interessado no turismo de aventura pode navegar pelo fluxo mais tranquilo com o tour de caiaque ou enfrentar as correntezas mais fortes com o rafting. Quem não se sentir seguro para fazer a Trilha da Laguna Capri por conta própria também pode contratar o passeio guiado.

Logo voltei para a trilha original e segui a caminhada, sempre observando as placas que indicam a distância já percorrida para ter uma noção melhor de onde me encontrava. A maior parte dos 4 km até a chegada ao destino final é de uma subida leve e constante.

Uma referência próxima é o ponto de encontro onde a trilha se divide em duas. À esquerda fica a lagoa, enquanto à direita tem um mirante com vista para o Monte Fitz Roy. Posteriormente, o caminho se junta novamente, então dá para passar nos dois lugares fazendo um círculo.

Também é bom dizer que todo o caminho é bem demarcado, já que a circulação de pessoas é bastante intensa. Eu fiz o passeio no mês de abril, já no começo do outono, com as folhas em tons laranja e amarelos caindo das árvores. Mesmo fora da alta estação, que acontece nos meses de férias de verão, tinha bastante gente indo no mesmo sentido.

Eu me senti seguro com relação ao caminho a ser percorrido porque é bem sinalizado, então não teria problemas se a trilha estivesse bem vazia. Algumas placas informam, por exemplo, os trechos que antes estavam abertos para passagem e agora estão isolados para que a vegetação se recupere.

Eu saí bem cedo e nesse dia havia uma névoa densa nos pontos mais altos, o que me deixou um pouco apreensivo porque poderia não conseguir ver nada. De fato, o local parecia saído de um filme de terror. De certa forma, esse clima tem a sua beleza bucólica, mas não era para isso que eu tinha saído de casa e andado vários quilômetros.

Mas a previsão do tempo dizia que o tempo abriria mais tarde e não demorou para que o sol aparecesse, transformando completamente a paisagem. Alguns lugares mais elevados são particularmente bons para tirar fotos, então vale a pena explorar um pouco as margens da Laguna Capri.

O tempo gasto vai depender de cada um, mas acredito que a média para chegar até lá fique em torno de 1h30. Como eu já tinha saído de casa há um bom tempo, aproveitei a parada e fiz um lanche leve. Muito importante ter algo de comer e pelo menos um litro de água. Também é necessário ter um saquinho para guardar todo o lixo, que deve ser levado de volta para ajudar na preservação.

Ali também fica o Campamento Laguna Capri, onde muitas pessoas montam barracas e passam a noite. Considerando que se trata de uma área de proteção ambiental, existem algumas regras como: não acender fogueiras (dá para usar fogareiro portátil); não lavar nada nas diretamente nas águas da lagoa; evitar ruídos altos e fotografias com flash; etc.

O local também conta com banheiros, mas confesso que o estado de limpeza não era dos mais adequados e o cheiro estava inebriante, para dizer o mínimo. Eu não sei informar se as pessoas estavam realmente usando essas instalações ou fazendo suas necessidades pelo mato, o que não é permitido. Mas, de modo geral, não vi lixo espalhado e achei o acampamento bem organizado.

Mesmo ficando na área da lagoa por pouco tempo, tive a oportunidade de ver alguns animais silvestres, como o belo pássaro carcará e uma raposa. Como se pode imaginar, eles não devem ser alimentados ou perturbados, mas dá para tirar algumas fotos. A flora também é exuberante, mesmo com o tempo já estando mais frio.

Alias, imagino que passar a noite por lá deve ser uma experiência muito interessante, mas é preciso um bom preparo. Só de parar a caminhada por um tempo, eu já tive que colocar novamente o casaco. Além disso, os ventos fortes e a imprevisibilidade climática são características típicas da região. Mesmo para a trilha, é importante se vestir em camadas, levando acessórios como touca e luva. Eu estava com um casaco corta-vento e à prova d’água, além de sapatos adequados para trilha. Por fim, não se esqueça de passar bastante protetor solar, mesmo nos dias mais frios.

Com uma boa visibilidade, o Monte Fitz Roy se destaca na paisagem. Eu comecei a trilha bem cedo justamente para fazer a caminhada completa e chegar até a Laguna de Los Tres, que fica uns 6 km mais para frente e tem um trecho bastante intenso de subida ao final. Por isso, não deu para ficar muito tempo curtindo a lagoa. Foi só o tempo de um descanso e seguir caminhando. Nas proximidades também estão outros atrativos, como a Laguna Madre e a Laguna Hija, que eu não cheguei a conhecer.