Título original: The deepest breath
Ano: 2023
Direção: Laura McGann
É interessante assistir a documentários porque eles nos dão a oportunidade de conhecer ou aprofundar em determinados assuntos e fatos reais com os quais não temos muito contato. Nesse caso, por exemplo, até já sabia que existia o mergulho livre. Mas, na minha cabeça, era apenas uma forma diferente de observar animais marinhos.

Eu não tinha ideia da sua prática em competições esportivas ou que, além do mar, também incluía diferentes ambientes como piscinas, lagos e rios. Além disso, há modalidades variadas dependendo do tipo de equipamento usado ou o objetivo a ser alcançado. No caso desse filme, o foco maior é na busca pelo recorde de maior profundidade no oceano, sem uso de oxigênio e nadadeiras.

Mas a dificuldade vai muito além de interromper a respiração por alguns minutos, contando somente com o ar dos pulmões. A pressão exercida pela água se multiplica à medida que o corpo desce a profundidades maiores, o que traz diversas consequências físicas imediatas: o esforço que exige mais do coração e comprime o pulmão, entre outras coisas. O resultado são blackouts (quando o corpo simplesmente desliga), danos cumulativos e até mesmo mortes.

O problema é que os atletas vivem em um ambiente de muita competição que, muitas vezes, os levam a ir além do limite para alcançar um objetivo e superar os concorrentes. À medida que se aproximam de uma conquista com grande repercussão, a situação fica ainda mais perigosa, pois mexe muito com o lado emocional.

É o caso de um dos destaques do longa-metragem, a Vertical Blue, competição anual que acontece em Long Island, nas Bahamas, com atletas de elite de todo o mundo sendo convidados a participar. O nível de excelência é alto, tanto que vários recordes nacionais e mundiais são alcançados no local.

É justamente esse o objetivo de Alessia Zecchini. Nascida em Roma, na Itália, ela se interessou pela prática do mergulho livre desde criança e logo começou a treinar para participar competições. No meio desse processo, surgiu a determinação de uma limitação de idade para as competições, que passaram a exigir que os atletas fossem maiores de dezoito anos devido aos riscos envolvidos. Apesar do contratempo, ela não abandonou seu sonho e continuou a se dedicar à prática.

Enquanto isso, o jovem irlandês Stephen Keenan buscava um propósito para a sua vida em viagens pelo mundo. Sempre interessado pela natureza, ele estudou microbiologia e viajou por países diversos na África, indo ao Congo, Etiópia, Serra Leoa, Nigéria e Guinea. Eventualmente, também se envolveu com o mergulho livre e chegou a bater recordes para o seu país. Mas, após um grave blackout, passou a direcionar seus esforços à prática segura do esporte.

Eventualmente, seus caminhos se cruzaram: ela como atleta competidora em busca do recorde mundial e ele como instrutor de segurança em diversas provas ao redor do mundo. Além do trabalho que passaram a realizar juntos, eles iniciaram um relacionamento amoroso.

Com isso, Alessia decidiu viajar até Dahab, no Egito, onde Stephen havia se estabelecido e aberto uma escola. Ali fica o Blue Hole, um dos lugares mais mortais para a prática do mergulho livre, já tendo tirado a vida de mais de cem pessoas. Há até mesmo um paredão com homenagens às pessoas que pereceram por ali.

O documentário segue a trajetória de vida dos dois enquanto passam por diversos destinos do mundo, como Kalamata, na Grécia. Porém, o seu alcance vai além da vida privada dos personagens, apresentando a modalidade esportiva e, principalmente, os riscos envolvidos. Aliás, achei bem corajoso colocar, já na primeira cena, a imagem forte de um problema de saúde decorrente do mergulho.

Apesar dos perigos, que me deram bastante agonia e podem gerar gatilhos em quem tem medo de se afogar, é inegável a beleza dos lugares mostrados, principalmente as praias cinematográficas. A maioria dos destinos eu ainda não conheci e me deu mesmo vontade de viajar pelo mundo. A Irlanda, por exemplo, está nos meus planos há bastante tempo.

Além das imagens feitas durante os eventos esportivos, o filme conta com um bom material de vídeos caseiros, além das tradicionais entrevistas feitas com diversas pessoas envolvidas. Estão ali os próprios personagens principais, seus familiares e amigos, outros atletas e profissionais da área. O resultado é um panorama bastante completo sobre o esporte, uma viagem ao redor do mundo e passagens bastante emocionantes.