Eu cheguei em El Chaltén no início da tarde e já queria aproveitar para fazer alguma das trilhas mais curtas, mesmo porque estava fazendo um tempo bem agradável, com o céu limpo permitindo ver até mesmo as montanhas mais distantes. Os passeios mais rápidos são as subidas nos mirantes que ficam próximos à cidade.

Primeiro eu almocei para dar o horário de entrada na hospedagem e, depois, fui até o Nikeu Aparts para deixar as malas. Em uma breve conversa com o dono do local, me foi sugerido ir ao Mirador del Paredón, que fica a cerca de setecentos metros de distância e tem uma vista até melhor que os outros mirantes mais famosos entre os visitantes.

O ponto de partida da caminhada é uma ponte que atravessa o Río de las Vueltas. Como o próprio nome indica, o curso d’água segue um caminho tortuoso e passa por uma única área urbana, separando o povoado de El Chaltén de uma cadeia de montanhas. Chegando lá, eu fiquei um pouco na dúvida para onde ir. Mas, como eu estava com acesso à internet móvel, dei uma olhada no mapa e segui pelo rumo correto.

Boa parte dessas águas tem origem no derretimento da neve no extremo norte do Parque Nacional los Glaciares, responsável pela preservação dos campos de gelo, que representam a terceira maior reserva de água doce congelada do mundo. O rio começa com uma vazão do Lago del Desierto, que fica a cerca de 30 km do povoado. No fim do verão, ele está com seu volume mais alto. Quem estiver interessado no turismo de aventura pode navegar pelo fluxo mais tranquilo com o tour de caiaque ou enfrentar as correntezas mais fortes com o rafting.

Após atravessar a ponte, basta seguir à direita acompanhando a margem do rio. Embora não tenha placas indicativas, a trilha é bem demarcada em meio ao bosque de lengas, como são chamas as árvores predominantes na região. Por cerca de 1 km, a caminhada é bem tranquila e majoritariamente plana. Ainda assim, é bom andar com atenção porque há pedras, troncos caídos e raízes altas pelo caminho.

No finalzinho desse trecho, saí do bosque e passei a andar em um campo mais aberto – sempre importante lembrar de usar protetor solar, mesmo em dias frios, pois a incidência dos raios é bastante intensa. A trilha continuava bem evidente em meio ao gramado seco do final de outono e indicava uma curva à esquerda para dar a volta e subir pela parte de trás do paredão.

Embora seja conhecida como a capital do trekking, muitas outras atividades podem ser realizadas nas proximidades da comunidade. Durante esse trajeto, por exemplo, pude ver diversas pessoas fazendo escalada no paredão com uns 200 metros de altura. Obviamente essa é uma opção para quem já tem bastante conhecimento na prática.

Quando começou a subida pela trilha, achei a caminhada bem intensa. Não é um trecho muito longo, mas certamente é cansativo para quem não tem costume de fazer esse tipo de exercício com frequência. Reforço a necessidade de levar pelo menos um litro de água e algum lanche.

A primeira vista que eu tive lá de cima foi do Lago Viedma, alimentado pelo glaciar de mesmo nome. Com um espelho d’água de 1088 km2, é o maior lago argentino formado pelo desgelo dessa neve compactada que se acumula nas encostas das montanhas. Antes dele, é possível ver as curvas do rio e a estrada que dá acesso ao povoado.

Continuando a subida, já mais leve, é possível ver o povoado de El Chaltén por completo. Seu nome é uma referência à colina próxima, que era assim chamada pelos povos aonikenk ou tehuelche. A palavra pode ser traduzia como “montanha fumegante” ou “montanha azul”. Na cartografia original argentina, o monte é mais comumente chamado como Chaltén, enquanto Fitz Roy tem sido mais adotado pelos chilenos e acabou se popularizando.

De fato, a vila fica próxima do famoso Monte Fitz Roy, assim batizado por Perito Moreno em homenagem ao capitão da primeira embarcação que cruzou o rio Santa Cruz, em 1834. Com 3405 metros de altitude, esse é o atrativo mais famoso da região. Subir a montanha em si é extremamente difícil, tanto pelos seus paredões praticamente verticais quanto pelas condições climáticas da região. Mas visitantes menos experientes costumam fazer a trilha até a Laguna de los Tres, que fica aos seus pés.

Para quem tem menos tempo e disposição, a subida ao Mirador del Paradón já é o suficiente para ter belas vistas do local. Também vi por ali o famoso voo dos condores, aves de porte avantajado típicas da Cordilheira dos Andes que são identificados pelas suas penas escuras pelo corpo, pescoço branco e cabeça nua. Depois de um tempo lá em cima para admirar a paisagem e descansar o corpo, iniciei o processo de descida até a cidade pelo mesmo caminho feito na ida.
Vale a pena dar uma estudada no mapa interativo acima, onde anotei as trilhas que fiz durante a minha passagem por El Chaltén, além da hospedagem, transporte e opções gastronômicas. Para ver mais detalhes, basta aproximar com o zoom.